31. Tempo

508 36 184
                                    

trilha sonora: skyfall.

[...]

Eu desabo assim que termino de fechar a porta do meu apartamento.

Sempre foi engraçado pensar nessas cenas onde o personagem principal, após passar por uma desilusão amorosa,  escorrega pelo objeto de madeira e caí lentamente até o chão ao som de uma música melodramática. Agora eu consigo entender. E o sentimento não é nada engraçado.

Tenho a sensação de que vim carregando meu coração despedaçado o mais forte que conseguia enquanto ia sentindo pedaços dele cair pela rua, sangue escorrendo dentre meus dedos. Eu ignorei os olhos ardentes, engoli cada nó que se alojou na minha garganta, que a cada vez que voltava, parecia maior. Ignorei a dor. Nos ossos, na alma. Eu suportei o máximo que pude até chegar em casa.

Porém, aqui, é como se tudo me lembrasse ela. Como se eu conseguisse sentir o cheiro dela, ouvir a voz dela, sentir ela, em cada espaço que me cerca. E isso aumenta a dor. A ponto das minhas pernas bambearem e eu cair no chão, porque até respirar se tornou insuportável.

E eu choro. Choro como se tivesse perdido alguém da minha família.

É isso que sinto. Luto.

Eu choro até meus olhos ficarem vermelhos e eu começar a me dar conta dá hora que corre no relógio e que até a minha dor precisa de hora marcada para acabar.

Eu não grito. Quase não soluço. Eu choro pelo máximo de tempo que posso e depois me arrasto pelo chão até o sofá.

[...]

Acontece que eu posso até controlar o choro, contudo, não posso controlar a dor. E quando me deitei no sofá, não tive mais forças para levantar. As lágrimas param, mas a dor me corrói de dentro para fora. É como se tivesse uma ferida aberta e inflamada bem dentro do meu coração.

Eu me sinto a pior pessoa do mundo quando não consigo controlar meu corpo e meu filho chega e eu ainda estou aqui. Eu digo a ele que a mamãe está doente, mas que não é nada grave e melhorarei em breve. E é como se eu estivesse mesmo, só que sem previsão de melhora.

Após isso, é como se tudo só piorasse.

Starla não faz perguntas. Ela é mais como eu. A ruiva me ajuda a ir para o quarto e indaga se eu preciso de alguma coisa. Eu me encolho na cama, abraçando os joelhos. Com a falta de resposta, Starla vai embora.

Scorpia é mais difícil de dispensar. Acredito que seja porque, antes de começar a trabalhar para mim, a mulher mais alta foi minha amiga. Cresceu comigo. Ela não liga se suas ações irão me desagradar. E em outros momentos, considero isso revigorante. Ter alguém que sei que não está tentando me bajular ao meu lado. Hoje, só é irritante.

Scorpia me obriga a tomar banho, comer, e aí, me põem na cama outra vez. Presumi que ela iria embora após isso, o que ela não faz. Scorpia deita na cama comigo e me abraça. Ela também não faz perguntas, tudo o que ela faz, é dizer "Sinto muito, Wildcat".

Eu me escondo no seu peito e começo a chorar novamente. E assim se inicia uma longa jornada de autopiedade.

[...]

Eu confesso, subestimei o quanto isso poderia machucar, pois, 24 horas depois, a coisa que eu mais quero no mundo é que a dor passe. Eu faria quase qualquer coisa para me livrar dela.

Exceto, é claro, ligar para Adora ou tentar encontrá-la de alguma forma.

Eu resisto ao segundo dia faltando ao trabalho, passando o dia inteiro na cama de pijama, sem comer ou tomar banho, e maratonando Jogos Mortais - o mais perto que cheguei de conseguir assistir algo sem um átomo de romance.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Feb 23 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Você é tudo o que eu quero (Catradora +18)Onde histórias criam vida. Descubra agora