9. Véu

847 95 395
                                    

betado por: Dorapuff

[...]

— Não! Você só pode tá brincando comigo! — Bato o pé no chão em indignação.

Huntara, que está atrás de mim e acabou de me assistir ser humilhada por um jogo idiota dos anos 90, ri.

Estreito os olhos em sua direção.

A platinada e eu estamos competindo para saber quem consegue chegar mais longe no sonic. O problema é que eu ainda não ganhei nenhuma vez e odeio perder.

— Eu sei que você está trapaceando — acuso, engrossando a voz para dar efeito dramático a minha frase e fico de frente para ela.

Huntara ri mais alto. Ela parece muito divertida com toda essa situação. Não posso deixar de notar o quão bem e jovial ela fica estando tão relaxada desse jeito.

— Vamos lá, loirinha, não seja uma má perdedora. A idade está ao meu favor. — Cruza os braços, presunçosa.

E é isso, só a lembrança de que Huntara é cinco anos mais velha do que eu faz minhas bochechas esquecerem.

Sempre fui fraca por mulheres mais velhas.

— Entendi. Isso explica muito, inclusive os pés de galinha, isso aqui é uma verruga? — Chego mais perto, apontando para o seu rosto.

A mais alta ergue uma sobrancelha em retaliação, mas ainda assim sorri.

— Quem é você? Regina George? — Começa a se aproximar, descruzando os braços. Instintivamente dou alguns passos para trás até encostar na máquina de fliperama. Huntara avança até quase nos tocarmos, então se aproxima do meu ouvido e sussurra: — Eu vou te mostrar como se faz. Vire-se.

Uma descarga elétrica percorre o meu corpo da cabeça aos pés. Estou suando quando me viro.

Recomeçamos a partida, desta vez com Huntara me guiando, sua mão em cima da minha.

"Eu" ganho, mas estaria mentindo se dissesse que ainda ligava para isso no fim do jogo.

[...]

Começamos no fliperama, depois comemos em um food truck e compramos um milkshake para cada. Viemos andando juntas até o meu prédio, sob a lua brilhante, o ar meio abafado da noite e o barulho das cigarras e da comunidade, contando histórias e fofocando sobre o trabalho. Tudo parecia perfeito até chegarmos na calçada e eu começar a ficar ansiosa.

O encontro foi perfeito. Na maioria das vezes, isso significa terminar o evento com um beijo de despedida.

E isso me lembra...

Me sinto mal do estômago.

Huntara começa a se aproximar. Ela pega a minha mão e tenho esperanças de que vá fazer como da outra vez e beijar meus dedos. Ao invés disso, olha profundamente nos meus olhos e segura delicadamente o meu queixo. Não reajo, fecho os olhos e espero.

Sinto um beijo no canto da minha boca e depois, mais nada.

A platinada sorri, os olhos calorosos, e começa a se afastar, de costas.

— Boa noite, A. — Faz uma reverência, vira-se e sai.

Solto a respiração que estava prendendo. Gostaria de não me sentir tão aliviada.

[...]

Quando entro em casa, está tudo uma zona, resultado de dois dias seguidos de compromissos que não tive como assimilar muito bem ainda e provavelmente só vou fazer isso quarta-feira, na terapia.

Você é tudo o que eu quero (Catradora +18)Onde histórias criam vida. Descubra agora