|4 - As calamidades da mentira|

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Mina inspirou profundamente e ergueu sua mão direita com a palma para cima, num sinal para que ela se detivesse. Jeongyeon parou a centímetros dela.

— Estou bem. — Forçou-se a dizer.

Descobriu que a tontura desaparecera. O quadril esquerdo encontrava-se dolorido, provavelmente o local que fora atingido pelo carro no dia anterior. Seus joelhos pareciam pouco confiáveis, mas já não ameaçavam desabar sob o peso do próprio corpo. Isso significava que não havia motivo para que aquela mulher tocasse nela. Nenhum motivo para que ela justificasse um só momento de fraqueza.

Embora encontrasse conforto na segurança transmitida por Eunji ao afirmar suas crenças sobre azar, não estava completamente convencida. Não que importasse. Se ela tivesse nascido azarada, como sua mãe fizera questão de afirmar, ou se Jeongyeon tivesse razão ao afirmar que a vida era o que a gente fazia dela, o que importava era que ela mesma se metera naquela situação e não permitiria que alguém mais suportasse a carga. Mesmo se esse alguém fosse uma mulher segura e forte como Yoo Jeongyeon. Se porventura sua mãe tivesse razão, Jeongyeon podia estar dirigindo-se para um desastre.

— Tem certeza de que está bem? O médico disse que uma concussão pode demorar algum tempo para manifestar sintomas. — Argumentou Jeongyeon.

Mina conseguiu sorrir.

— Bem, parece que consegui dominar essa ligeira tontura, por ter levantado muito depressa. Fora isso, minha cabeça está ótima. O pescoço está um pouco rígido, como a enfermeira tinha avisado, por causa do choque, mas acho que a única coisa que está doendo mesmo é meu pulso.

De fato, latejava bastante no momento, enviando pontadas de dor desde a ponta dos dedos até o cotovelo. Como não pretendia divulgar essa informação, achou que era o momento de sorrir e suavizar a situação.

— Estava acabando de dizer a Eunji que ficaria contente em ser hipnotizada hoje. Seria bom para você?

— Se possível. — Respondeu Jeongyeon, fitando-a com seriedade. — Provavelmente vou demorar uma hora ou duas para chegar à delegacia, arranjar as coisas e voltar para cá com a desenhista. Tem algum compromisso, ou prefere outro horário?

No tom usado por ela, Mina percebeu uma ponta de suspeita. Não conseguia imaginar o que ela poderia suspeitar, mas ainda havia desconfiança. Pelo menos Jeongyeon não parecia mais disposta a tomá-la nos braços para protegê-la. E, ao que parecia, Jeongyeon possuía um corpo atlético, tinha certeza que ela era capaz de ampara-la. O único dano seria à sua resolução de controlar a atração por Jeongyeon, ou por qualquer outra pessoa.

Na noite anterior, recordara que os piores momentos de azar tinham ocorrido quando estava emocionalmente ligada a alguém. Ainda garotinha, apaixonara-se pelos grandes felinos assim que os vira. Ébano, em particular, cuja elegância e beleza ela admirava sempre. Observara Allende no arame com a adoração de uma menina de cinco anos, que também gostava dos palhaços. Seus anos de adolescência foram marcados por paixões, todas de curta duração. A maior parte do tempo estava ocupada em mudar-se, porém mais de um objeto de sua atenção sofrera algum tipo de acidente, como Yury, que destroncou o braço enquanto arremessava para um observador dos times grandes. Depois foi o noivado de dois anos com Bae Doyun e sua fé inabalável que o ator se casaria com ela, conforme o prometido, quando finalmente conseguisse um "bom" trabalho, o que jamais chegou a acontecer.

Parecia seguir-se a conclusão óbvia de que o melhor era não se ligar a ninguém no momento. Dois dias antes, fora lembrada de como era sua sorte no amor e até que lidasse com os próprios sentimentos de raiva e traição, o melhor era manter distância emocional.

— Bem, detetive Yoo, eu na verdade não tinha feito planos para hoje. Só pensei que gostaria de tomar um banho e talvez comer alguma coisa antes que meu subconsciente seja examinado por um grupo de estranhos.

Gatos Pretos, Amuletos e Mais Mil Coisas de Azar - JeongMiOnde histórias criam vida. Descubra agora