Capítulo 17

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✧ Cabeça a mil ✧

Chego esbaforido em casa, com um pouco de "dor de facão". Fiz pelo menos duas voltas pelos arredores, para ter certeza que não tinha sido seguido. Sim, seguido por mais um fantasma, além de Amélia.

Abro depressa a porta e adentro pela sala. Corro em direção às escadas, precisava contar para Amélia do ocorrido. Porém ouço minha mãe chamar e paro no meio do caminho.

— Ei, venha aqui! Que pressa é essa, menino? — Desço os degraus a contragosto e vou até à cozinha. Ela me esperava sentada à mesa.

— Tá todo suado! Tá tudo bem? — Quando dei por mim, percebi que eu passava as mãos nervosamente pelo meu rosto e cabelos. É claro que isso me denunciou. A vontade que eu tinha era até de contar a ela, mas...

— Você foi assaltado?! — Ela me olha por inteiro, até bater os olhos na mochila em meu ombro esquerdo.

— Não, mãe...

— Bateram em você?!

— Também não! Tá tudo bem, só cheguei com pressa!

— Você foi mesmo pra escola? Não minta pra mim! — arqueou uma das sobrancelhas , ao mesmo tempo que levantou a voz. Eu já estava impaciente com este interrogatório. Lembrei então de olhar em seus olhos para transmitir confiança, algo bem difícil de fazer depois do que aconteceu.

— Mãe, calma! Você é muito exagerada! Claro que fui! Tenho prova de química amanhã e não lembrava! Não tenho nada anotado, eu tô ferrado.... A prova é logo no primeiro horário da manhã — Ao mesmo tempo que explicava, fui saindo da cozinha para não ser mais questionado.

— Mas não vai nem almoçar? — Ela colocou as mãos na cintura.

— Vou separar o material e daqui a pouco eu desço! Prometo! — Saí correndo degraus acima, doido para me trancar em meu quarto.

Abri a porta e dei de cara com Amélia dançando no meio do quarto, com meu headphone sem fio que comprei há pouco tempo. O notebook estava ligado e ela ouvia música, numa altura bem alta por sinal. Parecia ser alguma balada romântica e ela estava bem animada quando bateu os olhos em mim. Desconcertada, rapidamente tirou o aparelho e colocou-o perto do computador.

— Você chegou muito cedo! Eu tava... — Revirei os olhos e a ignorei, fechando a porta e indo me sentar na cama.

— Não vai acreditar no que aconteceu...

— Não tava zangado comigo?

— ...você não é a única que consigo ver! — Ela arregalou os olhos e antes que caísse sentada ao chão, uma cadeira magicamente fora arrastada para atrás de si. E ainda continuava me encarando.

— Eu tava vindo do colégio de ônibus, sabe? Aí no meio do caminho, aconteceu um acidente... O ônibus acabou atropelando uma pessoa — Ela arregalou os olhos.

— Nossa, você tem muito azar! — Suspirei, já impaciente — Ok, continue!

— Não tô brincando, Amélia! Quando todo mundo saiu do ônibus, aí que eu fui ver um senhor caído no chão — Respirei fundo, evitando entrar em mais detalhes do que isso — E foi então que eu vi a alma dele saindo do corpo!

— Hum!

— Tô falando sério! Ele morreu bem na minha frente!

— Entendi, continue! — Ela me olhava de forma estranha.

— Quando ele se levantou, bateu os olhos em mim!

— Você o conhecia?

— Não! Nunca vi ele antes na minha vida! Na verdade ele tentou falar com todo mundo que tava ali... Mas acho que percebeu que somente eu podia vê-lo.

O Segredo da ChuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora