✧ Encrenca é com ela ✧
Olhei ao meu redor à procura de Amélia, pois já tive um "vislumbre" do que ela era capaz de fazer. Por mais que eu estivesse com ódio daquele moleque, não me sentiria bem se algo acontecesse com ele. Aliás, com ninguém. Ventou forte novamente e o rapaz fora puxado das mãos das pessoas que tentaram segurá-lo em vão: estava sendo arrastado em direção ao mar. Ele gritava apavorado, e não era pra menos. Corri o máximo que pude e o alcancei, o segurei pelas pulsos. De repente, nossos corpos foram arremessados de volta à praia. Ofegantes, olhamos incrédulos um para o outro. Eu sabia o que estava acontecendo, mas ele não, é claro. Em outro momento, teria achado a situação bem engraçada. Apavorado, o cara fugiu junto com a sua turma. Carina e Giovani vieram ao meu encontro:
— Vamos!— Eles me ajudaram a levantar da areia e saímos depressa da praia.
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Um tempo depois, cheguei em casa às escuras. Estava em um estado deplorável, sujo de areia da praia e todo encharcado. Entrei sem fazer muito barulho, segurando meus chinelos. Esbarrei-me em alguma coisa na sala e meu pé doeu demais, porém incrivelmente não balbuciei um pio. Subi as escadas com cuidado, entrei no quarto e me joguei do jeito que estava na cama. Sentia-me tão dolorido e cansado que apaguei momentos depois. Adormeci com a imagem dos cabelos esvoaçantes de Amélia na mente. A noite passou voando.
Acordei com batidas fortes na porta, e com os gritos de minha mãe.
— Não entre...! — Não soube direito o que responder, fiquei nervoso. Ela entrou de supetão:
— Bernardo! Onde você se meteu?! Sujou a casa inteira de areia, lama, eu sei lá! Você saiu que horas?
— Então...
— Quem autorizou que saísse? Você tem dezesseis anos! Dezesseis!
— Desculpa! Eu vou limpar tudo...
— Eu sei que vai limpar! E quero bem limpo! Mas também quero que não saia para vadiar! O que deu na sua cabeça?! Olha o que você fez com a sua cama! Meu Deus... Você tá proibido de sair de casa, é do colégio pra casa, ouviu?! — O que eu ia dizer? Estava todo errado mesmo. De repente, ela se aproximou e puxou o meu rosto para si, visivelmente chocada:
— Quem te bateu? Meu Deus do céu, Bernardo! Se metendo em briga? Quem te fez isso, meu filho?!
— Não foi nada...
— Como não foi nada?! — Ela me analisou mais um pouco e suspirou — Arrume toda essa bagunça, tome seu banho e desça. Lá embaixo a gente vê esse seu olho roxo! — Estalou a língua com olhar de reprovação e saiu do quarto. Sentia-me um pouco envergonhado. Já estava velho demais para receber broncas assim. Olhei para o estado deplorável em que estava a minha cama. O lençol todo sujo de areia. O lado bom é que hoje já era sábado, dia de faxina de qualquer forma. Lembrei-me de Amélia. Olhei ao redor, prendendo a respiração para captar o menor ruído. E foi então que me dei conta que eu havia dormido no quarto que tanto queria evitar. As portas da varanda estavam perfeitamente fechadas. Tudo aparentemente normal. A bagunça de sempre... Onde ela estaria?
Levantei-me e recolhi a roupa de cama para jogar dentro do cesto de roupa suja do banheiro. Chegando lá, fechei a porta que dava acesso ao quarto de Stefany. Quando ia tirar a camisa, olhei-me no espelho. Eu estava um lixo! Parei e pensei... Será que Amélia já tinha me visto sem roupa? Como nunca pensei nisso antes?! Toquei um lado do meu rosto e gemi de dor, devido ao inchaço. Depois passeei as mãos pelos meus cachos. Quer saber? Problema dela se me ver pelado. Vou deixar de tomar o meu banho por causa dos outros?
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O Segredo da Chuva
Ficțiune adolescențiEm busca de novos horizontes, uma família decide se mudar para uma cidade litorânea, chamada Colina Azul. Bernardo, um nerd adolescente de dezesseis anos de idade, é o filho mais velho. O rapaz e sua família passam a morar numa casa antiga e mais in...