Capítulo 7 - "O sumiço dos girassóis"

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26 de outubro

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26 de outubro. Noite.

Olivia Armstrong agarrou o pincel com os dedos um pouco tensos. Arrastou o objeto sobre a tela em branco e, em poucos instantes, já encarava a construção primitiva de um pequeno girassol. Depois, mais um. E outro.

Poderia passar o restante da madrugada exercendo aquela função sem se sentir cansada. Os girassóis que desenhava eram como pequenas brumas de angústia que deixavam o seu corpo e, pouco a pouco, depositavam-se sobre a tela em forma de manchas amareladas. Os girassóis eram o seu porto seguro.

De repente, o barulho causado por um trovão longínquo assustou Olivia, fazendo-a soltar o pincel. A jovem observou pela janela e, sobre os morros distantes, enxergou um emaranhado de nuvens aproximando-se com rapidez. A tempestade estava mais próxima.

Por um momento, enquanto pincelava os girassóis, pensou nas duas mulheres que haviam sido carbonizadas dos pés à cabeça naquela mesma tarde. A imagem de seus corpos — grudados um ao outro — sendo arrastados para fora daquela câmara, enquanto Charles Bourregard e Lucille Leweys gritavam.

Também foi descoberto, um pouco depois, que ambas as vítimas tinham cortes transversais e perfurações na parte de cima de seus corpos, provavelmente feitos antes de elas terem sido colocadas dentro da câmara. Isso explica o porquê de terem se esforçado tanto para gritar em meio à fumaça: porque já estavam sofrendo há um bom tempo.

Ollie deixou a pintura de lado por um momento e guardou o pincel dentro do casaco — ela sempre o carregava consigo, junto de um pequeno frasco de tinta, como se fossem amuletos. Apanhou a boina que tinha deixado sobre a cama, cobriu o corpo com um casaco escuro e saiu da cabine. As luzes estavam apagadas como costumavam ficar depois das dez da noite. Não havia sequer um passageiro transitando pelos corredores.

Com muito cuidado, a jovem caminhou até a cabine de número cinco no primeiro vagão de passageiros. A porta estava entreaberta. Quando entrou no cômodo, enxergou sobre a cama o cadáver pálido de Elliot Montgomery.

Ninguém havia contado sobre a notícia de que ele estava no trem. E eu entendo o motivo desse fato ter sido omitido. Afinal, Número Dois, você precisa concordar que olhar para um terceiro cadáver em um intervalo menor do que vinte e quatro horas não parece uma atração tão convidativa. Por esse motivo, as únicas pessoas que sabiam que aquele corpo estava no quarto eram Dominic, Thomas, Claire, Olivia e Austin — porque Nic contou a ele.

Ollie cruzou os braços e encarou a carne apodrecendo sobre os lençóis. Havia algo de interessante na maneira como o olhar vazio daquela figura se sustentava. Atenciosamente, então, a garota chegou mais perto dele.

— Também está com problemas para dormir? — uma voz próxima tomou os seus ouvidos.

Ollie virou-se imediatamente. Não havia percebido a presença de Claire Brassard naquele dormitório quando entrou. A ruiva estava sentada sobre a cama oposta, com o corpo inclinado à parede e o rosto sendo coberto pela penumbra.

Trem para Barrymore [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora