Capítulo 10

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— Essa foto... — Márcia olhava a fotografia. — Certa vez um rapaz bateu aqui na porta com ela em mãos, perguntando se eu às conhecia.

— Um rapaz? — perguntou Rafaella se inclinando no outro sofá. — Quem é essa pessoa com minha mãe? A senhora?

A mulher negou.


***

Era o final dos anos 80.

Enquanto uma usava conjuntinhos de alfaiataria, a outra jeans e All-Stars. Uma ouvia MPB, a outra Pop-Rock.

A decisão das amigas de ir ao boliche foi de última hora naquele sábado à tarde.

— Ilda já deu tantas gorjetas para esse homem levantar os pinos mais rápido, que já sinto que ele está prestes a levar toda a fortuna da familia dela — comentou a amiga rindo enquanto aguardavam.

Ilda revirava os olhos, quando eles caíram sobre uma moça que às observava de longe. Seus cabelos eram notados há quilômetros de distância e a beleza poderia ser considerada um golpe no estômago de qualquer jovem da idade.

Ela tem estilo, pensou antes de ir pegar mais uma bola e a jogada não valer o tempo que gastou esperando levantarem os pinos. As duas amigas riram e ela levantou as mãos desistindo.

Sabia que precisava voltar logo para casa, tinham um jantar com convidados naquela noite.

— Vamos ficar um pouco mais — avisou uma das amigas, então se despediram.

Ilda já saía do boliche quando observou caminhando ao lado a garota que antes observava ela.

— Que tal o playcenter? — perguntou a estranha de repente. — O boliche.

— Bem melhor, é automático — Ilda riu.

— Marta! — Ela estendeu a mão para a outra que observou a palma antes de apertar.

— Ilda — respondeu com um sorriso.

— Então, quando vamos? — A outra franziu o cenho. — Ao playcenter.

Elas trocaram contato e no processo descobriram não morar tão longe.

Duas semanas depois Ilda ansiosa esperava no portão de entrada do parque até avistar Marta acenando ao longe.

Enquanto conversavam elas assistiram as apresentação dos golfinhos, da orca e até a Monga uma mulher que se transformava em um gorila durante um processo que deixava o público extremamente atento, mas com elas não funcionou, estavam mais interessadas uma na outra.

A amizade despretensiosa se estendeu por dois anos. Marta visitava a casa de Ilda, mesmo não sendo tão bem-vinda devido a diferença social. Até que as duas perceberam que algo havia mudado.

Foi em uma tarde de sábado na casa de Marta, deitadas na cama sem fazer ou dizer nada — com os sentimentos confusos — que uma olhou para a outra e simplesmente se beijaram.

***

— Ela foi o primeiro e único amor de sua tia — dizia Márcia com os olhos na fotografia. — Eu fui a única para quem ela se abriu. E sei como tinha muito medo. As coisas eram muito diferentes de hoje em dia. Por isso Marta fugiu daqueles sentimentos e fez besteira. Engravidou e nossa família obrigou casar, mas infelizmente ela não resistiu ao parto.

A mulher secou uma lágrima que escorria. Gizelly segurou as mãos da mãe que olhou para Rafaella que não foi capaz de permanecer alí e saiu rapidamente.

— Elas levaram essa história para o túmulo. E pensei em fazer o mesmo. Mas lembrando tudo o que vi e ouvi de minha irmã, o quanto ela amou, mesmo com medo. E o quanto sofreu ao casar, eu me sinto uma mãe terrível por ter permitido que aquele homem te levasse.

O Segredo dos KalimannOnde histórias criam vida. Descubra agora