Capítulo 11

213 26 0
                                    

                                                 Ficou distraída, olhando toda a movimentação, até que reconheceu Meg no meio da multidão. Parecia procurar alguém, ficou eufórica com a possibilidade de Blake estar ali também, mas não demorou muito para entender que era só ela. Meg a viu e correu até onde estava.

- Que bom que te encontrei. Tem um minuto?

Zarah suspirou, não queria parecer impaciente, mas estava cansada demais.

- Tenho sim, mesmo porque, você não tem culpa de nada. Mas o piloto está abastecendo e não teremos muito tempo.

Meg se sentou, transtornada, sentia medo de não saber se expressar.

- É estranho me abrir com alguém que não conheço. Não costumo fazer isso. Mas tem coisas que você não sabe. O que Blake viveu com Karen, foi um relacionamento destrutivo e abusivo.

Zarah sorriu irônica e Meg compreendeu sua descrença.

- Você deve ser uma daquelas pessoas, que acreditam que só a mulher pode ser oprimida, subjugada e manipulada. Não acredita que um homem possa sofrer tudo isso? Esse tipo de relacionamento acontece quando, um sente demais e o outro não sente nada. Com ele aconteceu exatamente isso. Eu via tudo de longe, o via sofrer e não podia interferir. Ela não respeitava os amigos e nem as pessoas que trabalhavam com ele. Nunca se envolveu nos interesses dele. Karen era leviana e gostava de dizer que era livre. Tudo que Blake queria, era ser como ela. Ter as próprias regras, não se sujeitar a aceitar as escolhas que os outros faziam por ele. Aziz disse que ele queria obriga-la a ama-lo. Mas não foi nada disso, ela era uma maneira que ele encontrou de fugir, da dor, do medo e do abandono. Quando tudo aconteceu, eu senti medo de perder meu irmão. A única família que tinha me restado. Aziz nos ama, mas não nos compreende.

Zarah pensava em cada coisa que ouvia, se colocou no lugar dele e mesmo que não tivesse vivenciado uma perda tão grande, sabia que isso tinha moldado toda sua vida. Não era insensível, de não perceber que todos os três ainda sofriam com a morte dos pais.

- A maneira como ele agiu com você foi errado, mas ele te machucou? Tentou... fazê-la ser...

Zarah entendeu o que ela queria dizer.

- Não, não me obrigou a nada. Cuidou de mim, dizia que só queria passar um tempo comigo. Eu... me apaixonei, mas não é a mim que ele quer. Tudo que fez foi pensando nela e mesmo sabendo disso, não consigo odiá-lo.

Sem jeito, tentou esconder algumas lágrimas que insistiam fugir.

- Então, não vá embora, converse com ele. Lhe dê uma chance e se ver que não tem jeito, aceitarei a sua escolha e nunca mais a procurarei. Blake não está bem, depois que você foi embora, ele bebeu até desmaiar, Omar conseguiu socorre-lo. E nesse tempo, ele não come e nem dorme direito, anda pela casa a noite, igual um zumbi. Saí de lá e deixei Faruk e Omar o vigiando, tenho medo de algo ruim acontecer, já não aguento viver assim, sempre com medo. Por isso peço sua ajuda, para que ele compreenda que não está sozinho. Vou procurar um psicólogo para ele e assim que tudo se acalmar um pouco, vou procurar um para mim também. Carrego tanta coisa, quero viver sem esse peso.

Zarah observou a jovem a sua frente, apesar do ar de menina, ela parecia ser mais velha, sua pele branca ressaltava os olhos verdes e fundos, o cabelo, parecia um pouco desalinhado, tudo nela exalava sofrimento, isso a fez perceber que eles, na verdade eram vítimas, dos acontecimentos, da vida. Desejou ajuda-lo e ir embora sem ao menos se importar com que poderia acontecer com ele, pareceu horrível. Certo ou não, ela ficaria, iria vê-lo, convence-lo de que não estava sozinho e o resto estaria nas mãos de Deus.

Meg suspirou e se recostou na cadeira, estava cansada, não dormia direito a quase três dias, suas forças estavam no limite. Ficou de olhos fechados fazendo preces a Deus de que ela não fosse embora.

Alma CativaOnde histórias criam vida. Descubra agora