III

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Estava quase caindo, dormia profundamente  apoiada sobre a palma da mão, uma pequena listra de baba desceu até seu queixo antes de bater a cabeça com tudo na mesa.

Risos ecoavam pela sala que assistiam esse momento vergonhoso.

Acordei atordoada com a batida, rapidamente levei a minha mão até a minha testa a tocando-a levemente. Doloroso, isso sim era.

ㅡ Sato - o professor me chamou - o diretor precisa de você na diretoria.

Me levantei ainda sentindo um pouco de dor, fui me arrastando pelos corredores até chegar na sala do velhote. Bati na porta e escutei um "entre" abafado, arrastei a porta para o lado e entrei.

ㅡ Pode se sentar, senhorita Sato - suas mãos se dirigiram até a cadeira em frente a mesa para que eu sentasse, e assim o fiz.

ㅡ O que queria falar comigo? - me acomodei no encosto da cadeira.

ㅡ Já faz um mês desde que entrou no meio do semestre - suspirou fundo - suas notas são ótimas, mas não posso dizer o mesmo em matemática, física e química, por isso queria te indicar que escolhesse um clube.

Minha mãe ficaria decepcionada se ouvisse isso, realmente não sou boa com essas matérias, posso até imaginar o zero bem redondo e  vermelho estampado em meu boletim. 

Além disso, clubes são os melhores para encobrir notas baixas, ajudavam na maioria das vezes a conseguir pontos extras.

Dependendo do quão ruim estavam minhas notas eu podia apelar para a entrada de um clube.

ㅡ Não tenho a minima ideia de qual clube entrar - afirmei.

ㅡ Bom, o clube de vôlei está precisando de uma ajuda extra, talvez você deveria passar por lá.

Parecia ótimo, além de conhecer os membros e tendo uma boa relação com eles, eu não me sentiria incomodada. Assenti com a cabeça e fui dispensada, havia perdido o fim da aula toda para ter essa conversa.

Fui até o banheiro e encarei meu reflexo no espelho, vi que ainda tinha rastros de baba em minha boca e me lavei antes de voltar a andar pelos corredores.

ㅡ Onde está indo? - alguém me barrou assim que saí do banheiro.

ㅡ E é da sua conta? - vi o canto dos seus olhos se estreitando.

ㅡ Sei que vai para o clube, vamos juntos.

ㅡ Tá Tobio, agora me diz, estou pensando em entrar para o clube, o que acha? 

ㅡ Você joga vôlei? - neguei com um balançar de dedo.

ㅡ Não, estou falando da parte de assistência junto com a Shimizu.

ㅡ Do que estão falando? - Hinata se juntou a gente.

ㅡ A S/n-chan vai entrar para o clube - "chan", a sim, eu e Tobio somos íntimos o suficiente para usar esse tipo de honorífico, desde daquele dia ficamos próximos.

ㅡ Posso te chamar assim também? - Hinata exclamava esperançoso.

ㅡ Claro!

Chegamos no ginásio e todos estavam lá, inclusive o treinador Ukai. Me separo dos dois e vou até Shimizu, seria bom falar com ela que preciso de ajuda.

ㅡ Shimizu - me aproximei e ela logo me cumprimentou.

ㅡ Oi, S/n, do que precisa? - sorriu sem mostrar os dentes.

ㅡ Soube que estão precisando de ajuda, queria me unir à vocês - enrolei uma pequena mecha no dedo - posso?

ㅡ Claro! É uma ótima ideia, desde que o treinador Ukai e os novatos chegaram as coisas ficaram difíceis só para eu e  o Takeda-sensei - andava até o pequeno depósito - seria ótimo ter uma ajuda extra.

ㅡ Estão fui aceita? Quando começo? 

ㅡ Depois de assinar alguns papéis, agora.

ㅡ Agora? - afirmou - o que preciso fazer?

ㅡ Mantenha as bolas limpas, lave as toalhas e encha as garrafa, apenas isso por hoje.

Estava determinada, precisava dos pontos extras para ao menos tentar não ficar em recuperação, faço exatamente o que ela mandou, peguei algumas bolas que estavam em um cesto no canto da quadra e uma flanela que Shimizu havia me dado. 

Me afastei um pouco da quadra, não queria que uma bola viesse do nada e acertasse meu belo rosto. Fiquei uns 20 minutos ali até deixar todas as bolas brilhando, foi mais fácil do que imaginei.

Corri para a próxima etapa, lavar as toalhas, tinha um lavatório nos fundos do ginásio, era para lá que eu iria.

Recolhi todas as toalhas suadas e as lavei e estendi em um pequeno varal.

ㅡ Está indo bem - ouvi a voz de Shimizu atrás de mim.

Passei a mão na testa para tirar algumas gotículas de suor que se formaram  antes de respondê-la.

ㅡ Ah, obrigada - sorri singelamente.

ㅡ Vou encher essas garrafas, os meninos já vão encerrar.

ㅡ Pode deixar isso comigo.

ㅡ Não precisa - ela some indo até o bebedouro.

Suspiro aliviada e entro para dentro do ginásio vendo todos terminarem o alongamento.

ㅡ Vocês souberam? A S/n vai entrar para a equipe - Sugawara dizia empurrando as costas de Asahi.

 ㅡ Sério? - Nishinoya pulava de um canto para outro.

ㅡ Na verdade, ela é tão burra que está atrás de pontos extras - o tom de sagacidade ecoou pela quadra.

ㅡ Ah claro, isso mesmo Tsukishima Kei, sou tão burra que estou me obrigando a ficar no mesmo lugar que um idiota como você - debochei.

Uma tensão corria entre nós, ambos com os olhos cerrados que se encaravam com pura rivalidade.

ㅡ Ei, parem com isso - Asahi falou meio nervoso.

ㅡ Você é tão idiota - resmungou o loiro.

ㅡ Idiota é você, ainda gosta de dinossauros? - provoquei.

ㅡ E você? Ainda guarda aquele gorro? - meus olhos se arregalaram.

Podia imaginar o quão babaca Kei teria se tornado, mas tocar nesse assunto do nada era um ato extremamente babaca.

O gorro na qual citado, era o gorro de lã rosa que Trish costumava usar quando o frio surgia. Senti minhas bochechas avermelharem, não por vergonha, mas sim por frustração e raiva.

Meus olhos ousaram lacrimejar, não queria chorar, então fiz o máximo para não desabar em frente aos meus senpais.

ㅡ Que tensão é essa? - Ukai chegava quebrando aquele clima no ar - terminem logo com isso, não devem chegar tarde em casa.

ㅡ Shizume, S/n, já podem ir estão liberadas - Takeda falava tocando meu ombro.

Apenas me viro sem dizer nada, estava desacreditada no que ouvia falado.

Queria quebrar tudo em minha frente, merda! Tsukishima sabia o quão apegada eu era a ela! Se tivesse um senso comum, mesmo depois das provocações nunca teria citado isso. O gorro de Trish foi a única coisa que me fazia sentir a presença dela além das fotos.

Vivemos tantas coisas juntas, feitas como irmãs inseparáveis.

Trish era o meu raia de sol, minha luz guia e meu conforto, me sentia tão bem em saber que tinha alguém para confiar e era amargo saber que ela não estava mais aqui.

Meu ponto chave havia morrido.

Quando cheguei em casa nem jantei, apenas subi para o meu quarto e adormeci em posição fetal abraçada com um travesseiro e com algumas lágrimas nos olhos.


•Um capítulo mais curto, os próximos talvez serão majs longos que esses.

Thank's por continuarem lendo, até o próximo capítulo!

Amor Sagaz ~ Kei Tsukishima ~Onde histórias criam vida. Descubra agora