cap36-O mensageiro-Bryanna

495 40 1
                                    

Bryanna Callen

O suor escorria pela minha testa, minha respiração já estava ofegante, mas isso não impedia que eu continuasse usando a espada para golpear constantemente o manequim. Com a guerra tão próxima, eu precisava treinar, devo estar impecável já que estarei no campo de batalha. Mas um manequim não é como um adversário de guerra, olhei ao redor quando meu olhar pairou sobre um dos guardas que estava ali em seu posto.

-Ei, você.-O chamei apontando a espada em sua direção

-Majestade?-Sua postura era ereta e o seu semblante sério

-Venha, lute comigo.-Ordenei gesticulando com a cabeça que se aproximasse

-Eu?-

-Sim, você. Venha.-Repeti e vi uma ponta de hesitação que não chegou a se concretizar, ele caminhou em minha direção e parou à minha frente.- Lute comigo como se eu fosse seu inimigo.-O instruí mas ele permaneceu parado.-É uma ordem.-Completei e assim ele fez. Sacou a sua espada e partiu para o ataque.
  O seu primeiro movimento foi uma tentativa de acertar o meu calcanhar, que foi barrado pela minha lâmina rapidamente, como os movimentos seguintes. Ele é um dos guardas, um soldado que compõe o meu exército e é muito habilidoso no que faz.
  Conseguimos segurar a luta por bastante tempo, com ambos defendendo aos ataques do outro.

-Tudo bem, basta. Obrigada-Encerrei a luta após alcançar um nível maior de exaustão, afinal estava lutando desde pouco antes do amanhecer, passei a noite em claro.

-Às suas ordens, majestade.-Ele fez uma reverência e então retornou ao seu posto.

  Eu recorri a um banho quente e acolhedor, com pétalas de rosas e essências que perfumavam a minha pele. Após sair dele fui para o escritório de meu pai, eu gostava de passar um tempo por lá, me fazia sentir próxima a ele.
  Hoje Annya está na sala do trono, como regente, atendendo à audiências não muito relevantes do império. Estou tentando aproximá-la mais dos assuntos do país, ela deve estar preparada para quando precisar assumir o trono, seja cedo ou tarde.
   Um toque na porta tirou a atenção de minha leitura de alguns papéis que estavam sobre a escrivaninha, assenti a entrada de quem estava batendo e o rosto de um criado surgiu encostado ao batente. Após fazer uma reverência ele disse:

-Perdão interrompê-la, majestade, mas há um comerciante na entrada do palácio insistindo em falar com a senhorita.-

-Comerciante?-Franzi a testa em uma expressão que tornava óbvia o meu desinteresse

-Já tentamos dispensá-lo mas ele jura que tem um assunto de vosso interesse, sobre a Hungria.- O nome citado fez com que eu me ajeitasse na poltrona, claramente interessada

-Mande-o entrar, vou recebê-lo aqui.-

-Sim, majestade.-Ele se curvou novamente e saiu para cumprir a ordem

Tamborilei os dedos sobre a mesa enquanto aguardava ansiosa e com certa curiosidade a chegada do tal comerciante. O que um comerciante poderia saber de meu interesse? Talvez ele tenha ouvido algo relevante, mercadores tendem a viajar bastante.
   Não demorou muito até que outro toque fosse desferido novamente contra a porta, era ele. Quando permiti a entrada, o guarda entrou adjunto a um homem de estatura não muito alta, o cabelo era castanho assim como os olhos, a pele branca, a barba bem aparada. Ele trajava uma túnica de um preto intenso, com alguns detalhes em vinho, a cor da calça era de mesmo tom escuro e as botas de couro.

-Deixe-nos a sós.-Ordenei olhando para o guarda

-Tem certeza, majestade?-

-Vá.-O dispensei com um gesto e ele agiu como ordenado, fechando a porta em seguida

-É um prazer estar diante de vossa alteza.-O homem disse se curvando

-Você não é comerciante.-Disparei após observá-lo

-O quê?-Ele me olhou confuso

-Suas vestes são requintadas demais para um comerciante, sua postura é impecável, o seu corpo bem delineado. Eu diria que é um nobre, um guerreiro.- Acusei sorrindo, ele deu uma leve risada

-Eu fico lisonjeado por parecer tal coisa, mas sou apenas um simples comerciante de Viena.-

-Não minta para mim, você nem sequer é Austríaco. Acha que eu não consigo notar o seu sotaque?-Aquele mesmo sotaque que eu poderia reconhecer de longe, o mesmo sotaque de Asher.- Muita coragem de um Húngaro vir até mim.- As minhas últimas palavras mexeram visivelmente com ele, eu pude vê-lo arregalar brevemente os olhos, estava surpreso, com medo, não esperava ser descoberto.

-Tudo bem, você me pegou.-Ergueu os braços em sinal de rendição e apalpei a minha espada na bainha.- Sim, eu sou da Hungria, e não sou um comerciante. O meu nome é  Phillip, Phillip Alvoir. O seu palpite estava certo, eu sou sim um nobre e  guerreiro.-

-O que você quer aqui, Phillip de Alvoir?-Perguntei me levantando da poltrona e contornando a mesa

-Eu vim trazer uma mensagem.-

-Nobre, guerreiro e mensageiro...interessante.-Disse com sarcasmo- Diga-me, Phillip, veio trazer essa mensagem em nome de quem?-

-Bem.-Ele começou, era nítido o seu temor em revelar em nome de quem vinha.-A mensagem é de Asher Relish.-Engoliu a seco após revelar.
  A minha mão agiu rápido quando sacou a espada e a levou em direção a sua jugular, encostada em seu pescoço como uma ameça.

-Como ousa?!-Vociferei sentindo o meu sangue queimar- O que aquele traidor te mandou dizer? Veio debochar de mim?-

-Não, não, acalme-se, por favor.-Ele ergueu os braços novamente, se rendendo, não pretendia reagir, até porque se o fizesse seria morto em fração de segundos- O Asher não matou o seu pai, o rei Arthur agiu sozinho pelas suas costas.-Disse e aquelas palavras pesaram em uma luta interior em mim. Tudo o que eu mais queria era acreditar, acreditar que ele não estava envolvido, que não tinha me traído, mas como tudo aconteceu, a desconfiança gritava mais alto.

-Essa é a mensagem? Ele quer tentar me enganar outra vez?Acha que eu sou tola?-

-Não, a mensagem não é essa. Mas eu juro, o príncipe Asher não sabia que o rei Arthur mataria o seu pai. Ele pede um encontro para explicar tudo, o que ele vai dizer pode acabar com a guerra.-Disse e não contive uma risada

-Só o que pode acabar com essa guerra é a cabeça desses dois traidores em uma bandeja.-

-Ele implora que a senhorita lhe conceda uma última chance para ouví-lo, em nome dos momentos em que passaram juntos. Eu prometo que é seguro.-

-E de que vale a sua palavra?eu nem o conheço.-

-Não conhece, mas eu sei que pode ler as pessoas, com uma análise rápida você me decifrou. Então olhe para mim e veja se eu estou mentindo.-Ele me encarou no fundo dos olhos e eu fiz o mesmo. Ele realmente parecia sincero, e correu o risco de vir até aqui, em terras inimigas para trazer a mensagem.

-Nada do que ele vá dizer vai mudar o que está por vir.-Disse abaixando a espada e percebi o alívio em seu rosto, liberando a tensão.

-Ao menos escute-o, eu sei que a senhorita precisa disso tanto quanto ele.-Insistiu mas permaneci calada- Caso decida dar essa oportunidade a ele, ele te espera no lugar onde tudo começou, ao pôr do sol.-
   "Lugar onde tudo começou" ele está falando da floresta Demerara, foi lá que conheci Asher, onde vimos os poloneses pela primeira vez, foi lá o início de tudo.

-Ele me disse que a senhorita é uma mulher muito inteligente, então confiarei que saberá o que fazer.-Finalizou em tom de despedida, mas ele ainda esperava por algo. Estava incerto se eu o deixaria ir

-Vá.-Ordenei ainda absorvendo tudo o que acabei de ouvir. Ele acenou com a cabeça e deixou a sala, fechando a porta em seguida.

  Asher quer se encontrar comigo hoje, na véspera da possível guerra. Pode ser uma armadilha, pode ser como o tal Phillip garantiu, e eu sinceramente adoraria que fosse. É arriscado, mas o meu coração grita por isso, enquanto a minha mente diz ao contrário, que eu não devo ir e que devo ser racional. A quem devo ouvir?

Meu ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora