capítulo 6

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– VOCÊ SABE A QUE HORAS NASCEU? – Nadine me pergunta antes de dar um gole no seu gim-tônica.

– Não faço ideia – respondo. – Saber isso significaria que tenho uma mãe que se permite coisinhas significativas como essa. Ou uma mãe que presta atenção.

Recosto-me na cadeira e inspiro o ar marinho. Está uma delícia lá fora, um
desses meses de abril que exalta ar fresco e sol provocante. Não há nevoeiro, e a baía ofusca à nossa frente, a água iluminada de dentro.

Não parece ser meu aniversário. Isso é uma coisa boa. Durante um ano temi a contagem regressiva até 30, e parece que fui arrastado para dentro dele, chutando e berrando

– Talvez você possa perguntar pra ela amanhã – ela diz.

Fico olhando os veleiros fluírem para lá e para cá. Não quero pensar no fato de que meus pais chegam à cidade amanhã de manhã e que tenho um brunch programado com eles. Não quero pensar no fato de que há anos não os vejo, e que esta é a primeira vez que eles vêm à Costa Oeste para me ver. Não quero ouvir suas expectativas e as pequenas maneiras como os decepcionei.

Só quero ficar sentado neste pátio, bebendo todas as cervejas com minha linda namorada, e entrar nos 30 como se não fosse grande coisa. Foi por isso que originalmente descartei qualquer festa da “virada dos 30” e toda aquela merda estúpida. Quero que hoje seja como qualquer outro dia.

Mas sei que não é. Nada poderia mudar ao passar de 29 para 30, contudo posso sentir a agitação, a conversão, em algum lugar lá no fundo, como se estivesse pouco a pouco me transformando num lobisomem ou num vampiro que não brilha.

Não tem nada a ver com o pacto que fiz para mim mesmo. Não, essa merda
agora está liquidada. Tenho Nadine e é sério. Toda aquela cláusula: “se não
estivermos num relacionamento sério quando fizermos 30”? Bom, Nadine é meu relacionamento sério.

– É – digo a ela, embora saiba que não vou perguntar coisa alguma para minha mãe.

Nadine me olha curiosa, a testa franzida, e posso sentir que vem chegando uma pergunta, a pergunta que a está atormentando desde que contei que eles vinham.

– Então, vão ser só vocês três? –pergunta.

Concordo com a cabeça e engulo o resto da cerveja.

– Eu te convidaria, mas, você sabe, é complicado.

Sei que ela andou esperando um convite, ou pelo menos uma explicação de por que minha namorada de seis meses não vai conhecer meus pais, mas isso é tudo o
que posso lhe dar. A questão é: não sei bem o que é mais complicado, se meu
relacionamento com meus pais ou se meu relacionamento com ela.

Talvez não estejamos tão sérios quanto gosto de pensar.

– Eu posso lidar com coisas complicadas – ela diz, e sei que está magoada. Na verdade, é extremamente fácil perceber, ela estampa seus sentimentos na manga de sua blusa, no rosto, por toda parte.

se nada der certo até os 30, você se casa comigo? • Noany •Onde histórias criam vida. Descubra agora