Oh, simplicidade, aonde você foi?
Eu estou ficando velho e preciso de algo em que confiarSomewhere Only We Know
***
— Posso te fazer uma pergunta?
Zoe, sua dupla para o trabalho, perguntou. Ela segurou a caneta entre os dedos e batucou suavemente enquanto esperava por uma resposta. Mabel, que havia sido pega de surpresa, demorou um segundo para entender enquanto erguia a cabeça do notebook.
Quase uma semana havia passado e, outra vez, Mabel se viu emaranhada entre as mesas da biblioteca e pilhas de livros. Quinta-feira estava rabiscado em volta do calendário e, ao longo dos dias, Mabel havia caído em uma rotina corriqueira e cansativa, levantando-se cedo para as aulas e, ao término delas, tecendo horas na biblioteca até que a lua subisse no céu.
Mabel assentiu para ela, olhando-a por cima da tela. Elas estavam quase terminando o trabalho, finalizando os detalhes.
Zoe se ajeitou na cadeira, como se estivesse criando coragem, e perguntou:
— O que tá rolando entre você e o Oliver Cooper?
Mabel piscou.
— Ai meu Deus, desculpa — ela rapidamente disse — Isso foi muito pessoal, né? Sinto muito. Eu não queria que soasse assim. É que... uh, todo mundo fica se perguntando o que tá rolando entre vocês. Sabe, é um pouco...
Enquanto ela tagarelava, Mabel piscou outra vez. Ela recuou um pouco, e não conseguiu culpar Zoe por sua curiosidade explícita.
Ela havia se encontrado com Oliver mais vezes do que estava acostumada ao longo da semana. Ele sempre achava uma maneira de encontrá-la nos poucos intervalos que Mabel tinha, fazendo-lhe companhia na hora do almoço com sua leveza e bom humor que agia como uma pausa reconfortante para o redemoinho de estresse que vinha atormentando-a. Entretanto, mesmo que ele aparecesse nesses instantes, Mabel tinha plena consciência, já tendo observado, que a sua rotina não se distanciava muito da dele. A única diferença era que ele frequentava a biblioteca da faculdade que ficava mais próxima do seu departamento.
À noite, enquanto reunia seus pertences para ir embora, Oliver cruzou o seu caminho duas vezes a caminho do dormitório. Eles caminharam juntos com uma conversa fácil e descontraída, até que, ao se desviar para seguir suas rotas, se despediram com um aceno.
Mabel olhou para a tela do notebook outra vez, encarando o arquivo aberto. Houve uma pausa antes dela responder.
— Somos só amigos.
Assim, ela voltou a digitar. Zoe não voltou a fazer mais nenhuma pergunta oportuna. Mabel ficou silenciosamente pensando sobre a pergunta dela pelo resto do dia. Depois de terminar o trabalho e se despedir de Zoe, enquanto caminhava pelos corredores da lojinha de conveniência perto da faculdade, guardando o seu suéter, jantando com Samantha e antes de dormir. Ela ficou aliviada por não tê-lo visto ao longo do dia e, na sexta-feira, embora sentisse a ânsia de encontrar o sorriso meigo e os olhos cor de mel que vieram lhe fazendo companhia ao longo dos dias, havia uma parte nela que desejou não vê-lo.
O dia passou como qualquer outro, e quando Mabel recebeu uma mensagem do irmão para avisá-la que a data do ensaio do casamento havia mudado para o dia seguinte devido ao prazo apertado que eles tinham, Mabel estremeceu. Ela entrou na agenda gravada no celular e se deparou com a data original que havia marcado há semanas atrás. Deveria ser apenas daqui a oito dias, no dia dezenove.
Mabel sabia que não podia mais continuar adiando. E embora seu coração batesse freneticamente em seu peito, num ritmo errático e desesperador, ela ergueu a cabeça, engoliu os espinhos em sua garganta e acordou no sábado de manhã com determinação e um pouco de coragem nas mãos.
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Entre competições e acordes de guitarra
RomansMabel Campbell, a garota mais inteligente de toda a faculdade - de acordo com a lista dos cem melhores do ano - possui uma pedra no sapato. Ele se chama Oliver Cooper, o garoto de argolas pratas, sardas no rosto e um inconfundível ego. O maldito lo...