Capítulo 7

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✧ A terceira vez ✧

Desde aquela noite, eu tinha virado praticamente um zumbi. Que dizer, eu não pensava em outra coisa a não ser no que havia ocorrido. Na manhã seguinte fui para o colégio, mas não me concentrei em nada. O medo e a curiosidade se misturavam dentro de mim.

Revi Carina no colégio. Por sinal, ela parecia um pouco tímida em relação à última vez que nos vimos. E reconheci também outro amigo de infância: Giovani. Ele agora era mais alto do que eu. Depois do intervalo, sentamos os três juntos durante a aula.

Quando estava na escola ou qualquer outro lugar, eu me sentia bem mais tranquilo. Mas não deixava de pensar o que faria, quando chegasse em casa. Eu já não ia mais ao meu quarto. Passei a usar o banheiro do quarto de hóspedes, que estava vazio. Até pensei em passar a dormir neste, mas minha mãe vivia falando que planejava fazer algo por ali. Quando ela me viu, dei como desculpa que me sentia desconfortável em compartilhar o mesmo banheiro que Stefany.

E nas horas em que eu entrava e saia correndo do meu quarto, quando precisava pegar algo, como alguma roupa? Chamar de loucura é pouco.

Já se passaram três dias nessa agonia. E as noites no sofá da sala me renderam vários pesadelos.



Hoje acordei meio nervoso. Porque depois da escola, Giovani ficou de passar a tarde aqui em casa para fazermos um trabalho em dupla. E é claro, faríamos no meu quarto. Que desculpa eu daria agora? Seria complicado manter a curiosidade de Giovani à distância.

Ontem eu tentei conversar sobre isso com minha mãe. Mas ficou somente no "tentar", pois na hora gaguejei muito e inventei outra coisa, mudei de assunto. O que ela iria pensar? Que eu não estava batendo bem das ideias, é evidente.

Depois que chegamos da escola, eu e Giovani fomos almoçar. Era ele quem conversava mais, eu só respondia às vezes. Minha cabeça tentava maquinar alguma forma de evitar o pior. O aviso foi bem claro pra mim naquela noite.

Ao terminar o almoço, pegamos nossas mochilas e subimos para o quarto. A porta estava fechada, como sempre. Pensei em passar direto e fingir que meu quarto era o de hóspedes. Mas ele veria que não tem nada meu lá e minha mãe poderia não gostar. Então tomei coragem e abri a porta do até então, meu quarto. Convidei-o para entrar.

— Cara, seu quarto é enorme! Que massa! — Giovani exclamou, jogando sua mochila na minha cama — Tem até uma varanda! — Sorriu, abrindo as portas.

— É, mas não ficaremos aqui por muito tempo. O que é bom, dura pouco. — Comentei, fingindo desânimo.

— Sério? Por quê? Mal chegaram... — Sentou na cama, fazendo companhia ao meu desânimo.

— Viemos com a intenção de ajeitar a casa, fazer algumas reformas. Minha mãe disse que vamos vender! Mas acho que viemos mesmo pra tirar uma lasquinha, antes de passarmos essa maravilha pra outra pessoa — Coitado de quem comprar esta casa...

— Que pena! Ah, seu eu tivesse money! — disse, deitando-se na cama e cruzando as pernas.

— É, "se" você tivesse! Mas não tem pois é um pé-rapado, isso sim! — Rimos e ele jogou o travesseiro em mim, como resposta. Esfreguei seu cabelo crespo com uma das mãos e sentei de frente para o computador.

Giovani é um cara legal. Não tão nerd quanto Carina, por incrível que pareça. Ele mudou bastante desde a época em que nos conhecemos. Como já disse, ficou mais alto e é um dos alunos mais inteligentes da sala. A única coisa que me desagradou um pouco quando nos falamos na primeira vez desde que voltei pra esta cidade, é que ele é meio fofoqueiro. Entre uma conversa e outra, adora comentar os últimos babados. Com ele você pode se manter informado, mas o tempo todo enche o saco.

O Segredo da ChuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora