Capitulo IV - Chuva

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Oi, acabei de chegar da livraria. E estou me perguntando por que raios eu ainda insisto em sair de casa. Meus pais vivem dizendo que eu devo sair mais, mas pra que? Pra ver as pessoas correndo da chuva? Tentando não se molharem, se abraçando para que o frio passe? Eu sinceramente odeio ver pessoas felizes, eu estou odiando ver sorrisos.
Vou falar sobre como foi na livraria. Eu cheguei, como sempre pedi meu cappuccino com avelã, fui procurar um bom livro antidepressivo ou algo ligado a astrofísica. Na sessão dos livros de física, tinha várias pessoas que pareciam até ser interessantes, porem eu não consegui dizer sequer oi. Acabei não comprando nenhum livro, fiquei sentado esperando alguém se interessar por mim, eu até tinha feito minha barba. Algumas garotas ficaram olhando para mim e rindo, acho que rindo da minha desgraça mesmo, por eu ser esse merda solitário.  Eu fiquei lá até a livraria fechar, quase fui expulso de la. Quando eu estava deixando ela, as garotas que estavam rindo de mim estavam no lado de fora, conversando com alguns caras, e uma delas me chamou atenção, pelo fato de ser a única que não riu. Não acredito em amor a primeira vista, mas admito que senti algo por ela, talvez seja só atração, ou só tesão mesmo, pois ela tinha peitos enormes. E ela tinha um jeito tão fofo de mexer no cabelo, parecia ser muito tímida, e os olhos dela pareciam ser verdes ou azuis, não consegui distinguir. Eu fiquei quase 4 minutos parado olhando pra ela, até ela notar, daí eu fingi estar falando no telefone para tentar disfarçar.
Fui para o ponto de ônibus pra voltar pra casa, e do meu lado havia um casal. Ele dizia poesias pra ela, ela o agradecia com beijo e caricias, dizendo que ele é o homem mais fofo do mundo. Eu senti vontade de matar os dois, isso estava me deixando muito pra baixo. Estava chovendo bastante, e as ruas estavam desertas, parecia que tudo queria me indicar que meu destino é viver sozinho. Ou morrer sozinho.
Meu ônibus chegou, eu entrei nele e estava completamente vazio, eu não sei porque mas comecei a chorar dentro do ônibus, comecei a me sentir muito, mas muito mal mesmo. Eu queria muito que a morte acabasse comigo naquele instante, eu quase implorei pra Deus me matar. Eu nunca desejei tanto morrer em toda minha vida.
Depois de um tempo, uma garota entrou no ônibus, e por incrível que pareça, era a garota da livraria. Eu queria tanto ir falar com ela, porem eu estava com o rosto inchado de tanto chorar, estava vermelho, e não iria conseguir falar absolutamente nada. Ela sentou bem na frente, e eu estava la atrás, sozinho.
Ainda não parou de chover, e chuva me lembra muito alguns momentos meu com a Gabriele. Lembro do seu aniversário de 15 anos, estava chovendo forte, e foi o dia em que eu a pedi em namoro. Foram quase 3 anos de namoro, eu amava muito essa garota. Não gosto mais dela, mas sinto saudade de alguns de nossos momentos, sinto saudade de quem ela era antes. Sinto que nunca vou achar alguma garota que me faça tão feliz como ela me fez.
A Letícia também adorava chuva, sempre me pedia pra tocar Trampline, da banda Nevershoutnever no meu violão pra ela, era a sua banda favorita, e uma das minhas também. Ela sempre dizia que amava ouvir o som do violão e minha voz. Sempre que eu terminava de cantar, ela fazia uma cara de choro pra eu cantar novamente, e eu tocava, pra ver aquele lindo sorris no rosto dela.
Enfim, eu desci do ônibus, com a sensação de culpa por não ter falado com a garota da livraria. Agora eu estou aqui em casa, sem o que fazer, escrevendo por nada, estou desabafando com alguém que eu nem sei o nome. Eu acho que vou assistir um pouco de TV, mexer nas minhas redes sociais, ou jogar alguma coisa. Tenho que tomar meu remédios, minha mãe está me obrigando a tomar antidepressivos, ela disse que odeia me ver sofrendo por causa da depressão. Até meu pai, que é um cara durão, está se importando muito comigo, sempre me diz que por mais que ele não demonstre, ele ama o filho dele, que se importa muito com ele e não quer que nada de ruim acabe com a vida dele. Eles vivem dizendo pra eu sorrir mais, quando eu estiver carente, eu posso ir falar com eles, eles amam me dar abraços, dizem que eu deveria me socializar mais, não ficar trancado no meu mundo depressivo, também conhecido como meu quarto. Eles acham que la dentro posso dar um fim nesse mundo, que seria minha vida.
Eu quero e ao mesmo tempo não quero que a morte me vença. Eu tenho tanta coisa pra viver, mas ao mesmo tempo não tenho. Eu posso ser um escritor, mas também posso ser um mendigo. Posso me casar com uma linda mulher e ter lindos filhos, mas também posso ser enganado por mais uma, como fui com a Gabriele.
Eu não sei de nada, pra dizer a verdade, eu só quero tomar meu café, fantasiar antes de dormir, e pensar em algum jeito de me matar, ou de superar tudo isso que está acontecendo comigo. Eu acho que Deus me odeia, ou não liga mais pra mim, ou simplesmente não existe. Até mais, ou não.

Bê.Onde histórias criam vida. Descubra agora