Capítulo 12

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Antes de ser transportada para outro plano, a última coisa que Natasha se lembrava era do toque de Petrus. Depois do clarão, ela estava sozinha dentro do quarto do hotel. O som da chuva foi sobreposto ao barulho estridente do som de vidro se estilhaçando e o grito de um casal. "É isso", pensou Natasha, ao reconhecer a voz do irmão, ainda um pouco confusa. Uma sensação de déjà vu subiu pelas suas costas. Tudo parecia tão real.

Natasha queria abrir a porta, mas era como se o seu corpo não obedecesse ao comando. Foi, então, que se deu conta de que algo estava errado. Era parecido com uma viagem astral, mas era mais intensa.

– Lónan! – Natasha tentou gritar, mas foi como se tivesse perdido a própria voz. – Não é possível... – ela se sentia como um boneco sem vida, aguardando o seu dono.

– Agora, abra a porta, Natasha! – a voz de Petrus ecoou na mente de Natasha. – Para alcançar a verdade, você precisa se despir das barreiras que foram criadas.

– Eu não consigo. A porta está trancada! – Natasha começou a chorar como uma criança, sentindo uma angústia dilacerando suas entranhas. Estava perdida, paralisada diante daquilo que não queria confrontar.

– Eu sei que não deve estar sendo fácil, mas você precisa tentar... – desta vez, a voz de Babi cobriu Natasha como uma manta, dando forças para que ela continuasse empurrando a porta.

Natasha coçou os olhos, incerta do que via. As paredes estavam se dobrando em sua direção, como se quisessem esmagá-la.

– Eu vou morrer... – sussurrou Natasha. Não se lembrava de quando tinha sido atingida por uma onda tão forte de pânico como aquela. – Eu não aguento mais. Me tirem daqui!

– Eu não posso permitir isso. Antes, você precisa descobrir o que Anna bloqueou – respondeu Jess, com a frieza e superioridade exigida para o momento.

– Anna... Por favor... Algo horrível está prestes a acontecer. Eu posso sentir... – Natasha suplicou e quando a porta finalmente destrancou, foi como se o momento a atropelasse. "As pessoas costumavam subestimar como o corpo e as emoções estavam conectados", pensou Natasha, "Mas não havia dor pior do que sentir o seu coração se quebrando dentro do peito e o espírito sendo esmagado pela realidade".

Natasha viu o corpo sem vida de Lónan no chão e um buraco no peito, enquanto Anna lambia a própria mão que escorria o sangue dele. Não importava quantas vezes o irmão tinha feito ela se meter em confusão, Natasha não estava preparada para se despedir dele.

A vampira avançou contra a bruxa, até que tudo ficou escuro. Engolindo uma fumaça, Natasha se viu sufocando e, em seguida, perdendo todo o controle do corpo, como se uma parte do seu cérebro tivesse sido desligada, por mais que ela tentasse lutar para se manter acordada.

– Preste atenção nas minhas palavras. O bruxo que matou seu irmão está em São Cipriano. Sua missão é encontrá-lo e se vingar. Está me ouvindo? – escutou a voz de Anna se repetindo, como um maldito eco.

Se havia qualquer dúvida sobre quem tinha matado Lónan antes, Natasha agora tinha certeza de que Anna era a assassina. Durante sua longa existência, Natasha havia conhecido seres de luz e das trevas, mas nenhum tinha a energia tão tóxica quanto a bruxa. Aquilo fazia cada célula do seu corpo estremecer.

Ser envolvida pela magia de Anna, era como mergulhar em um vulcão. Natasha sentia o peito ardendo, mas não era uma dor física – era como se o seu espírito estivesse sendo pressionado e se misturando à chama da bruxa, transformando em pedra o seu autocontrole. Uma dor que ela não podia lutar mais contra ou seria destruída.

Natasha gritou e um desejo de vingar a morte do irmão cresceu e se espalhou em todo seu corpo, como ramos selvagens, que de um instante para o outro a dor se transformara em vontade de lutar.

O Sangue - Os Bruxos de São Cipriano Livro 3Where stories live. Discover now