— Eu quero terminar.
O tic-tac do relógio pendurado na parede vibrou entre as estruturas quando ela piscou, numa tentativa fajuta de raciocinar enquanto ele desviava os olhos. O relógio marcou exatas oito horas da noite, como um decreto ardiloso, eternizado com cera quente e um selo pesaroso.
O martelo do tribunal decretando o fim da existência.
— O quê?
Mabel encarou Adam, seu namorado há quatro anos e melhor amigo há sete anos, assustada dos pés à cabeça.
— Porquê?
Adam ergueu seus olhos até ela, mas ficou em silêncio por alguns segundos.
— Eu conheci uma garota — e foi isso.
Mabel demorou um pouco para reagir. As engrenagens da sua mente emperraram e ela piscou para ele com a mesma expressão estoica que seu corpo estava acostumado a reagir em situações extremas, mas sua boca entreabriu quando ela perdeu o ar. A sensação amarga azeda dentro do estômago, e ela endireitou a postura e ergueu os ombros, como se aquilo fosse erguer muros de proteção ao seu redor. A atmosfera da lanchonete não parecia mais nada além de sufocante.
— Certo — seu rosto estava inexpressivo e sua voz soava vaga — Quando?
— Cinco meses — ele respondeu.
Os fios escuros do cabelo dele estavam recém cortados, trazendo a sensação de que ele era mais velho do que realmente era. Sua camiseta azul escura tinha mangas, os lábios estavam levemente franzidos e os olhos castanhos escuros dele estavam ligeiramente defensivos.
Ela não respondeu. E a toalha de mesa era quase do mesmo tom vermelho carmesim da camiseta que ela usava, há duas semanas atrás, quando percebeu que Adam estava mais estranho do que o normal. Catorze dias que decorreram de forma lenta e que a assombravam com uma sensação inquietante no peito.
E agora, as coisas parecem ter se tornado mais limpas e claras. E é como um estalo, um click, trazendo memórias de que, não, não foi apenas nessas últimas semanas.
Já fazia cerca de quase três meses desde que seu comportamento estava diferente. Abandonando o garoto que ela conheceu quando ainda era uma menina sonhadora, que idealizava seus maiores sonhos todos os dias antes de pegar no sono. E talvez o motivo do porquê ela sempre ignorou os sinais fosse a imagem que criou dele, a que ela desejou que ele fosse, e que se agarrou com todas as forças.
Ele quase não a encontrava mais para almoçar no refeitório; sempre cheio de desculpas, de ligações não atendidas, quieto e cheio de silêncio quando a encontrava. Mabel não lembrava a última vez que eles sequer deram as mãos, embora ela não fosse muito íntima a contato físico.
Ela deixou aquele aviso gritante que piscava incessantemente enterrado, ignorando qualquer tipo de pensamento. Sentia-se uma idiota. Era inacreditável pensar que sete anos foram resumidos a nada porque ele conheceu outra pessoa há cinco meses.
— Ela é filha de um dos sócios do meu pai — ele começou, parecendo inseguro. O coração de Mabel pulsava apreensivo, dolorido, e ela pôde escutar os batimentos ecoando em seus ouvidos. — Eu estive trabalhando com ele nesses últimos meses, você sabe, para assumir a empresa. Eu e ela acabamos nos vendo com frequência...
— Você me traiu? — ela disparou, de uma vez só. As palavras trouxeram um peso ainda maior quando ditas em voz alta.
Adam se assustou.
— Não — ele negou, com os olhos assustados — Eu nunca faria isso.
Mabel o encarou, crispando os lábios. Ela tentou ser racional, embora seu coração ainda estivesse retumbando e, quando tentou engolir a seco, desceu como espinhos em sua garganta. Ela levou a mão até a cabeça, apoiando os dedos na têmpora e sentindo uma dor de cabeça chegando. Tentando reunir toda a coragem que tinha para fazer a pergunta que no fundo já sabia a resposta.

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Entre competições e acordes de guitarra
RomanceMabel Campbell, a garota mais inteligente de toda a faculdade de acordo com a lista dos cem melhores alunos do ano, possui uma pedra no sapato. O nome dele é Oliver Cooper, o garoto de argolas pratas, sardas no rosto e um inconfundível ego irritant...