|11 - Triplicidade das coisas ruins|

87 11 8
                                    

- Mina, você não deve pensar, nem por um instante, que o assalto teve alguma coisa a ver com seu gato.

Mina olhou espantada para Eunji.

Aquela mulher parecia sempre estar lendo sua mente.

Ela e Jeongyeon podiam abrir um negócio, duas telepatas pelo preço de uma. "Descontos especiais para esquizofrênicos".

- É isso o que você está pensando, não é?

Enquanto ajudava Eunji a colocar o carrinho de compras para dentro, ela deu de ombros.

- Claro que estava. Pois pode desistir dessa idéia. Pessoas são furtadas todos os dias da semana. Bem... talvez por aqui não aconteça muito. Por que não? Bem, acho que se eu fosse ladrão, iria preferir uma área sem muito trânsito na rua, para evitar testemunhas.

As duas conversavam enquanto levavam o carrinho na direção da cozinha. Eunji parou junto ao telefone e digitou três números. Um instante mais tarde fornecia seu nome e endereço, perguntando se poderiam mandar alguém para dar uma busca na área, para o caso do ladrão estar aguardando mais vítimas indefesas.

A despeito da situação, Mina sorriu.

Não conseguia imaginar Eunji como uma vítima indefesa, ela parecia mais um general no comando de seu exército.

- Ótimo. - Conclui ela, desligando e voltando-se para Mina. - Vão mandar um policial logo. Nesse meio tempo, acho melhor guardar as compras.

Mina não precisou de diploma para reconhecer o início do choque. Depois de tudo terminado, o trauma de ser assaltada em plena luz do dia numa zona que ela considerava segura, começava a fazer efeito. Tomou a mão de Eunji, e reparou que as pupilas estavam levemente dilatadas e o rosto tornara-se lívido de repente.

- Eunji-san, porque não deixa que eu guarde as compras enquanto você senta um pouco para descansar? Vou trazer um copo de água, porque a polícia vai fazer um bocado de perguntas.

Depois de conduzir a mulher mais velha até a cadeira e providenciar a água, Mina indagou:

- E agora, que tal uma xícara de chá?

- O que está pensando que sou? Alguma dama inglesa numa casa de banhos? Detesto chá. - Declarou Eunji, franzindo a sobrancelha. - Por outro lado, adoro café. Que tal passar um pouco? Bem forte.

Mina preparou a cafeteira antes de guardar as compras e Eunji começou a tomar notas num bloco. A campainha tocou exatamente quando ela entregava uma xícara de café preto a mais velha. Correndo até a porta, Mina abriu-a, deixando entrar um policial uniformizado, a quem conduziu até a cozinha. Depois de acomodá-lo à mesa e servir-lhe uma xícara de café, Mina ocupou-se com os mantimentos enquanto Eunji narrava sua desventura.

- Aconteceu a menos de um quarteirão daqui. Um homem saiu de um espaço escuro, esticou a mão para a alça da minha bolsa e saiu correndo.

- Certo... recorda-se exatamente onde aconteceu?

- Claro. Foi bem em frente a uma casa em estilo chinês, a duas casas da esquina. Vai reparar que a entrada tem dois arcos falsos com ferro decorado. Forma o espaço perfeito para esconder-se e esperar uma vítima.

- É muito observadora, Sra. Choi. - Comentou o policial. - O que pode dizer sobre o homem que roubou sua bolsa?

- Muito pouco.

- Compreendo. Tudo aconteceu em poucos segundos. Consegue lembrar a altura ou cor do cabelo?

- Altura? Bem, não era muito mais alto do que eu. Cabelo? Não sei. Ele estava com um boné de beisebol na cabeça. Um boné escuro. Estava usando um casaco... marrom, se não me engano. Acho que é só o que lembro.

Gatos Pretos, Amuletos e Mais Mil Coisas de Azar - JeongMiOnde histórias criam vida. Descubra agora