VENCEDOR DO GRANDE PRÊMIO - WATTYS 2023 🎖
"Não pode ser coincidência que nossos destinos tenham se cruzado justamente agora. Esta é a viagem de nossas vidas, se não for aquela que culminará em nossas mortes."
Na intenção de escapar de conflitos gen...
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26 de outubro. Manhã.
A silhueta horripilante de Charles Bourregard chegou até a metade do carpete enquanto produzia um murmúrio doloroso. Depois disso somente, encurralados no fim do corredor, Claire e Dominic se deram conta de que ele não era uma ameaça. Era a vítima.
Gritos femininos desesperados que deram sequência ao acontecimento confirmavam essa hipótese. Eram apelos que surgiam de uma voz áspera — uma que qualquer um reconheceria naquele trem.
— Ajudem-no! Ajudem-no! — Judith Petit adentrou aquele vagão envolta em uma camisola vermelho-púrpura. — Charles Bourregard foi atacado! Ele foi atacado!
A ruiva e o garoto do lenço levaram um tempo para entender o que se passava ali. Qualquer um levaria, afinal. Até mesmo eu e você. É tudo muito complexo: um cadáver debaixo da madeira no sul do vagão, um homem esfaqueado no centro, e uma possível criminosa ao norte. Aquele era um grande dia para que algumas explicações fossem dadas.
A começar pela "possível criminosa": Judith não sabia o que havia acontecido com Charles. Não, não naquele momento. Eu prometo, Passageiro Número Dois, que aquelas duas pessoas não estavam conectadas. Ao menos não por conta desse evento — bem, você entenderá tudo até o final do dia.
Judith era uma pobre coitada. Uma mulher solitária, uma fanática, um fardo àqueles que odiavam gritaria, uma saqueadora, se o palpite de Olivia Armstrong estivesse certo, e também uma potencial assassina — tal qual os outros onze. Mas ela não tinha absolutamente nada a ver com o homem ferido no chão naquele momento. Que pena. Porque era o que parecia.
Quanto ao Bourregard, assim que chegou perto o suficiente dos outros dois passageiros, o homem quis dizer alguma coisa, mas tudo o que saiu foi um gemido de dor. Ele largou o revólver no chão e tentou segurar a faca com força, embora a tenha derrubado em seguida também. Charles perdeu a força das pernas e caiu de joelhos no meio do corredor.
A Brassard e o Cooper, paralisados, enxergaram algo quando ele se colocou naquela posição: havia mais sangue jorrando de seu abdômen. O passageiro tinha a roupa de baixo encharcada por um vermelho viscoso.
Como última tentativa, Charles esticou o braço esquerdo na direção deles e cuspiu um pouco de sangue sobre o carpete. Seguido disso, a parte superior de seu corpo atingiu o chão em uma queda breve. Ele desmaiou.
Judith alcançou o rapaz e colocou a cabeça dele sobre suas pernas, tentando acordá-lo. Naturalmente, a mulher sabia que perguntas começariam a surgir de todos os lados e ela não poderia respondê-las. Afinal, era a única pessoa que deveria saber exatamente o que aconteceu.
— Como... como ele acabou assim? — disse Dominic, observando a mulher de cabelos vermelhos.
— Eu não tenho... nada a ver com isso. Não tenho nada a ver. Não tenho nada a ver com isso! — Judith começou a repetir a mesma frase, tremelicando.