Jeongyeon aguardou a reação de Mina à confidência que fizera.
Era verdade.
Mina percebeu que não fazia idéia do efeito que sua história causara em Jeongyeon. Seu olhar indicava dúvida. A boca estava apertada numa linha fina que dizia tudo o que havia para dizer. O corpo parecia tenso, a indicar que ela pretendia recolher-se em si mesma. Afinal, Jeongyeon, ela mesma fizera isso durante muitos anos. Precisava impedi-la, convencê-la de que havia alguém ao lado dela, que sabia como Mina se sentia e não queria julgar suas ações. Mesmo que significasse abrir um capítulo de sua vida que há muito permanecia fechado.
— Não acredita que uma policial possa ser enganada?
As feições de Mina suavizaram-se um pouco.
Jeongyeon iniciou a narrativa:
— Foi logo depois que ingressei na força policial. Coloquei toda a minha fé em duas pessoas que eu amava e em quem confiava. Essas duas pessoas destruíram tudo o que era importante para mim.
Mina permaneceu em silêncio.
— Quer detalhes?... Muito bem. Eu tinha vinte e dois anos, ia à faculdade em Seul e estudava muito para conseguir tirar meu diploma de administração. Tinha uma noiva em minha cidade natal, em Suwon. Ela era de uma família rica e eu estava determinada a mudar o pequeno negócio de móveis de meu pai numa cadeia de lojas, ou algo parecido, para que eu pudesse sustentar Chaewon e dar-lhe as coisas às quais estava acostumada. — Contou Jeongyeon, suspirando. — Meu melhor amigo era um sujeito que foi como um irmão desde o dia em que nos encontramos, na caixa de areia do jardim-de-infância. Ele estava ajudando meu pai na loja enquanto eu fazia faculdade. Ajudando a si mesmo, isso sim. Subtraía todos os lucros da firma e ainda seduziu minha noiva. Eu não sabia, claro. Durante nossas conversas pelo telefone Chaewon jurava me amar, durante as visitas retribuía meus beijos e escolhíamos os móveis para a casa nova. Eu estava completamente segura de que ela me amava, até a noite em que meu pai me ligou para dizer que ela e Yan tinham fugido da cidade, e a loja estava falida. No dia seguinte cheguei na minha cidade e fiquei sabendo que meu pai sofrera um ataque do coração e estava no hospital. Ele morreu naquela mesma noite.
Enquanto falava, Jeongyeon sentia vívidas as lembranças da época, a ponto de perceber o peito apertado e a visão alterada. Piscou algumas vezes, até que a situação se normalizasse.
Encontrou Mina fitando-a com compaixão. A última coisa que precisava.
— Eu senti tanta raiva de mim mesma quanto você deve estar sentindo. Achei que devia ter suspeitado de alguma coisa.
— Não acho. Por quê? Sua situação era completamente diferente. Eu só conheci Jinyoung oito meses atrás e mesmo assim tivemos um relacionamento pessoal apenas uma parte desse tempo. Eu devia ter tido muito mais cuidado em confiar numa pessoa que mal conhecia. Mas você conhecia essas pessoas há anos. Não podia imaginar.
Jeongyeon balançou a cabeça, numa negativa:
— O tempo que você conhece alguém não importa. Os vigaristas são convincentes porque acreditam em suas próprias mentiras. Além disso são mestres em criar sentimentos de compaixão. Eu sabia que Yan tinha tido passagem pelo juizado, por exemplo, mas deixei passar, porque conhecia o ambiente onde ele foi criado. E Chaewon... bem, ela era simplesmente a garota mais bonita da cidade. Eu estava tão embevecida pelo fato de que escolhera a mim, que ignorei as formas como ela tentava me "consertar".
Mina assentiu.
— Assim como eu deixei os telefonemas de Jinyoung quase todas as noites me influenciarem e construírem nossos planos para o futuro, além de evitarem que eu perguntasse sobre a vida dele em Busan. — O olhar de Mina dirigiu-se para a água outra vez. Jeongyeon observou-a. — O que fez a respeito de Yan e Chaewon? — Quis saber Mina.
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Gatos Pretos, Amuletos e Mais Mil Coisas de Azar - JeongMi
FanfictionParecia que em todos os lugares aonde Myoui Mina ia, alguma coisa desastrosa acontecia! Agora, ela se deparava com um caso intrigante, e via-se sob proteção de uma sexy, porém desconfiada detetive. Sim, positivamente, ela era uma pessoa azarada, e n...