Manu estava no quintal com Legolas. Apesar do cansaço da viagem, ele queria dar um pouco de atenção para o cachorro que ficou o dia inteiro sozinho. Sentado na grama úmida, Manu gostava de como era preciso pouco para que ele ficasse feliz. O contato com a natureza o tranquilizava. Apesar de gostar da companhia dos amigos, ele precisava daquele tempo sozinho. Mesmo tendo aprendido a controlar melhor sua habilidade de sentir as energias dos outros, alguns dias eram mais intensos do que outros.
Ainda que ele tivesse tentado não se envolver com o drama de Léo e Babi, Manu foi tomado pelas dores emocionais. Sua sensitividade estava relacionada ao excesso de empatia, mas se havia algo que o garoto havia aprendido com o tempo era que não importava o quanto ele desejasse ajudar e cuidar dos outros, se ele não sentisse autoempatia e cultivasse amor próprio para se sentir em equilíbrio. "Está tudo bem deixar a terra me curar", pensou Manu.
Ele se deitou sobre a grama e olhou para o céu, lembrando de como o clima estava bem diferente na ilha. Legolas lambeu a mão de Manu e andava de um lado para o outro inquieto. Manu fechou os olhos e foi como ser abraçado pela Mãe Natureza. De todas as formas da Deusa, aquela era com a qual ele mais se conectava.
De repente, ele se viu na praia. Uma figura se movia no mar, o chamando com as mãos para entrar na água. Manu coçou os olhos. As lentes de contato pareciam embaçadas. O borrão começou a ganhar forma. Manu mal podia acreditar quando viu uma cauda, depois observou o rosto familiar. Jess.
Sem olhar para trás, Manu andou dentro do mar e nadou até a sereia. Ao ver o sorriso maquiavélico da namorada, ele escutou alguém gritando o seu nome. Manu levantou as sobrancelhas em uma expressão de confusão quando escutou a voz da namorada: "Saia daí. Você está correndo perigo". Antes que Manu pudesse reagir, a criatura colocou a mão na cabeça dele e afundou o corpo dele.
Manu despertou com um gosto de água salgada na boca e o celular tocando. Mesmo com o pesadelo, era como aquela rápida soneca fosse o suficiente para que ele se sentisse revigorado.
– Boa noite, sereia! – brincou Manu.
– Alguma coisa aconteceu com Babi! – a voz de Jess estava alterada e ela não parecia no clima para gracinhas.
– Respira, Jess. Não estou entendendo.
– Eu estava quase dormindo quando senti que Babi estava em perigo. Primeiro, eu tentei ligar para ela, mas ela rejeitou a ligação. Depois, fiz uma prática para me conectar com a energia dela. Foi como se eu tivesse sido bloqueada. Eu sei que o Léo está chateado, mas quem sabe ele tem alguma informação sobre ela.
– Entendi... Você quer que eu fale com ele?
– Sim, por favor. Algo estranho está acontecendo. Não acho que tenha relação somente com o divórcio dos pais dela.
– Você acha que alguém está manipulando Babi por meio da magia?
– Tudo é possível. Com a saúde mental abalada, a barreira energética dela está mais vulnerável. Se alguém do círculo for infiltrado, todos nós corremos perigo. Isso inclui nossas famílias – havia um tom desgostoso na voz de Jess. – Me ligue assim que tiver novidades. Não se esqueça que eu te amo!
– Pode deixar. Vou ligar para o Léo. Eu também te amo!
"Lá se foi meu momento zen", pensou Manu. "A vida é essa roda-gigante. Meditar era como deixar de se importar por um tempo com os altos e baixos, mas mesmo para os monges que se dedicavam à vida monástica, os desafios não paravam". Tudo o que Manu queria para encerrar a noite era se deitar na cama e ler até pegar no sono de vez.
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O Sangue - Os Bruxos de São Cipriano Livro 3
FantasyLivro 3 da série Os Bruxos de São Cipriano. Sangue derramado nunca é coisa boa. Entre a raiva e a desolação, a morte é capaz de mudar tudo. Vingança. Justiça. O poder nos cega. Julgamos os outros pelas coisas que nós secretamente faríamos ou desejáv...