Capítulo 5

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✧ Vegetal sem Nome ✧


Para frente, para trás... Para frente, para trás... Movimentava-me com impaciência, no sofá balanço da varanda. O tédio estava me matando e eu que queria matar ele.

Não tinha sequer alguma coisa interessante para fazer. Nada! Nem interessado na nova escola eu estava.

E o que aconteceu no dia anterior...

Hoje já é sábado. Faltava um dia para voltarmos à escola.

Não tinha como... Stefany já estava na escada, conversando com minha mãe.

Acho que na segunda irei acordar depois dela, para não termos que ir juntos pra escola.

Sinto que isso é besteira para me preocupar. Mas que é estranho, isso é... Talvez ela tenha colocado os livros atrás da porta bem rápido e eu não vi...

Pensando em duas coisas ao mesmo tempo, ouvi um "bafafá" dentro de casa. Fiquei curioso e resolvi verificar.

Entrei e segui até a cozinha. Minha mãe estava olhando a geladeira, enquanto meu pai vasculhava dentro de uma caixa de isopor na mesa.

— Pai, vamos logo com isso! Senão vamos ficar pouco tempo por lá, o sol vai esquentar muito! — Chegou Stefany de biquíni rosa, toda se achando.

— Menina, vá pôr um short! — gritou ele.

— O que tá rolando aqui? — Questionei, sentindo-me "o excluído". Precisava de toda essa arrumação, somente para irem à piscina aqui do lado?

— Vamos pra praia! Temos que aproveitar que está fazendo sol lá fora! — respondeu minha mãe toda animada, saindo de perto da geladeira. Usava um lindo maiô azul ciano, por baixo de um vestido branco de tecido leve.

— Até que enfim, né? Só andava chovendo nesta cidade! — reclama Stefany, brincando com a embalagem do protetor solar.

— Estamos no inverno, vocês queriam o quê? Você vem também, não é? Vamos, vá colocar um calção! Rápido, que já estamos atrasados! — chamou-me meu pai, fechando a caixa de isopor e a colocando em seu ombro esquerdo. Em seguida, todos saíram de casa, só restando eu na cozinha.

— Bernardo! Anda logo! — chamaram mais um vez, corri até a varanda para vê-los partir. Meu corpo não estava pedindo praia naquele momento.

— Eu não vou gente! Prefiro ficar em casa mesmo...

— Tem certeza? — Minha mãe veio até mim e colocou sua mão em minha testa, fingindo preocupação. Só por que eu não queria ir?

— Apenas não tô no clima pra sair! — Afastei sua mão e lhe dei um beijo.

— Ok, então! Fique aí cuidando da casa! Até mais tarde! — despediu-se meu pai, já se enfiando no carro, no banco do motorista.

— Nos divertiremos por você, maninho! — exclamou Stefany, dando língua em seguida. Ainda bem que ela vai junto...

— Tchau, meu amor! Se cuida! — Minha mãe me jogou um beijo no ar e entrou no carro também.





Tédio... Passei algumas horas vendo televisão na sala. Afinal, por que eu não quis ir junto também?

Tanto filme inútil passando. Resolvi desligar a TV e me enterrei no sofá. Não sei quanto tempo dormi, só sei que acordei com o barulho da chuva e de algo batendo muito forte no andar de cima. Que horas eram? Procurei o celular e não o encontrei. Levantei-me a contragosto, arrastando o chinelo com os pés em direção às escadas. Onde está todo mundo? Na praia, seu idiota. Com essa chuva? Haha, foi melhor ter ficado em casa.

Acendi as luzes, subi as escadas e fui até o meu quarto. Com essa chuva, tudo escureceu, parecia até que já era final de tarde. Ou será que dormi demais? E o povo que não chega?

Já me aproximando do quarto, percebi que a porta estava entreaberta. Pela fresta, deu para ver que as portas da varanda abriam e fechavam a ponto de bater na parede por conta da ventania. Faltando somente dois passos da entrada do quarto, vislumbrei dois olhos esbugalhados num rosto extremamente pálido e a porta se fechou violentamente. O som estridente coincidiu com uma trovoada lá fora. Tomei um grande susto, que até congelei no lugar. Havia alguém no meu quarto.

Mas o que era aquilo? Precisava fazer algo... Assim que me recompus do susto, a luz do corredor se apagou. Dei alguns passos para trás e segurei-me fortemente no corrimão da escada atrás de mim. A porta do quarto abriu sozinha, aos poucos, deixando novamente uma fresta. Vi um claro repentino de relâmpago e logo depois o mesmo par de olhos fixados em mim, a poucos centímetros do chão. Não consegui enxergar o rosto em si. Fiquei confuso, não sabia se corria... Não tive tempo para pensar, o par de olhos foi tomando altitude, até que ficaram numa estatura muito superior à minha. Minhas pernas ficaram bambas. Era maior que eu. Os olhos se estreitaram e de repente, um vento forte abriu a porta, sugando tudo que havia do lado de fora para o interior do quarto, inclusive eu. Minhas mãos escorregaram do corrimão da escada e bati o ombro esquerdo no chão ao ser sugado pela porta. Fui parar no fundo do quarto, próximo ao banheiro. Bati com as costas na parede e fiquei sem ar por alguns instantes.

Naquela hora, fiquei agoniado com a escuridão do quarto, que não revelava nada. Não era para estar escuro assim... Isso me deixava ainda mais aflito e consequentemente, implorando por mais oxigênio. Em alguns momentos, com a ajuda da luz dos relâmpagos, puder notar que o chão estava repleto de coisas... Respirando melhor, levantei-me com cuidado, sentindo o ombro doer um pouco. Tentava enxergar o máximo que podia do quarto. As portas da varanda estavam abertas, tratei de fechá-las. "A Coisa" podia estar do lado de fora. Idiotice minha apenas fazer isso. Seja lá quem for, qualquer um poderia quebrar facilmente com apenas uns chutes. Um clarão de relâmpago iluminou novamente o quarto, então pude enxergar melhor. Tudo estava completamente revirado. Todas as minhas coisas estavam largadas no chão, incluindo minhas roupas. O guarda-roupa todo aberto... haviam coisas espalhadas pela cama também... Uma palavra me veio à mente: Ladrão.

Ouvindo somente o som da minha respiração, tentava identificar o estrago que havia ficado meu quarto. Assim que me lembrei de acender o interruptor, de novo um clarão de relâmpago acompanhado de um trovão, iluminou precariamente o quarto. Voltei minha atenção para o espelho de uma das portas do guarda-roupa. Em seu reflexo, pude ver a silhueta de uma garota e então reconheci seu olhar ameaçador. Assim que a vi, algo me atingiu tão forte que me jogou de encontro à parede. Não perdi tempo e logo me recompus, saindo cambaleando do quarto. Fiquei tão desnorteado que eu não sei como consegui descer as escadas com a casa totalmente às escuras. Assim que cheguei à sala, fui até a porta de saída, libertando-me daquela casa dos infernos. Não fiquei na varanda, passei pelo portão e corri vacilante até o outro lado da rua. Deixei-me cair sobre a calçada, mesmo debaixo de chuva.






 Deixei-me cair sobre a calçada, mesmo debaixo de chuva

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Olá... Verdade, muito tempo sem publicar capítulo. Estou com saudades de escrever!

Espero que tenham gostado, em breve irei publicar mais uma parte desta história.

Beijos!

Babi 🍀

O Segredo da ChuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora