17. De pouquinho em pouquinho

569 67 151
                                    

Acordo com o som da campainha tocando. De mau-humor, me arrasto preguiçosamente para fora da cama, sentindo o piso gélido abaixo de mim. Quando viro o corredor em direção à porta, me deparo com ela já aberta. Milo em pé e uma Scorpia sorridente cumprimentando-o.

Ele ouve o som dos meus passos e vira a cabeça para trás.

— Era a tia Iscorpia — anuncia, culpado.

— O que eu falei sobre abrir a porta para estranhos? — retalho, a expressão séria. Milo abaixa a cabeça, começando a mexer na barra do pijama, olhos de cachorrinhos em suas orbes escuras, os lábios quase formando um biquinho, e sinto minha cara feia suavizar. Ele sabe muito bem como sair ileso de uma situação dessas. Me aproximo e beijo sua bochecha só para ser afastada quase imediatamente. — Não faça mais isso, mamãe te ama. — E assim, tão rápido quanto o nascer de um novo dia, a expressão culpada do meu filho desaparece.

Crispo os olhos em sua direção e ele sai correndo daqui. Assim que ele some do meu campo de visão, me viro para dar atenção a Scorpia, cara de zumbi e tudo mais, para encontrá-la sorridente e linda.

— Bom dia, Catra! — ela se aproxima e me dá um abraço curto. Está quente, então é bom, porquê o piso está congelando meu pé e a mim. — Dormiu bem? — Scorpia começa a fechar a porta atrás dela.

— Ainda não terminei de dormir — grunho, voltando para o quarto.

— Bons sonhos!

Respondo algo inteligível.

[...]

Scorpia faz o café da manhã e apronta Milo para a escola. Quando a hora chega, eu me arrumo nos últimos 30 segundos, engulo um copo de café, pego as chaves do carro e saímos.

Na portaria o síndico cumprimenta Milo com carinho, chegando até a brincar um pouco com ele. Porém, quando o homem se vira em minha direção, tenta ser educado, mas está torcendo um pouco o nariz. Retribuo a gentileza, mas o que eu quero mesmo mesmo é mandar ele ir tomar no cu.

Na escola, eu fico de longe, observando as interações do meu filho com os colegas de classe, verificando se está tudo normal, se ele vai ficar bem, antes de finalmente conseguir ir embora.

Assim que chego em casa, apesar de já estar cansada, começo a trabalhar, mal cumprimentando Scorpia quando a vejo.

Meu "escritório" é divido em duas partes. O lugar onde a parte técnica por trás das apresentações acontecem e o local onde eu realmente treino, o espaço cercado de espelhos com uma barra de pole dance no meio. Eu poderia ir treinar no clube, como muitos outros fazem, mas como eu tenho condições para isso, prefiro a privacidade do meu lar. Economizo muito mais tempo assim. E é claro, tem ocasiões em que treinar em casa simplesmente não vai dar certo, seja por causa da boate, ou do tamanho do palco, da circunferência, e etc... Mas na grande maioria das vezes, treinar por aqui dá certo, já que boa parte das minhas apresentações são no clube Crimson Waste.

O tempo voa, assim como normalmente acontece quando estou trabalhando. Estava ouvindo pela milésima vez o remix que estou fazendo de uma música quando ouço Scorpia gritar:

— Indo buscar o bebê, não esqueça de fazer uma pausa! — E a porta é batida.

O aviso de Scorpia me surpreende e pela primeira vez eu olho as horas no relógio. 11h45m. Milo sai da escola às 12h30m. O que significa que em breve Starla estará aqui para aprontá-lo e levá-lo para as suas atividades extracurriculares.

Me espreguiço na cadeira e sinto minhas juntas estalarem. Não é incomum isso acontecer. Eu trabalhar por horas a fio sem nem notar, quero dizer, mas eu sempre termino surpresa por ser capaz de fazer isso.

Você é tudo o que eu quero (Catradora +18)Onde histórias criam vida. Descubra agora