Estava acontecendo outra vez. Myoui Mina sentou-se à beira da cama, tonta de sono, os pés descalços esfriando a cada segundo. Movendo a cabeça lentamente, ela olhou ao redor da verdadeira piscina que, uma hora antes, fora um quarto de hotel.
O ruído de um esfregão agindo sobre os azulejos chamou sua atenção para o banheiro, à esquerda. Em frente à porta, uma mancha castanho-amarelada formava um círculo no carpete originalmente cor-de-mostarda, onde brilhava uma substância que lembrava queijo velho, remanescente da queda do reboco acima. No teto permanecia o buraco através do qual seu quarto fora inundado a partir do quarto superior.
Mina suspirou profundamente.
O fato não deveria surpreendê-la, disse a si mesma. Desde a mais tenra idade aprendera a esperar esse tipo de desastre, de tempos em tempos. Lembrava a voz da mãe avisando-a para ser cuidadosa ou os contratempos mais corriqueiros transformarse-iam numa corrente contínua de calamidades.
Tremendo, encolheu-se no interior da camisola de flanela que vestira sobre o corpo ainda molhado do malfadado banho.
Que coisa!
Tivera todo o cuidado, observando as palavras que usava, cada passo que dava, isso sem mencionar os amuletos, orações e velas. Mesmo assim as pessoas ao seu redor continuavam tropeçando, sendo reprovadas em exames, perdendo empregos e amantes. Até dois anos antes, quando encontrara refúgio em Seul. Por algum milagre sua vida acomodara-se numa rotina segura e não perturbada por desastres e acidentes. Convencera-se ter se livrado de sua "maldição", como sua mãe costumava dizer. Imaginou que fosse seguro amar outra vez.
Os dedos apertavam-se com força num punho fechado. Devia ter lembrado com que facilidade a boa sorte se transforma em azar.
Desde que chegara à Busan sua sorte estivera em constante movimento, primeiro a subir, depois descer, em seguida subir mais alto para a queda final. Agora não apenas todos os sonhos e esperanças que trouxera tinham ido por água abaixo, como a nova catástrofe fizera isso literalmente em seu quarto.
— Essa é boa, Yoo. Isso sim é que é catástrofe. — As palavras que davam a impressão de ecoar seus pensamentos, chamaram sua atenção para o homem e a mulher que entravam em seu quarto de motel. O homem trajava um terno azul-marinho e uma gravata espalhafatosa em tons de azul-turquesa. Com o corpo esguio, cabelos curtos, não parecia tem mais do que vinte anos. Apresentara-se à ela dez minutos antes como detetive Park Jimin, e ela calculara a idade em mais de vinte. — Mas acho que isso ainda pode melhorar. Com um pouco de sorte, os técnicos vão encontrar uma ou duas digitais lá em cima e vamos esclarecer esse caso embaraçoso.
Mina estremeceu. Considerou por um instante avisar os dois que só podiam contar com o azar enquanto estivessem perto dela.
Antes que o fizesse, a mulher falou:
— Park, uma coisa que você precisa aprender sobre mim, e rápido, é que não acredito em sorte nem em azar. — Disse com a voz séria.
Esta trajava uma calça e uma camisa social branca, usava um corte de cabelo curto com uma franja dívida ao meio de seu rosto, era um pouco mais baixa do que seu companheiro, de ombros bonitos, mas com o rosto introspectivo.
No momento estreitava os olhos, desconfiada, para o parceiro. Apresentara-se antes como detetive Yoo Jeongyeon.
O absurdo da declaração quase arrancou uma gargalhada de Mina. Que tipo de pessoa inocente seria capaz de ignorar as forças da sorte e do azar? Não esperava que as pessoas tivessem tanta influência quanto ela, mas dizer que não existia era outra coisa. Era rematada tolice.
A detetive Yoo não parecia tola quando puxou uma cadeira da mesa para o pé da cama e sentou-se em frente à Mina, que foi obrigada a encará-la de perto.
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Gatos Pretos, Amuletos e Mais Mil Coisas de Azar - JeongMi
FanfictionParecia que em todos os lugares aonde Myoui Mina ia, alguma coisa desastrosa acontecia! Agora, ela se deparava com um caso intrigante, e via-se sob proteção de uma sexy, porém desconfiada detetive. Sim, positivamente, ela era uma pessoa azarada, e n...