PRÓLOGO

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São Paulo, Brasil

Treze anos atrás...

— Lily, olhe para mim, minha estrelinha.

Meu pai estava sentado ao meu lado, enquanto o carro ia rápido por uma estrada cheia de árvores tão altas e cheia de folhas que eu mal conseguia olhar pela minha janela até o topo, com certeza algumas dela tocavam o céu e brincavam com algumas nuvens. Eu queria sentir também as nuvens, queria saber se elas eram tão macias como parecia. Era um sonho bobo, uma coisa de criança, mas eu tinha certeza de que elas tinham gosto de algodão doce.

— Oi, papai.

Olhei em direção ao meu pai, que sacudiu a cabeça agitado. Seus olhos piscaram e ele abriu para mim um sorriso, não um daqueles sorrisos que eu tanto amava e fazia o meu coração aquecer e dar pequenos pulinhos, de me fazer a menina mais feliz e sortuda do mundo. Que podia ser comparado a um grande pedaço de bolo de chocolate bem molhadinho ou uma bola de sorvete de morango coberto com confetes, minhas sobremesas favoritas. O sorriso dele era o mais lindo do universo, mas esse estava triste e gelado. Como se o bolo tivesse estragado e o sorvete derretido.

Papai passou as mãos por suas pernas cobertas por sua calca social cinza, depois apertou os dedos e os enfiou nos cabelos. Ele puxou uma respiração funda e fechou os olhos, ficou assim por alguns segundos e quando os abriu, o azul deles parecia um mar escuro e frio, como o de Ubatuba quando íamos nas férias de julho.

— Venha aqui, minha pequena estrela. Sente no meu colo — ele disse, batendo em seus joelhos com a mão.

Tirei o meu cinto de segurança e pulei em seu colo. Papai me apertou em seus braços tão forte que me senti esmagada em seu terno bonito, mas ao invés de reclamar, apenas enfiei ainda mais o meu nariz em seu peito forte de super-herói para sentir ainda melhor o seu perfume. Ele cheirava como um dia fresco, uma chuva leve, como o orvalho da manhã.

Papai parou com seu abraço de urso, então levei minhas mãos ao seu rosto. A pouca barba ali presente, causou uma sensação de cocegas em meus dedos, que percorriam as bochechas dele como carinho. De repente, a pele quente esfriou sobre o meu toque e três linhas em ondas se formaram entre as sobrancelhas dele.

— O que foi, papai, não gostou do carinho?

— Claro que gostei, mas agora eu preciso de seus beijos de luz.

Ele pegou as minhas mãos com as suas e quase dei um pulo em seu colo ao sentir como elas estavam frias, parecia duas pedras de gelo. Esfreguei-as entre as minhas, para esquentar e logo comecei a distribuir meus pequenos beijos por elas e seguir até beijar o seu rosto várias vezes para ele se sentir melhor. Pois papai sempre dizia que os meus beijos eram tão doce e brilhantes que poderia deixar qualquer pessoa feliz, resolver qualquer problemas do mundo mais fácil, iluminar qualquer quarto escuro e fazer todo o medo desaparecer.

Era como se eu fosse uma fada e com a minha vara de condão de estrelinha, em um simples girar e como magica tudo ficava curado e consertado. E como sempre ele me pegaria no colo, me abraçaria, cantaria em meus ouvidos a canção brilha, brilha estrelinha e dizer que eu era a menina mais linda do mundo, enquanto gargalhávamos juntos. Todas as vezes que ele voltava no serviço eu corria até a porta para o receber com os meus beijos de luz; essa era a parte favorita do meu dia. Mas agora, papai não estava sorrindo, suas mãos estavam ainda mais frias, seus olhos mais escuro como um céu em uma tempestade com raios e trovoes e as ondinhas entre as suas sobrancelhas estavam ainda mais fundas.

Meu pai respirou fundo, seu rosto ficou vermelho e seus olhos fecharam com força. Ele parecia muito chateado.

— Papai, não fique triste. Precisa de mais beijos de luz? Vai ajudar o senhor ficar melhor? Posso dar milhões de beijos.

CASAMENTO ARRANJADO: O CEO E A ÓRFÃ. DEGUSTAÇÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora