✧ Família é a que temos ✧Quando estava prestes a rabiscar no caderno o quarto boneco de palitinho, parei no meio do caminho e foi surgindo... uma tristeza dentro de mim.
Era como se meu pai estivesse se desconectando da nossa família.
Não gosto de ver a minha mãe chorando, ainda mais quando o motivo era o meu pai.
Cara, eles eram feitos um para o outro! É tão feliz, tão perfeito ver os dois juntos! É como se eles se completassem.
E é isso que eu imagino como deve ser o amor. Eu quero encontrar alguém que me complete.
Levantei os olhos do desenho e a procurei...
Belinda estava sentada de costas à alguns metros à minha frente, concentrada em seu livro.
Eu quero que este alguém se sinta completa comigo também.
Ela é linda. Mas eu precisava conhecê-la melhor. Vontade era o que não faltava, bastava me dar mais abertura. E quanto a mim, um pouco mais de ousadia, sair da minha zona de conforto.
Terminara de desenhar uma réplica do adesivo do carro de meu pai, da nossa família em versão boneco de palito. Ao lado do quarto bonequinho, havia um outro que havia desenhado, porém apaguei por ter ficado mal feito. Mas como a borracha já não era das melhores, ainda dava para ver o esboço.
Amélia tinha que ser tão complicada?
O que aconteceu em sua vida para que ela se tornasse assim?
O que a prendia àquela casa? O que a impedia de partir?
Tantas perguntas e nenhuma resposta.
Olhei para o lado e notei Carina observando a minha obra de arte. Ela tomou o caderno de minha mão e começou a rabiscar por cima do meu desenho. Acho que a entusiasmei a melhorá-lo. Encarei-a, fingindo estar magoado, e ela nem me deu bola. Resolvi então começar a prestar atenção à aula.
Momentos depois, já estávamos no pátio, próximos à cantina. Distraído, conversando com alguns conhecidos, olhei para o pequeno grupo de alunos à minha frente e sem querer reparei em um casal que se beijava às escondidas, num vão debaixo da escada que dava para o primeiro andar. Quando olhei um pouco melhor, a decepção me atingira em cheio.
Era Belinda... com Noah.
Eles se beijavam vagarosamente, como se tivessem todo o tempo do mundo, e como se não houvesse ninguém mais além deles.
Eu não saberia dizer qual sentimento estava mais forte dentro de mim. Era uma mistura de choque, com decepção e com certeza, muita raiva.
Tinha que ser justo com ele?
— É, meu amigo — Gio se posicionou ao meu lado — Pra certas coisas não há explicação! As mulheres são uma incógnita pra mim. Os bonzinhos só se lascam! — deu-me dois tapinhas no ombro e saiu. Também me retirei, porque aquela situação era desconcertante demais. Eu levei um soco por causa dessa garota, e...
Parei um instante de caminhar e decidi voltar para a sala. Foi quando senti novamente Giovani no meu encalço:
— Cara, tem alguém que vale muito mais a pena investir — acenou a cabeça na direção de Carina, que estava sentada num banco no corredor entre as salas, mexendo no celular.
Ele havia tocado num ponto um tanto complicado. Algo que eu estava evitando pensar no assunto.
Ignorei-o e segui até a nossa sala.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Segredo da Chuva
Teen FictionEm busca de novos horizontes, uma família decide se mudar para uma cidade litorânea, chamada Colina Azul. Bernardo, um nerd adolescente de dezesseis anos de idade, é o filho mais velho. O rapaz e sua família passam a morar numa casa antiga e mais in...