Sonho

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Flávia estava deitada em uma espreguiçadeira, vestindo um maiô branco, chapéu de praia e óculos escuros grandes, ao lado da piscina de sua mansão luxuosa, quando Deusa, sua empregada, com certa apreensão veio até ela e perguntou:

- Flavinha, essa mala com um milhão de dólares eu coloco onde? – O dinheiro mal cabia na maleta e algumas notas estavam já escapando.

- Pode colocar no meu quarto, Deusa, por favor!

- Pode deixar, Flavinha. – Quando já estava de saída, Deusa virou-se sobre os calcanhares e lembrou sua patroa – Ah! Já ia me esquecendo, seu jatinho com destino à Paris – falou sorridente – sairá as 17:00 horas em ponto, não vai se atrasar!

- Jamais me atrasaria para esta viagem, Deusa! Preciso renovar meu guarda-roupa! - abaixou os óculos e, sorrindo, deu uma piscadela para a moça.

- Tudo bem, Flavinha! Vou terminar de preparar sua mala.

- Ok, Deusa – falou sorrindo e acenando para sua funcionária.

Quando foi tentar alcançar sua bebida refrescante do outro lado da mesa, Flavia esticou tanto o braço que acabou caindo da espreguiçadeira.

E acordou.

Em casa.

Com o braço esticado tentando alcançar seu despertador, no chão.

Levantou desnorteada e desapontada com o fato de que sua riqueza existe apenas em seus sonhos. 

Quando se deu conta que já estava em cima da hora para ir ao trabalho, correu para o chuveiro. 

Mas seu irmão mais novo, Murilo, foi mais rápido e entrou no banheiro primeiro. Flávia bufou e esbravejou, batendo na porta com força:

- Murilo, saia do banheiro agora, preciso me arrumar para ir trabalhar!

- Preciso sair, Flávia, nem vem. Vou me apresentar hoje e preciso me arrumar com pressa. Tô atrasado.

- Murilo, você vai se apresentar no metrô, tocando violão, não tem um horário para chegar no trabalho. Eu preciso me arrumar agora, minha chefe não tolera mais meus atrasos. Eu posso ser demitida. Vamos, deixe-me entrar, caramba!!

Quando ouviu o chuveiro ligar, Flávia quis bater com muita vontade em seu irmão, mas não tinha tempo para isso quando 20 minutos depois ele saiu do banheiro com o cabelo pingando e cheirando a sabonete. 

Flávia o lançou um olhar penetrante e assassino, mas correu para o chuveiro. 30 minutos depois estava descendo as escadas, uniformizada, passando pela Padaria Quen-Quen, que ficava no andar de baixo do pequeno prédio antigo, onde travalhava sua madrasta, Odete, e seu pai, Juca, na Tijuca.

Flávia, assim que os encontrou percebeu certa apreensão em seus semblantes, mas não tinha tempo para desvendar tal mistério. Deste modo, pegou um pão-de-queijo e o abocanhou, e se despediu deles com pressa.

-Tchau, pai - falou sorrindo - Tchau, Odete fofa - falou de modo sarcástico.

Assim que Flávia saiu, Odete olhou para Juca com certa aflição e perguntou:

-Será que ela já sabe?

-Não sei, Odete, mas pela tranquilidade dela ao passar por aqui acho que ainda não.

-Deus me livre, Juca, de estar perto dela quando ela souber. Vamos trabalhar.

Juca revirou os olhos com o pedido da esposa.

                                                                     ***

Flávia estava olhando a paisagem, sentada perto da janela no ônibus. Quando virou o rosto para dentro do veículo, se deparou com um senhorzinho lendo uma matéria no jornal. A manchete lhe chamou atenção "Guilherme Monteiro Bragança, um dos empresários mais influentes do Brasil, alcançou a fortuna de 1 bilhão de reais".

Ainda Amo Você - FlaguiOnde histórias criam vida. Descubra agora