Os ventos gelados chicoteavam o rosto de Anna. Ela carregava uma mochila nas costas e respirou a sensação de liberdade. Era como estar de volta à juventude, sem ninguém para privá-la do que tivesse vontade. Sabia que era só questão de tempo até se arrepender de ter matado Lónan tão cedo. Um pouco de companhia não a mataria, mas conhecia o ex-amante o suficiente para saber que ele não a havia trazido de volta sem esperar nada em troca. Anna tinha planos maiores do que aguentar um vampiro querendo viver um amor de verão ou se tornar uma escrava de alguém obcecado por ela. "A única forma de deixar o papel de presa é matando o predador", pensou.
Caminhando pelo corredor da antiga estação de trem da Cracóvia, Anna se lembrou da última vez em que estivera ali e pensou em como pouco havia mudado. Naquela época, era improvável encontrar alguém que a atendesse em inglês. Desta vez, estava preparada. Depois de ser enganada e levar uma multa no sistema de transporte público da cidade, Anna sabia que por meio da magia não importava se ela não falasse uma palavra de polonês, desde que criasse o efeito na mente do seu interlocutor, seria capaz de persuadi-lo.
Ela viu o carro prateado estacionado próximo à rua da estação e se aproximou. Anna apertou a mão do motorista e se focou no chakra localizado no topo da cabeça dele. A mente era como um computador que ela tinha a habilidade de hackear sem que o dono percebesse. A bruxa olhou para os lados e ficou ansiosa quando viu outro táxi se aproximando.
– Me leve ao hotel do centro – disse Anna com uma voz que penetrava o círculo de energia do homem com a precisão de um neurocirurgião. – E essa viagem será por sua conta!
O taxista de trás assobiou para o colega e deu uma piscadinha para Anna quando a viu encostada na janela do carro. Anna deu um olhar para ele que dizia "ele tem algo mais importante para fazer do que responder um velho babão como você". O motorista abriu a porta para Anna e assim que ela entrou, ele deu partida no carro sem responder o outro.
"Humanos tolos não têm magia, mas, pelo menos, inventaram algo útil", pensou Anna, enquanto tirava o celular da bolsa. Ela se conectou no perfil da rede social com a foto de um jovem de cabelos pretos, olhos azuis e um visual de roqueiro e foi até a página de Babi. A bruxa se divertia com a facilidade dos dias atuais de descobrir o que as pessoas estavam fazendo. "Bastavam alguns cliques para saber coisas que as pessoas seriam mais cautelosas antes, como localização e acontecimentos pessoais".
O motorista continuou dirigindo, como se estivesse em um estado hipnótico. Anna estava tão distraída com o celular que nem prestou atenção às diferentes construções e hábitos culturais. Havia passado da época em que estar em outro lugar a enchia de vida. Desta vez não se deixaria distrair pelos prazeres mundanos. Tinha uma missão a cumprir e não deixaria ninguém se meter no seu caminho.
"Desta vez, vai ser mais fácil do que eu imaginava", Anna se deliciou ao ver uma foto de Babi e Natasha, marcando a localização do hotel. "Se as duas estão vivas, ou Natasha está jogando com o círculo, ou isso significa que eles descobriram sobre mim e estão brincando com fogo. Em todo caso, não importa o que eles façam, eu sempre estarei dois passos à frente", Anna começou a rir e o motorista olhou para ela como se encarasse uma obra de arte pela primeira vez, tentando decifrar como aquele rosto tão jovem parecia ter olhos tão expressivos, alguém que havia vivido muito mais do que as marcas expostas em sua pele.
– Olhos na estrada – Anna disse em inglês e fez sinal com os dedos.
Anna torceu o nariz quando viu a foto de Manu. Desde a última vez em que tinha visto ele, o rapaz havia amadurecido e parecia mais feliz ao lado de Jess. Em seguida, ela entrou no perfil do Léo e ficou surpresa por ver menos exposição do que teria antigamente. "O tempo muda algumas pessoas para melhor, enquanto outras afundam em suas vidinhas patéticas", Anna encarou a foto de Sylvanus e riu quando percebeu que ele havia mudado de nome. Ainda não sabia definir o que sentia por Petrus. Se não fosse pela ajuda dele, Lónan não a teria trazido de volta. Decidiu que por gratidão, mataria o druida por último.
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O Sangue - Os Bruxos de São Cipriano Livro 3
FantasyLivro 3 da série Os Bruxos de São Cipriano. Sangue derramado nunca é coisa boa. Entre a raiva e a desolação, a morte é capaz de mudar tudo. Vingança. Justiça. O poder nos cega. Julgamos os outros pelas coisas que nós secretamente faríamos ou desejáv...