Capítulo 4 - "Borboletas de lugar nenhum"

610 55 264
                                    

24 de outubro

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

24 de outubro. Noite.

Chariot Green sempre procurou acreditar que todas as coisas acontecem por alguma razão quase como o destino, embora não gostasse muito de usar essa palavra. Ela preferia chamar de "a ordem natural das borboletas", e você vai compreender o que isso significa daqui a pouco.

A primeira vez que Chariot se sentiu dessa forma foi naquele acidente, alguns anos atrás. Preparava-se para auxiliar na montagem de alguns equipamentos elétricos quando a construção desmoronou, devido a um erro técnico muito grotesco.

Chariot e a sua equipe estavam trabalhando em um território florestal distante, o que significava que não havia autoridade alguma por perto naquele momento. A garota ficou presa entre os destroços enquanto o som angustiante do maquinário era provocado bem ao lado de sua cabeça. Além disso, uma haste metálica perfurou parte do seu ouvido. Teve muita sorte de sobreviver.

Demorou cerca de cinco horas até que alguém descobrisse que Chariot Green se encontrava lá embaixo. E durante todo esse tempo, apesar de o barulho das máquinas vedar qualquer outro som que ela poderia ter identificado, Chariot ouviu alguma coisa: o bater de asas de uma borboleta.

Eram borboletas azuis. Se aproximaram da jovem e depois partiram, como em um sonho. Ela não entende até hoje como ou por que as viu naquele momento. Talvez fosse uma alucinação. Talvez seus ouvidos já estivessem tão prejudicados pelo acidente que o seu próprio cérebro projetou um barulho qualquer para que ela não enlouquecesse. Seja verdade ou não, Chariot Green nunca mais ouviu um som sequer desde aquele dia. Também não conseguiu dizer mais nada.

O motivo pelo qual estava indo até o condado de Barrymore, além da tentativa de escapar da crise, é claro, tinha relação com a oferta de uma consulta em um dos centros hospitalares recém construídos perto daquela região. Os médicos disseram que podiam tentar reverter parcialmente a sua condição, embora a própria menina não acreditasse tanto nisso.

Em geral, ela aprendeu a viver de uma forma diferente — não como eu e você. Chariot aprendeu a viver em um mundo silencioso. E era como se ele tivesse passado a ser mais silencioso ainda desde que a viagem começou. Se não fosse por Olivia, Chariot estaria presa à sua cabine fria desde o primeiro dia.

Por outro lado, ela percebeu uma coisa: às vezes, quando muitas pessoas parecem ser uma ameaça, o silêncio pode ser a melhor opção. A garota não conseguia parar de pensar no que tinha visto mais cedo, quando espiou por aquela fechadura. Mas preferiu guardar este segredo para si.

Era quase meia noite quando ela enxergou movimento do lado de fora — também pôde perceber as vibrações sobre a madeira. Ollie entrou no quarto com um semblante assustado, pediu que Chariot a seguisse e depois saiu pela porta.

A Green, por sua vez, calçou os sapatos e retirou do pescoço um colar prateado que havia ganhado de sua mãe — era o mais importante, senão o único, bem precioso que lhe havia restado. Ela o colocou sobre a estante, perto do armário. Se certificou de que o artefato estava seguro e então saiu da cabine.

Trem para Barrymore [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora