Babi encarou o próprio reflexo no espelho do quarto de hotel e tentou ajeitar o cabelo vermelho. As cores estavam desbotando, mas ela estava sem saco para retocar os fios. Sua cabeça estava uma bagunça, como se o passado, o presente e o futuro estivessem ao mesmo tempo pedindo atenção – era como uma pipa arrastada pelo vento para diferentes direções, quando tudo o que ela queria era fincar os pés no chão. O pai sabia que o relacionamento entre a garota e Belinda poderia ser bem problemático e permitiu que ela tirasse um tempo para respirar. Jonathan via isso o tempo todo em sua clínica: mães e filhas que agiam como se fossem irmãs. Ele procurava não pensar muito no assunto, seu papel ali não era julgar seus pacientes, mas algumas situações lhe provocavam mal-estar e saber que acontecia o mesmo dentro de sua própria família, o deixava mais frustrado ainda. Tudo o que Babi se lembrava quando pegou a mala e saiu de casa temporariamente, foi do olhar de indiferença da mãe.
A última vez em que Babi recebeu uma ligação de Jess, a amiga estava feliz em saber que Amanda estava se recuperando e logo seria liberado do hospital. Babi gostava da mãe da amiga como se fosse a sua própria e se perguntava se havia algum propósito do universo ter feito com que ela nascesse filha de alguém como Belinda. Eu devo ter sido muito má na minha vida passada. Não quero parecer ingrata... Babi mandou os pensamentos para os deuses. Mas há tanto que eu gostaria de entender. Meu destino é tão incerto. Se houvesse uma forma de eu conhecer um pouco mais sobre o meu futuro. Uma ideia estalou dentro dela. Sabia o que precisava fazer.
Babi colocou os óculos escuros, pegou sua bolsa preta com uma estampa de luas, gatos e pentagramas e saiu do quarto. Tudo o que ela menos queria naquele momento era que alguém puxasse assunto. Quando ela passou pelo saguão do hotel, viu alguns turistas que pareciam de outro país assobiando para ela. Um rapaz de cabelos ruivos se aproximou dela e segurou a mão dela. Babi sentiu um arrepio. Fazia mais de um ano que não era tocada por outro homem que não fosse Léo.
– Para onde vai com tanta pressa, gatinha? Talvez você possa me apresentar algumas coisas de São Cipriano – disse o homem em seu inglês com um sotaque irlandês.
– Eu pareço uma maldita guia de turista para você? – respondeu em um tom ácido, fazendo os amigos dele começarem a rir e deu um tapa na mão dele, para que a soltasse.
O rapaz ficou da cor do próprio cabelo e a puxou para perto dela, com seu bafo de cerveja em plena manhã.
– Me solta, seu porco.
Ele continuou a apertá-la e avançou para beijá-la. Ela observou o anel de ouro nas mãos dele e sentiu mais ranço ainda.
– Eu avisei, idiota... – sussurrou Babi.
Uma corrente de vento entrou com força no hotel, balançando os quadros, derrubando os copos de cerveja, fazendo com que a bebida escorresse pelo chão e o vidro explodisse. Os amigos do jovem irlandês ficaram quietos, mas ele continuou apertando o pulso dela. Babi sentiu a energia subindo da terra, avançando pelas suas pernas e se misturando ao vento. Electricae. Não sabia como conhecia a palavra, mas ela deslizou, como se estivesse na ponta da língua e sentiu como se sua mão estivesse faiscando.
Como se tivesse entrado em um curto-circuito, ouviu um som de explosão. O rapaz foi arremessado contra o chão. Ele resmungava, tentando mexer o braço, mas não conseguia.
– Você tem sorte de estar aqui, vadia. Na minha terra, as bruxas foram queimadas – ele gritou, sentindo os espasmos na mão e lentamente o movimentando voltando ao normal.
– Isso foi uma ameaça? – Babi levantou os óculos e deu uma olhada para ele. Sabia que não podia exibir seus poderes em público, mas estava com pressa demais para pensar nas consequências. Quando ela se deu conta de que o choque não havia provocado muitos danos, ela avançou até ele e deu um beijo na testa dele, deixando a marca do seu batom preto. – Você mexeu com a garota errada. Espero que seja esperto para não tentar nenhuma gracinha comigo ou vai se arrepender. Da próxima vez, o seu corpo pode não aguentar.
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O Sangue - Os Bruxos de São Cipriano Livro 3
FantasyLivro 3 da série Os Bruxos de São Cipriano. Sangue derramado nunca é coisa boa. Entre a raiva e a desolação, a morte é capaz de mudar tudo. Vingança. Justiça. O poder nos cega. Julgamos os outros pelas coisas que nós secretamente faríamos ou desejáv...