Se havia uma coisa que ela não sentia falta no Brasil era daquela temperatura que parecia ter saído do próprio reino de Hades ou do inferno, como os cristãos acreditavam. Natasha sentia a roupa grudando na sua pele e sua vontade era de voltar para a Europa, embora os efeitos do aquecimento global também tenham influenciado no clima e levado ondas de calor para diferentes lugares do mundo. "Os seres humanos são tolos", pensou Natasha com amargura. "Não souberam cuidar do seu bem mais precioso: a natureza. Se não fossem pelas bruxas, druidas e demais praticantes de magia que se conectam a energia natural protegendo o planeta, a humanidade já estaria perdida. Mas talvez seja o que eles estão buscando, mesmo subconscientemente: acelerar o fim. Entediados com uma vida na qual pararam de acreditar na magia, passaram a preencher seu vazio com obsessões mundanas".
Mesmo com o veneno da vingança circulando em seu corpo, havia um lado de Natasha que não abria mão de sentir empatia. Talvez essa fosse uma das principais diferenças entre ela e Lónan. O irmão era tão egocêntrico que havia destruído outros vampiros por causa de desavenças infantis. Lónan era uma bomba que nem Natasha sabia se poderia desarmar antes que ele a explodisse junto, mas havia uma voz em sua cabeça que clamava pela honra de matar quem
Suas memórias estavam confusas, mas Natasha tinha flashes de quando estava em São Cipriano e de jovens bruxos ameaçando ela e o irmão. O rosto de um deles se destacava mais em seus pensamentos. A garota ruiva. Natasha colocou os dedos nos lábios se lembrando do beijo e uma corrente de energia passou pelo seu corpo. Quando tinha sido a última vez que alguém havia provocado um sentimento tão intenso assim em mim? Foco, Natasha. Seu coração pode estar confuso, mas seu espírito estava pulsando por justiça.
Quando Natasha pisou em São Cipriano, era como se sua mente estivesse bloqueada e o mapa da cidade fosse um quebra-cabeça com várias peças faltando. Alguém havia mexido com seu cérebro e ela sabia que isso só podia ser algum trabalho de magia. Não importa. Eu sei o que fazer.
Natasha colocou a mão em sua bolsa e tirou um pêndulo de cristal. Ela abriu a palma da mão e tentou se conectar com a memória de quando ela estava no quarto da bruxa. O cristal encoberto por uma energia azul se movia do centro até os dedos, mostrando para qual direção seguir. para Enquanto andava pela cidade, Natasha percebeu os olhares de curiosidade e estranhamento dos moradores da cidade. Sua necessidade de se alimentar da energia dos outros estava ligada ao seu estado de espírito. Nos dias de equilíbrio, a vampira quase não sentia aquela ânsia, mas quanto mais se aproximava do seu destino, maior era o seu desejo. Não sabia de onde vinha aquela vontade de matar alguém. Há décadas Natasha aprendeu que ela poderia ser sua pior inimiga. Não havia escolhido nascer em uma família de vampiros energéticos, mas isso não tirava sua responsabilidade pelos seus atos. Ela sabia que o universo não poupava ninguém; todo mundo precisava estar preparado para pagar o preço de suas escolhas.
Quanto tempo ela andou pela cidade de São Cipriano? Natasha estava com sua atenção toda focada na magia com o pêndulo que nem mesmo se importava com a dor nos pés ou com a fome. Tudo o que ela queria era cumprir sua missão e se mandar do país. Assim que a alma de Lónan encontrasse paz, ela voltaria para sua jornada de conhecimentos sobre o universo da magia. Havia sempre algo a se aprender com outras culturas. Planos de viagens que Natasha sempre esperava o momento certo que nunca chegava. Talvez a solidão não precise ser tão ruim. Talvez eu possa aproveitar para reviver os meus sonhos.
O céu estava escuro. Natasha andava pelas ruas mal iluminadas pelos velhos postes quando ela viu um carro passando por ela e fazendo sinal com o farol. Ela continuou sua caminhada. Faltava pouco para chegar até a casa da garota, ela podia sentir.
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O Sangue - Os Bruxos de São Cipriano Livro 3
FantasyLivro 3 da série Os Bruxos de São Cipriano. Sangue derramado nunca é coisa boa. Entre a raiva e a desolação, a morte é capaz de mudar tudo. Vingança. Justiça. O poder nos cega. Julgamos os outros pelas coisas que nós secretamente faríamos ou desejáv...