Prólogo

2.8K 96 18
                                    

Arredores de Palmas, dia em que escapei do apocalipse, 2012.

Excelentíssimo senhor leitor, eu sobrevivi ao apocalipse de Palmas! Isso mesmo, você não leu errado. Palmas! Eu não estou falando de Palmas no interior do Paraná. Eu me refiro às "palmas" do meme, sabe aquele de que você não merece palmas e sim o Tocantins inteiro? Pois então. O que se sucedeu nas terras palmenses não tem nada de engraçado como o meme, pelo contrário. A minha cidade se tornou o verdadeiro epicentro do apocalipse.

É engraçado que nunca imaginei que o fim da humanidade começaria no Brasil, ainda mais em Palmas. Sempre achei que um meteoro assolaria o planeta vindo de longe, como no filme Armageddon, destruindo ou os Estados Unidos ou a Europa, que parecem ser os únicos lugares cuja estrutura suporta eventos de tal porte. Para minha surpresa, não houve um meteoro com alto poder de destruição nem raças alienígenas tentando roubar nossos recursos naturais e dizimando a população como efeito colateral. O apocalipse começou pequeno, aqui mesmo nesta terra que tenho orgulho de chamar de minha.

Muitos brasileiros não sabem onde Palmas fica e nem o que se passa por aqui. A cidade em si não é muito falada nos jornais globais, a não ser como referência de máximas de temperatura no verão. E também no inverno, que nós locais chamamos de "inferno". Parece que todo o calor do universo resolveu dar o ar da graça por essas bandas e ficou para sempre. Só quem já sentiu na pele vai ter uma noção real do que estou falando.

Apesar de quente, a cidade era linda! Não só a cidade, mas o estado em si é um berço cultural sem precedentes. Mesmo tendo seus problemas, como qualquer cidade por aí, a gente não sofria com a ocorrência de desastres naturais. Nada de tempestades que destroem casas ou derrubam barrancos, tornados, terremotos, furacões, tsunamis, até porque a cidade fica bem no meio do Brasil.

Desde sempre Palmas me conquistou de um jeito peculiar por suas belezas. Das múltiplas paixões que cultivei, tenho que fazer uma menção honrosa à Praça dos Girassóis. Linda, gigante, estonteante! Sendo uma das maiores praças do mundo, a quantidade de árvores e ladrilhos deixava os meus olhos brilhando. Parece que cada detalhe foi talhado para o seu lugar especial e único, criando um conjunto harmonioso que deixava meu coração aquecido de orgulho. Melhor programa de fim de tarde? Ir para a praça, colocar o iPod para tocar num volume agradável e ficar olhando para o céu até ver o sol ir embora.

Uma das melhores vantagens de se morar em Palmas: nada de pessoas desesperadas buzinando para chegar ao trabalho! Aquele conforto, eu não encontrei em nenhuma cidade grande que conheci. Não que eu tenha viajado pelo Brasil inteiro, porque vida de universitário é triste tratando-se de dinheiro, ou melhor, da falta dele. Entretanto, acredito que estou prestes a começar uma longa viagem. Espero encontrar uma cidade parecida com Palmas para reconstruir minha vida.

Talvez eu deva corrigir a parte de: "nada de pessoas desesperadas". As últimas quarenta e oito horas foram tão caóticas, que até agora me sinto preso em um pesadelo. Nunca vi tantas pessoas desesperadas na minha frente. Um vírus mortal se espalhou na cidade em uma velocidade assustadora. Todo o território municipal entrou em quarentena. Quem não tentou fugir dos limites impostos pelo exército, recorreu a parentes que moravam nas zonas mais distantes. 

Estou fazendo o possível para não pensar na minha família e nos meus amigos. Sei que pessoas queridas podem estar mortas, dilaceradas ou estripadas em qualquer esquina. Prefiro pensar que, assim como eu, elas estão lutando por suas vidas. Um dia, vou poder reencontrá-las. Espero que esse dia chegue logo.

***

Depois de escrever o último parágrafo, confesso que dei uma pausa antes de seguir adiante. Caso contrário, ia ser uma enxurrada de tragédias que com certeza poderiam ser escritas em um livro. Talvez uma série: o fim dos tempos. Ou melhor — O Início do Fim. Eu sei, super clichê, mas um bom clichê sempre pode te surpreender.

Eu não pretendo ser um herói para acabar com essa maldita infecção que está assolando a minha querida cidade. Todavia, desejo com todas as minhas forças que ela acabe. E quero estar vivo para ver o fim disso tudo. 

Como o incrível mestre Tolkien nos disse uma vez: "Nem todos que estão vagando estão perdidos". Eu estou sendo poser agora, porque não li O Senhor dos Anéis, mas vi todos os filmes, bastidores, gosto muito da história e dos quotes. Espero do fundo do meu coração, que ele esteja certo. Até prometo ler O Senhor dos Anéis se sobreviver. Os três volumes! 

Se você algum dia encontrar essa carta e se perguntar quem diabos é o autor, você jamais vai descobrir. Pensei em criar um codinome, um apelido... Ou inventar um nome qualquer. Mas no fim das contas, percebi que isso não é importante. Eu sou um SOBREVIVENTE e isso é o que realmente importa.

LIVRO I - O Início do Fim (Degustação + Livro Físico)Onde histórias criam vida. Descubra agora