Aquela noite Zarah não dormiu, revirou na cama a noite toda. Blake a deixava inquieta. Sem muitas esperanças de dormir, levantou-se e se sentou na poltrona perto da janela, viu o sol nascer e com ele todas aquelas orações das mesquitas ao redor que entoavam louvores a Allah. Depois que viu e ouviu o maravilhoso amanhecer de Marrakesh, ela tomou um bom banho, vestiu uma calça leve de linho, uma camisa de seda, calçou seu Oxford marrom e desceu para o café. Se deliciou com as iguarias, oferecidas pelo hotel, mandou mensagens para a família, algumas fotos para que vissem o lugar. Depois da breve conversa com a família, Madison se reuniu a ela para o café. Seu rosto estava com uma aparência flácida e seus olhos estavam fundos.
- Bom dia! Recém-casada. Tudo bem?
- Não, parece que está é minha primeira ressaca.
Zarah riu se divertindo com a situação.
- Na verdade, sua primeira ressaca foi no último baile do colegial, onde seu acompanhante a trocou por uma menina mais velha e bebemos para afogar as magoas.
Madison sorriu ao se lembrar daquele momento.
- Faz tanto tempo. Sua memória é excelente para situações constrangedoras.
- Obrigada. – Agradeceu sarcástica. - Mudando de assunto, que horas vocês vão?
- Depois do almoço, ainda nem arrumei minhas malas, você me ajuda?
- Claro!
Blake dormiu muito pouco e acordou de péssimo humor, na mesa do café Meg, falava sem parar, de uma viagem que ela faria, para rever suas amigas que ficaram na Inglaterra. Mas seu único pensamento estava em Zarah, que o rejeitou. Ela estava decidida, talvez ainda estivesse apaixonada pelo tal Malcon, como ouviu Madison dizer. Tinha planejado tanto, queria se refugiar com ela em algum lugar, tê-la somente para ele. Ela iria embora e não podia fazer nada para impedir. Precisava sair, fugir do que estava prestes a fazer.
- Blake, você está me ouvindo?
Meg interrompeu seus pensamentos, chamado o para a realidade.
Ele assentiu com a cabeça enquanto tomava seu café. Meg o tinha dado uma ideia.
- Sim, estava dizendo que vai viajar. Estou pensando em fazer o mesmo. Talvez eu vá amanhã, ainda não me decidi.
Meg estranhou, mas não quis contraria-lo.
- Entendi, quando estiver viajando, não deixe de me ligar, fico preocupada.
Blake nada disse, não estava muito para conversa. Depois da forma como Zarah o rejeitou ele, ficou muito desapontado, precisava tirar uns dias em seu refúgio, sem ninguém para perturbá-lo. Assim que Meg arrumou tudo e saiu, ele também fez o mesmo. Seu itinerário contava com uma parada em Fez, para que Faruk visse a família, já havia se tornado um ritual, sempre que viaja para o seu refúgio paravam lá no caminho. Depois do almoço com tudo pronto, Blake avisou a Aziz, ligou para sua secretária que combinou tudo com o piloto de helicóptero da empresa Mubarak, que já estava acostumado a fazer esse tipo de viagem com Blake. Saíram na hora do almoço. Enquanto, olhava a paisagem o rosto de Zarah se fazia presente em seus pensamentos. Quando Madison lhe entregou o buquê, ele viu ali sua oportunidade de ouro, era a vida lhe dando uma segunda chance, mas logo depois, ela o mandou embora.
***
Pouco depois do almoço e com as malas prontas, Madison saiu em viagem de lua de mel. Deixou tudo acertado com a assistente de seu pai. Zarah ligaria no fim do dia confirmando a hora do vôo, que por exigência dela, seria de primeira classe. Assim que saíram, Helen a convidou para conhecer Fez, uma linda cidade, onde o sr. Jones visitaria um antigo amigo. Helen falou tanto sobre a cidade, as medinas e o curtume ,que ela ficou muito curiosa, pegou a bolsa e foi com eles. Iriam de helicóptero, um dos muitos da empresa Mubarak. Visto que era impossível ir de carro já que a viagem levaria um pouco mais de quinze horas. Apesar do medo, aproveitou o trajeto. Meia hora depois, desciam em um dos helipontos pertencentes a Aziz. Ao descerem do heliponto havia um carro os esperando. A cidade de Fez era muito parecida com Marrakesh na arquitetura, nos mosaicos e azulejos. O movimento era intenso. Foram deixados na entrada da cidade, onde um guia os acompanharia a pedido do amigo do sr. Jones. Dentro das medinas o acesso a carros era impossível, pois todo o trajeto ali era em ruelas, extremamente apertadas. Segundo a explicação do guia, estavam entrando em Fez El Bali ou Fez, a velha, como alguns dos turistas a chamavam, a medina mais antiga da cidade. Suas ruelas se assemelhavam a labirintos, os mercados eram a céu aberto com praticamente tudo sendo vendido, desde tâmaras a animais para o abate, de tapetes a produtos em couro. A seda era tingida nos degraus das ruelas, e panelas eram feitas em meio a praças. Andar por Fez era como voltar no tempo, tudo ali encantava Zarah, que vibrava com cada descoberta. As vezes paravam no caminho para dar passagem a burrinhos que carregavam mercadorias, único meio de transporte capaz de percorrer aqueles estreitos labirintos. Era tudo muito interessante, quase sempre havia uma mesquita, uma fornalha e uma farmácia, que em sua maioria era de produtos naturais. O guia os levou a em inúmeros pontos apreciados pelos turistas, o último foi o curtume Chouara, onde os couros de vaca, bode, ovelha e camelo são tratados com fezes de pombo e tingidos com produtos naturais, como açafrão e índigo. Assim que entraram, entregaram a eles, ramos de lavanda e hortelã, para abafar o odor, pois o cheiro era terrível. Saíram do curtume e foram direto para casa de Hassan, um senhor de idade bastante simpático que havia enriquecido com a venda de tabaco, a tabacaria Império Narguile, era uma das mais famosas em Fez. Antes de adentrarem na casa, Zarah pediu a Helen que a deixassem em um ponto estratégico para achar a casa de Hassan pois ela queria comprar algumas lembranças para a família. Samir, o guia, os garantiu que ficaria com ela, até que terminasse. Assim se separaram, cada um pegando o seu caminho. Ela viu inúmeras lojas, fotografou cada detalhe, comprou lenços de seda, pulseiras, incensos e outras bugigangas que fariam a delícia de todos. Acabou perdendo a noção do tempo. Samir, recebeu uma ligação e ficou preocupado. Alguém da família tinha sofrido um acidente. Zarah disse que ele podia ir e como não estavam muito longe da casa de Hassan, Samir disse que mandaria um jovem ir busca-la, era para se manter naquela ruela. Enquanto esperava se distraiu com os inúmeros objetos que lhe eram oferecidos por vários vendedores. As horas foram passando, dava-se início ao fim de tarde. Zarah entrou em pânico ao ver algumas lojas fechando, seu celular estava com a bateria fraca, tentou ligar algumas vezes para o sr. Jones, mas ele não atendeu. Deu algumas voltas na ruela até que a noite, se apresentou e ela se encontrou sozinha. Com medo, caminhou para encontrar alguém para pedir ajuda. Foi em uma curva sinuosa e vazia, que encontrou dois homens, mas, ao invés de se sentir segura, sentiu medo. Tomou outro caminho para que eles não percebessem sua presença, mas foi inútil. Ela correu e se perdeu, já tomada de pânico, sentiu duas mãos a segurarem, ela tentou gritar, mas eles tamparam a sua boca.
Blake havia passado o dia inteiro com a família de Faruk, uma família grande e barulhenta. A saudade era palpável em todos. Por isso, deu folga a ele e chamou outro motorista para leva-lo a sua casa, próxima a Fez. Quando a noite caiu Blake, agradeceu e partiu para encontrar seu outro motorista na entrada da cidade, apesar de já ser noite, ele conhecia o caminho, mas foi em uma das ruelas próximas a casa de Faruk que ele viu dois homens atacando alguém. E sem pensar nas consequências, foi ajudar o desconhecido. Blake os surpreendeu, derrubou um e depois o outro, seus golpes foram eficientes, eles fugiram o mais rápido que puderam. Assustada, a vitima saiu correndo e caiu batendo a cabeça. Ele foi ajudar e mesmo com a pouca luz reconheceu o rosto de Zarah. Viu um corte em sua cabeça, sujando o cabelo de sangue.
- Zarah? Fale comigo.
Com medo que aqueles homens retornassem, ele a pegou no colo e seguiu seu caminho. Não estavam muito longe do ponto de encontro, em um dado momento, ele avistou um rapaz e pediu para que o ajudasse a carrega-la. Quando o rapaz viu a moça, perguntou a Blake.
- O senhor conhece está mulher?
- Sim, somos amigos, porque?
- Meu tio é guia, ele teve um contratempo e pediu para que eu viesse buscar uma moça, pela foto, ela se parece com a que meu tio me mostrou. Eu deveria leva-la a casa de Hassan Al Hadid, onde os ostros convidados a esperam, mas eu não a encontrei.
Blake questionou ao menino quem eram os outros turistas e esse confirmou suas suspeitas.
- Sr. Jones Muller.
Blake olhava para Zarah e se perguntava se a levaria para os Muller ou a levaria consigo. Travava dentro sí, uma batalha. Quando chegaram no local em que o motorista o aguardava ele explicou ao menino.
- Vá a casa de Hassan e diga a eles que a senhorita Zarah Whitmore, está bem, que se encontrou com amigos, e que voltará com eles a Marrakesh.
O motorista o ajudou colocar Zarah dentro do carro, Blake deu uma boa gorjeta ao menino e sussurrou para as estrelas.
- Alea jacta est! A sorte está lançada.
Levaram quarenta minutos até que chegassem. Zarah ficou desacordada todo o trajeto. Ao chegar em sua casa, Blake pediu que Ahmed chamasse seu mordomo. Omar adentrou a casa rapidamente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Alma Cativa
RomanceZarah Whitmore, é uma mulher de vinte e nove anos, sem muita experiência no campo sentimental e com um amor platônico por seu chefe, que não passam de fantasias adolescentes. Blake Mubarak, em seus trinta anos, já tinha vivido algumas perdas import...