Capítulo 4

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Acordou com a sensação de que o peito estava frio. Léo pensou em tudo o que queria falar para Babi, mas sempre que chegava o momento não tinha a oportunidade. Ele estaria mentindo se dissesse que não queria ter defendido a namorada do rapaz do hotel que a incomodou, mas ele sabia que Babi era capaz de se proteger e não suportava ser vista como alguém frágil e incapaz de tomar atitude quando era necessário.

Léo apertou as próprias mãos geladas e se concentrou para que o calor aliviasse aquele mal-estar. Parte dele estava animado para o dia, enquanto a outra não sabia o que esperar. Era como se não importasse o quanto mais ele tentava se aproximar de Babi, mais ela criava uma barreira – Léo queria respeitá-la, mas vez ou outra desejava que seu amor fosse poderoso a ponto de seus sentimentos se conectarem com os da namorada em um movimento recíproco. Com mais intimidade e mais tempo, Léo esperava que Babi fosse se abrir mais, mas ele sabia que a crise no relacionamento dos pais da garota havia abalado seu emocional, ou talvez, no fundo, de tanto perceber como o casamento deles era um desastre, aquela onda havia quebrado e quem estava pagando o preço era ele.

Precisava colocar para fora o que estava sentindo ou explodiria. De olhos fechados, ele colocou as mãos sobre o peito e sentiu como se uma massa de energia estivesse bloqueando o seu corpo. O chakra do coração. Responsável pelas emoções e pelo amor. Léo pegou o caderno, arrancou uma folha e apertou a caneta contra os dedos, formando um círculo de energia rosa. Quanto mais ele pensava em Babi, mais forte a luz brilhava.

Babi,

O fogo precisa do ar para se completar. Eu sei, parece cafona, ainda mais vindo de mim, mas é como eu me sinto em relação a você. Cada dia ao seu lado aumenta a certeza sobre o que eu desejo para o nosso futuro. O tempo tem pressa, mas não mais do que o meu coração. Você sabe que não sou muito bom com as palavras, tampouco sei me controlar sem ir direto ao ponto. Sei que somos jovens, mas minha vó sempre dizia que quando a pessoa certa aparece no seu caminho, é preciso garantir que ela saiba o quanto é especial. Eu não tenho dúvidas de que é ao seu lado que eu quero estar. Resta saber se você sente o mesmo por mim e está preparada para dar o próximo passo.

Com amor,

Léo.

Depois de escrever, ele leu e releu suas palavras. Léo respirou fundo e se controlou para não amassar o papel e jogar fora. Covardia não era algo que ele admirava. Aquele sentimento de urgência tomava conta de seu coração. Léo não podia deixar de pensar se suas ações do passado, aquela trilha de corações quebrados havia se voltado contra ele. Meu amor por Babi é karma ou destino? Acho que em breve vou descobrir.

Ele abriu a bolsa de mão preta e separou uma toalha, protetor solar, dois shorts, uma regata e o desodorante. Léo tentou pensar se estava faltando alguma coisa. Queria um dia de tranquilidade. Merecia aquele tempo com os amigos. Ele carregou a bolsa e desceu as escadas da casa. A mãe estava tomando sua xícara de café. Ela fez um sinal para que ele esperasse.

– Para onde você está indo mesmo?

– Se você prestasse atenção em mim, como faz com seus pacientes, eu não precisaria falar várias vezes a mesma coisa – Léo bufou e revirou os olhos. – Nós vamos à Ilha da Magia.

– Bom, acho que você está precisando sair um pouco desse quarto mesmo. Nos últimos meses, você tem ficado muito tempo em casa. Divirta-se! – Teresa beijou a testa de Léo, pegou a própria bolsa e saiu de casa.

Léo pensou em como era gostoso dizer em voz alta o nome do lugar que iriam, como se por um minuto não estivesse escondendo dos pais o quanto ele e os amigos estavam envolvidos com o universo da bruxaria. Sabia que a mãe seria a primeira a se sentir culpada, como se tivesse falhado na criação do filho a ponto dele precisar sustentar seu desejo de viver por meio da fantasia ou se era algum sintoma de algum transtorno psicológico. Não, Léo sabia que para algumas pessoas a magia era demais para processar. Estaria mentindo se ele não dissesse que ele também acharia que pessoas como Sylvanus que tinham uma loja de produtos mágicos não passavam de desesperados por ganhar dinheiro em cima da ingenuidade e da vulnerabilidade dos outros.

O Sangue - Os Bruxos de São Cipriano Livro 3Where stories live. Discover now