✧ Para tudo tem um início ✧
Infelizmente, não era um dia como outro qualquer. Eu não estava onde queria estar de fato, que seria... no meu quarto, sozinho mesmo. Não que eu não goste de socializar sabe, só não gosto de mudanças bruscas, novidades fora de hora. Ah, não sei explicar melhor do que isso! Outra coisa que não estou gostando é dessa voz de criança mimada tentando se impor diante de um adulto. Não sei que horas são, mas isso já está ficando insuportável. Quando ficamos juntos por muito tempo, corremos o risco de nos matarmos a qualquer hora. Na verdade, cinco minutos basta para virarmos a cara, ou na pior das hipóteses, partir pra ignorância. Mas isso só ocorre mesmo entre eu e minha irmã.
É, pelo visto, me despertaram de vez.
— Diga se está perto! Está?
— Estamos chegando querida, relaxe um pouco.
— Mas pai, você já disse isso um monte de vezes e nada da gente chegar!
— Faz que nem seu irmão! Olha como ele tá quieto, fique quietinha também, ok?
Ouvindo essa conversa típica de filme norte-americano, não vejo a hora de chegarmos numa lanchonete de beira de estrada, essa cena é obrigatória. Mas enquanto ainda estamos aqui, arrisco-me a abrir um pouco os olhos. Dá pra ver pela janela que o calor do lado de fora está de lascar, único lado bom de ainda estar dentro do carro. Mas... não é que ela ainda teve a ousadia de colocar suas pernas em cima das minhas?
— Quer fazer o favor de sair de cima de mim? — Pedi, mas já empurrando suas pernas para longe.
— Por quê? Está ótimo assim. Se dê por satisfeito por eu não tirar os meus tênis!
Minha mãe, que aparentemente estava concentrada no seu caderninho, acordou do transe para me ajudar:— Crianças, parem de brigar! Ben, por favor, dê mais espaço pra sua irmã poder sentar. Você está tomando o carro todo!
— Stefany, meu amor, por que não dorme também? Gosto tanto de você quando está dormindo... — debocha meu pai, deliciado em provocar minha irmã.
— Pai! — indignou-se ela — Não estou cansada, estou é morrendo de fome. Se ainda vai demorar, pelo menos poderíamos parar em algum lugar pra comer!
Eu também estava com fome, aliás, todos estávamos. Mas pelo visto só iremos comer quando chegarmos em casa.
Ainda não caiu a ficha. Acho que só irei reconhecer minha nova realidade quando entrar na tão famosa casa de minha tia Renée. Será que é tudo isso que minha mãe vem falando o caminho inteiro? O engraçado é que já morei nesta cidade quando era menor, mas não me lembro tanto daqui. Lembro-me mais das pessoas do que do lugar.
— Stefany, você vai amar a casa! Nós moramos aqui com sua avó antes de você nascer. Sempre gostei daqui, é uma cidade pequena, mas justamente por ser assim que tem o seu charme. — comenta minha mãe, que agora desgrudara de seu caderninho de anotações para olhar as árvores que haviam pela rua. Nunca tinha visto tanto verde assim.
— É minha gente, chegamos! Colina Azul, nosso novo lar! — exclama meu pai, desacelerando o carro para podermos fazer um pequeno tour, como ele gosta.
— Ah, não! Vamos logo, pai! Agora quero ver a casa! — esperneia a pirralha. A Stefany vive na barra da saia de minha mãe. Ainda bem que tenho só uma irmã. Não sei o que fazer para me livrar de uma, quem dirá se tivesse mais.
— Cala a boca, sua grudenta! — Já estava enjoado de ter que ouvir tanto a sua voz.
— Venha calar! Idiota!
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O Segredo da Chuva
Teen FictionEm busca de novos horizontes, uma família decide se mudar para uma cidade litorânea, chamada Colina Azul. Bernardo, um nerd adolescente de dezesseis anos de idade, é o filho mais velho. O rapaz e sua família passam a morar numa casa antiga e mais in...