Os dias depois do casamento foram os melhores para Blake. De dia, faziam planos, lia alguns livros para ela e a noite se amavam, com calma, com cuidado e com respeito, pela nova vida que eles estavam começando. Mesmo que tudo não tivesse começado bem, agora tudo seria diferente. Naquela noite depois de reafirmarem seu amor, em uma entrega verdadeira, real, ele ainda podia sentir o calor da pele dela, em todo seu corpo, sentia ainda o gosto adocicado de seus lábios. Ele ficou velando pelo sono dela. Aqueles cabelos castanhos, enrolados, espalhados em seu peito, diziam que tudo tinha valido a pena. Sentia uma nova vida pulsar em suas veias, era um homem vivo, novamente. Agora com Zarah a seu lado, ele sabia que nunca tinha amado Karen, mas precisava contar toda a verdade, para não correr o risco de perde-la. Contaria tudo, logo depois do café. Daria tempo para ela digerir toda a história, teria calma. O sol começou a despontar no horizonte, dando seus primeiros sinais em sua janela. A luz dourada tomou todo quarto, iluminou as costas nuas de Zarah, formando desenhos de sombra e luz, que logo avançaram sobre ele. Caminharam da pele delicada até as suas mãos espalmadas sobre as costas dela. Seguiram para seu braço, contornando suas veias saltadas e finalmente encontraram seu peitoral grande e forte. Só de ver sua esposa ao seu lado, fazia seu coração acelerar. Blake era dela desde do começo. Ficou assim, por mais um tempo. Quando o sol já estava em todo quarto, se levantou, sem se importar com sua nudez e foi direto para o banheiro, escovou os dentes e abriu o chuveiro. A água, um pouco mais fria, o despertou. E foi com surpresa que sentiu mãos pequenas e quentes em seu peitoral. Ele as manteve sobre o coração, enquanto a água caía em seu pescoço.
- Bom dia, amor.
Naquele momento seu coração errou uma batida, ouvir aquelas palavras, mexiam com ele, cada vez que ouvia.
- Fala de novo.
Confusa, repetiu.
- Bom dia.
- Não...
- Amor. Você é o meu amor, meu louco amor.
Ele beijou os dedos molhados de Zarah, que olhava as costas dele, estava admirando mais uma vez sua tatuagem.
- É um escaravelho, não é? O que significa?
- A figura do Escaravelho, para os egípsios está ligada ao ciclo solar, é tido com um símbolo de ressurreição. É a representação do sol que renasce de si mesmo. Em minha vida, eu sempre tive que me refazer, renascer... primeiro com a morte dos meus pais, o abandono do meu irmão, perder tudo que conhecia, para viver no desconhecido e depois... – Ele ia falar sobre Karen, mas queria esperar até o café.
- E depois? – Ela o incentivou, mas ele ficou calado e ficou de frente para ela. – Blake, está tudo bem?
Ela percebeu a tristeza dele e esperou.
- Preciso te contar, uma parte da minha vida que... não gosto de lembrar. Sinto que preciso contar, não quero esconder nada de você.
Foi exatamente ali que ela teve um mal pressentimento, se lembrou do sonho que teve, com ele várias vezes.
- Tudo bem, não se preocupe, estamos juntos, eu estou aqui e quando se sentir pronto, pode me contar.
Ela o enlaçou pelo pescoço, ficou na ponta dos pés e deixou que a água molhasse os dois. Um alívio para o coração angustiado dele. Ficaram abraçados por um tempo. Ele terminou o banho primeiro, se trocou e ficou esperando por ela na mesa do café. Se serviu apenas do seu costumeiro café preto e forte. Pensava em mil maneiras de contar a ela, mas de nada adiantava preparar o discurso. A verdade era apenas uma, não era bonita, não era generosa, mas tinha resultado em sua maior alegria.
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Alma Cativa
RomanceZarah Whitmore, é uma mulher de vinte e nove anos, sem muita experiência no campo sentimental e com um amor platônico por seu chefe, que não passam de fantasias adolescentes. Blake Mubarak, em seus trinta anos, já tinha vivido algumas perdas import...