Capítulo 1

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O rosto de Lexa era duro e implacável, a mesma expressão que todo o seu povo conhecia: aquela que fazia os fazendeiros se contentarem com menos terra do que eles pediram, aquela que fazia meninos e meninas tropeçarem em suas palavras, aquela que fez Roan tentar não mudar de autoconsciência enquanto estava diante dela.

- Multar. Com Nia morta, a coroa de gelo cai sobre você. Por mais que eu queira acreditar que, ao voltar para casa, você fará o que combinamos, não posso correr esse risco.

Os olhos de Lexa deixaram Roan para olhar para Clarke. A bela Clarke de olhos ardentes, cujo vestido decotado ameaçava distrair Lexa com muita frequência esta noite. Uma dúzia de objeções passaram pela mente de Lexa, mas antes que ela pudesse se conter, o plano foi formado.

- Clarke e eu vamos escoltá-lo nós mesmos.

- Isso realmente não é neces...

- Está decidido -, Lexa interrompeu Roan com um levantar de sua mão, não deixando espaço para discussão e sem espaço para as objeções de Clarke que, pelo olhar em seu rosto, estavam queimando em sua língua. - Partiremos amanhã de manhã. Vejo você ao nascer do sol, rei kom Azgeda.

A expressão divertida de Roan parecia mais uma careta. Com um movimento de seu pulso Lexa dispensou o grupo de gelo de três, fazendo com que Roan e os dois de seus guardas reais deixassem seu lugar na frente de seu trono.

Lexa se sentiu poderosa assim. Era uma posição familiar, uma que ela sabia que poderia cair sem hesitação até agora. Uma máscara que ela usava com confiança, um jogo em que ela se destacava.

Os braços de sua cadeira pareciam naturais sob suas mãos, a ponta de seu dedo traçando sobre um amassado na madeira onde ela distraidamente torceu sua faca um pouco demais. Sua faixa vermelha estava dobrada sob sua figura, as pernas cruzadas de uma maneira descuidada, mas real, fazendo com que a parte interna do joelho em cima queimasse um pouco.

Com outra única palavra, os guardas na porta também deixaram a sala do trono, deixando apenas uma outra pessoa em sua companhia.

- Você não está satisfeita, - Lexa reconheceu.

A boca de Clarke abriu e fechou antes que ela encontrasse as palavras para responder.

- Você poderia pelo menos ter me perguntado primeiro.

- Presumi que você não teria outros planos.

- Esse não é o ponto, - Clarke objetou. - Eu não sou mais sua prisioneira, Lexa. Só porque eu não voltei para o meu povo não significa que você pode me dizer para onde ir.

Lexa ficou quieta, a mandíbula tensa com palavras não ditas. Tecnicamente, agora que o povo do Céu era o décimo terceiro clã, eles caíram sob o domínio do comandante – o que significa que sim, tecnicamente, Lexa decidia essas coisas.

Mas nada disso importava particularmente quando se tratava da embaixadora dos Skaikru.

Clarke respirou fundo e avançou um pouco; os olhos de Lexa seguiram o movimento de onde ela permaneceu em sua cadeira.

- Além disso, - Clarke continuou, sua voz mais calma agora, - passar Deus sabe quantos dias vagando pelo deserto só para que possamos ter certeza de que Roan volte para casa não soa como o melhor plano.

- Quatro dias, - Lexa corrigiu, levantando-se de seu trono. - A viagem leva quatro dias a cavalo, dez a pé.

Levou apenas alguns passos até que ela estava na frente de Clarke. Era estranho como simplesmente estar sozinha com ela fazia os ombros de Lexa caírem um pouco, a fazia sentir como se não tivesse que manter uma postura orgulhosa o tempo todo.

Seu estômago se agitou enquanto ela mantinha o olhar de Clarke. Ela o empurrou para baixo com um suspiro.

- Roan e seu pessoal não precisam de nós para fazer isso, Clarke. Nosso povo sim. - Lexa foi até uma mesa próxima e serviu uma bebida para os dois. Mesmo sabendo que Clarke já entendia o que ela queria dizer, Lexa estava ansiosa para continuar a conversa. - Se desejamos ter alguma esperança de manter a paz com a Nação do Gelo, devemos cuidar disso pessoalmente. Roan é nossa chave para garantir a cooperação de Azgeda. Nós iremos com ele porque precisamos que seu povo confie em nós.

Clarke aceitou o copo que Lexa lhe ofereceu, olhando para o vinho aguado, mas sem fazer nenhum movimento para beber.

- É por isso que estamos fazendo isso? Para a coalizão?

Clarke parecia olhar através dela, mas Lexa levantou o queixo.

- Você prefere deixar nas mãos de outra pessoa?

Não houve resposta e Lexa endireitou a coluna, satisfeita por ter convencido os dois.

- Além disso, - ela se atreveu, um pequeno sorriso rastejando no canto de sua boca, - você teve seu quinhão de vida selvagem. Tenho certeza de que ficaremos bem por esses dois dias.

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