O Segredo da Chuva

Capítulo 2

✧  Férias  ✧

Dormi como um bebê naquela noite. Não me senti nem um pouco entranho no novo quarto, nem parecia que havíamos mudado para cá ontem. Esqueci de mencionar que iria dividir o banheiro com Stefany, esse era o lado ruim da história. De certa forma, o banheiro era uma ligação entre nossos quartos. Se eu quisesse ir para o dela, poderia ir pelo banheiro e ela também poderia fazer o mesmo se fosse para o meu. Mas claro que isso não aconteceria. O problema seria justamente compartilhá-lo, decidir quem usaria primeiro. Minha irmã demora uma década para se arrumar, como toda garota normal. Já eu, além de ser igual neste quesito, também sou espaçoso — muito espaçoso, não vou mentir.

No quarto havia também uma espécie de armário embutido na parede. Era uma porta com frestas, digamos assim, um pouco vazada. Dentro não havia prateleiras, acho que terei que falar com meu pai sobre isso. O engraçado que uma pessoa poderia perfeitamente se esconder ali. Assim que acordei e reparei nele, tratei logo de experimentá-lo. Claro que não havia lógica nisso e nunca teria motivos para me esconder naquele lugar como uma criança. Mas como sou muito curioso, entrei e fiquei um tempinho lá dentro. Reparei que pelas frestas dava para ver quem estava no quarto, mas quem estivesse do lado de fora não conseguiria ver se tinha alguém dentro do armário. Assim que saí — espirrando horrores e um pouco arrependido de ter feito isso — guardei minhas malas e o fechei logo em seguida.

 
Depois de todos terem tomado o café da manhã, minha mãe nos deu tarefas. No caso, tarefas domésticas para serem cumpridas. Aquela casa estava fechada há um bom tempo, havia poeira suficiente para sufocar alguém. A noite não foi tão tranquila assim como eu havia dito, pois tive um pouco de dificuldade para dormir no inicio justamente por conta da poeira. Além dos meus próprios espirros, deu para ouvir os espirros vindos dos outros quartos.

Em comparação com Stefany, fiquei com a maior parte das tarefas. Inclusive tive que ajudar meu pai a arrumar a garagem. Esta pelo visto estava há muito mais tempo sem ser usada do que a casa.

Depois do almoço, fiquei descansando na varanda do meu quarto. Deitei-me no chão mesmo, para ficar observando o céu. Havia muitas nuvens, isso talvez significasse que choveria em breve. Nem para começar a chover agora, neste exato momento... Quem nunca tomou banho de chuva? É algo bom, prazeroso... Nos bons momentos, não quando estamos atrasados para algum compromisso. Na infância é um bom exemplo. Minha mãe sempre ficava doida a me ver jogar bola na chuva, corria atrás de mim. Isso já faz algum tempo, quando era moleque. De acordo com ela, ainda sou um moleque. Com vários centímetros a mais, é claro.

Será ... Será que verei novamente as pessoas que conheci quando morava nesta cidade há uns anos atrás? Não lembrava muito bem daqui e me surpreendi com as informações que minha mãe me passou. Não é tão pequena quanto eu pensava, possuindo aproximadamente 17.000 habitantes. Se chamava "Colina Azul" por ter um pequeno morro em volta do litoral, com uma praia que atrai milhares de turistas durante o verão, que quisessem um pouco de sossego e privacidade. Impressionante como o Brasil é imenso, com tanta diversidade... E geralmente só ouvimos falar das cidades grandes.

Lembro que tinha feito alguns amigos, sim. Dois em especial. Lembro deles em versão "mini", pois já devem ter crescido. Tentando me lembrar das feições de cada um, do nada ouvi uma gritaria vinda do jardim:

— Bê! Desça aqui! Mamãe tá chamando a gente!

Levantei-me a contragosto e fui correndo pela casa, até chegar ao jardim. Sorte que não estava fazendo o mesmo calor de ontem.

— Meninos! Vamos ajudar aqui, venham! Olha que piscina linda vamos ter que limpar hoje... Mãos à obra! — Minha mãe já estava arregaçando as mangas.