Depois de algumas horas dirigindo entre motoristas apressados e caminhões pesados, Manu agradeceu aos deuses quando chegaram em segurança à Praia da Sereia. O pai parecia um pouco cansado, mas não escondia o entusiasmo de um dia de folga. Toni sempre honrava suas palavras e promessas do mercado. Sabia que em uma cidade como São Cipriano, as pessoas quase enlouqueciam quando não encontravam o lugar aberto, por isso avisou com antecedência que naquele feriado eles não abririam.
A família de Manu não era ligada aos feriados religiosos brasileiros, assim como o filho, mas o rapaz tentou convencer os pais sobre um dia para relaxar na praia, algo que eles não faziam há tempos. Inicialmente, Toni não estava tão animado com a ideia, mas Jasmine lembrou sobre a importância de aproveitarem o tempo que restava com Manu. "Seu filho já está quase terminando o colégio. Você sabe que uma hora ou outra, nosso ninho vai ficar vazio. O trabalho vai continuar por aqui, já Manu, só Deus sabe onde estará...", as palavras de Jasmine atingiram em cheio Toni.
Quando Toni estacionou o carro, Manu abriu a porta e fez um sinal para que os amigos descessem. Ele mesmo não aguentava mais ficar sentado e precisava esticar as pernas. Perdeu a conta de quantas câimbras ele teve durante a viagem, aquela sensação tão incômoda que o fazia querer sair do próprio corpo.
Jess foi a primeira a descer. Ela abriu um sorriso ao sentir seu cabelo balançando e inspirou com facilidade. A brisa refrescante tocava sua pele e tudo o que ela conseguia fazer era sentir uma profunda gratidão aos deuses pela oportunidade.
– Esse lugar é tão lindo! Tem um gostinho de nostalgia – disse Babi, depois de se juntar a Jess. Por alguns instantes, sua mente foi transportada para uma das vezes em que havia ido à praia com os pais em sua infância. Tentando refazer a memória, ela se perguntou se eles eram felizes como pareciam ou se tudo era um teatro. Desde o divórcio, Babi lutava com os pensamentos obsessivos. Era como um maldito jogo rolando em sua cabeça que se alimentava do passado e lhe rendia mal-estar, mas ela não conseguia parar.
Manu e Léo desceram com as bolsas e ajudaram a tirar do carro as cadeiras dos pais de Manu e dois guarda-sóis grandes. Foi questão de minutos para que a brisa se tornasse insignificante perto do sol escaldante. A areia estava tão quente que Manu sentia o pé queimando quando os grãos entravam na lateral do chinelo.
– Crianças, não se esqueçam de passar protetor solar. Vocês não querem ficar queimados – exclamou Jasmine, enquanto besuntava o rosto com a loção esbranquiçada, em seguida, espalhava o protetor no rosto do marido.
– Seus pais são tão fofos, cuidando um do outro – sussurrou Jess no ouvido de Manu. – Nem todo mundo tem essa mesma sorte.
Jess puxou Manu para um beijo.
– Obrigado por esse dia especial! Sei que só está começando, mas não poderia me esquecer.
– Você merece o mundo, mas como eu não sou rico como o Batman, o que eu puder fazer pela sua felicidade, eu vou tentar.
Léo percebeu o desconforto de Babi e seu instinto foi de querer protegê-la da dor, mas não podia de imaginar se algum dia os dois teriam o mesmo destino. Ao segurar a mão da namorada, ele se arrepiou ao perceber que ela estava fria. Léo concentrou a energia do fogo em seus dedos e o calor do seu corpo se transferiu para o de Babi.
Consciente do que Léo estava fazendo, Babi puxou a mão e resmungou:
– Você não precisa me tratar como se eu fosse quebrar a qualquer momento. Não sou nenhuma bonequinha de cristal.
– Babi, está tudo bem. Você pode baixar sua guarda. Só quero que você se sinta confortável, independente do que estiver sentindo. Está tudo bem não ficar bem quando essas coisas acontecem...
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O Sangue - Os Bruxos de São Cipriano Livro 3
FantasiLivro 3 da série Os Bruxos de São Cipriano. Sangue derramado nunca é coisa boa. Entre a raiva e a desolação, a morte é capaz de mudar tudo. Vingança. Justiça. O poder nos cega. Julgamos os outros pelas coisas que nós secretamente faríamos ou desejáv...