Passado

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Capítulo 5 – Passado

A noite foi difícil, além de ter demorado para dormir, pois não conseguia parar de pensar na conversa que tivera com o diretor, quando conseguiu finalmente se deitar e se entregar ao inconsciente se viu cair em uma teia de imagens difusas e dolorosas de uma infância cruel. Via nitidamente a criança de pele pálida, olhos e cabelos negros como a noite, encolhida no canto do quarto agarrado as pernas e apenas aguardando o inevitável, a pequena criança de tão poucos anos de vida ouvia atentamente os gritos vindos da sala, suas mãos tremiam enquanto a voz grossa atravessava as paredes atingindo seus ouvidos com força.

- Sua vagabunda!

- Thobias, não faça isso, por favor.

- Não se atreva a apontar essa varinha para mim, sua desgraçada. Eu que mando aqui. Eu sou o homem dessa casa e essa é a última vez que aquele moleque me desobedeceu.

- Thobias, ele só tem cinco anos, é apenas uma criancinha que não consegue controlar a magia dele.

- Pois eu vou ensiná-lo a força.

- Você sabia que eu era bruxa quando nos conhecemos. Se odeia tanto assim a magia, por que se casou comigo?

- Eu não odeio a magia, ela me traz muitos benefícios, menos quando aquele moleque atira objetos em mim. Ele tem que aprender a me respeitar ou eu juro que mato ele.

- Ele é seu filho.

- Maldita hora que você engravidou. Era para ser só nós dois. Devia ter se prevenido.

- Eu não fiz o filho sozinha.

- Não me responda!

O menino se encolheu mais ainda ao ouvir o barulho do tapa e os gritos, e então seu peito ardeu com o esforço que seu coração fazia batendo mais forte enquanto o desespero o dominava. Seu pai estava prestes a passar por aquela porta para fazer novas cicatrizes em seu corpo.

O mestre de poções se remexeu na cama, esses pesadelos sempre o deixavam inquieto. Thobias Snape era o demônio que não conseguia afugentar.

Em seu pesadelo havia passos pesados se aproximando da porta, o garotinho fechou os olhos, mas o homem assistiu a porta se abrir e o monstro entrar, mas não era aquele que sempre o visitava em pesadelos o fazendo preferir dormir pouco ou sedado pela poção do sono sem sonhos. Aquele monstro era enorme, de bigodes grisalhos e olhos fulminantes. Valter Dursley bufava com um cinto na mão olhando para o menino que agora tinha olhos esmeraldas.

O homem sorriu com crueldade apertando o cinto com os dedos, o menino gritou com medo e Snape acordou assustado com a mão estendida como se estivesse prestes a interceptar aquele cinto no ar impedindo que tocasse no garoto, mas ao fechar os dedos tudo o que tocava era o ar frio da madrugada. Seu rosto estava suado e o cabelo negro grudava em sua bochecha. Fechou os olhos e respirou fundo. Estava acostumado em ter as lembranças de sua infância como pesadelos, na maioria das vezes tomava uma poção do sono sem sonhos, mas quando esquecia as lembranças o atacavam, entretanto fazia muitos anos que não se abalava em rever seu pai espancando sua mãe ou a si mesmo. Porém, ver os olhos esmeraldas com medo aguardando que a mão forte descesse o cinto com violência em sua pele era completamente novo. Teria Harry sofrido tanto quanto ele nas mãos de homens sem alma

Inconscientemente Snape postou a mão em seu tórax sentindo as cicatrizes antigas de quando Thobias o chamava falando manso e sem pudor o usava para apagar seu cigarro.

Balançando a cabeça afim de afastar as imagens, Snape afastou as cobertas e saiu da cama sentindo o gelo do chão atingir seus pés. Sem pensar muito ou pensando até demais, se levantou e vestiu suas vestes negras e rumou porta afora caminhando pelos corredores escuros sem nem mesmo precisar acender a varinha, seus pés eram rápidos e silenciosos e seus olhos treinados para enxergar onde não havia luz. Rapidamente alcançou o quadro da mulher gorda que dormia com a boca aberta.

Paternidade surpresa (Severitus)Onde histórias criam vida. Descubra agora