Capítulo 5

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Pov Bianca

Sim, Há Pelo Menos Três Dúzias de Balões. Umas coisas grandes em tons pastéis, do tamanho da cabeça de ETs.

Um determinado balão se destaca no meio de todos os outros e mais imponente do que os demais. É o único em tom vívido. É vermelho, um vermelho bem forte, e tem o formato de um coração. Isto deveria ser um coração, mas para mim mais parece com um enorme traseiro.

Entrego uma nota de vinte para o motorista, digo-lhe para ficar com o troco e saio do carro. Mal fecho a porta e ele já sai cantando pneu em busca da próxima corrida.

Não consigo enxergar o rosto dela. Nem o tronco. A cintura também não. Da metade para cima, o corpo dela está totalmente encoberto por balões, mas eu poderia reconhecer aquelas pernas em qualquer lugar.

Duda praticava corrida no ensino médio, tem pernas belas e bem torneadas, com panturrilhas atléticas. São a própria personificação do pecado quando ela usa saltos altos. Aliás, as panturrilhas dela são uma delícia de qualquer jeito, mesmo quando ela está vestindo tênis e meias brancas, como agora. Duda provavelmente saiu hoje cedo para a sua corrida matinal.

Olhando na direção dela, observo o desenrolar de uma cena curiosa enquanto avanço pela calçada em longos passos.

Duda tenta passar o buquê para uma mãe que está empurrando um carrinho de bebê. A mãe balança a cabeça recusando e ainda dando uma risadinha de escárnio. Sigo caminhando na direção dela, aproximando-me cada vez mais. Ela agora está oferecendo os balões a uma menina que parece ter uns dez anos.

— Sem chance! — a menina grita e sai correndo na direção oposta. Atrás do amontoado de balões, Duda bufa, frustrada.

— Vamos ver se eu consigo adivinhar — eu digo quando a alcanço. — Você vai largar o Mabreu Spot beer para tentar uma nova carreira como vendedora de balões? Ou será que o Fredinho atacou de novo?

— É a terceira vez esta semana! Ele não consegue entender o significado das palavras "não vamos voltar de jeito nenhum". — Duda empurra os baIões para afastá-los do rosto, mas eles encostam em seu cabelo. Novamente ela tenta empurrá-los, mas a eletricidade estática está trabalhando contra ela. Os malditos balões são implacáveis e uma leve brisa continua mantendo-os colados ao seu cabelo. — Essas porcarias são a coisa mais estúpida da face da terra! Aposto que os outros moradores estão falando sobre o plano dele para voltar comigo, porque todos com certeza já sabem que é ele que faz essas coisas.

— Ele acabou de enviar isso, não foi?

— Sim! — ela responde brava, os dentes cerrados enquanto agarra com força o buquê. — Logo depois que falei com você, eu estava saindo para tomar um café rápido quando o porteiro interfonou para avisar que haviam deixado esses balões para mim. Mas eles eram grandes demais para caber no elevador, "então será que você pode vir buscá-los?". Mesmo que eu quisesse ficar com essa tralha gigante, eu não conseguiria levá-la para o apartamento.

— E você está tentando dá-la para alguém? — pergunto e estendo a mão, gesticulando para que Duda entregue os balões a mim.— Eu imaginei que uma criança pudesse aproveitá-los melhor do que eu. Por incrível que pareça, já faz tempo que abandonei meu fetiche por balões.

Com seu ruído característico, um ônibus começa a parar diante do prédio e a fumaça do escapamento empurra um balão direto para o rosto de Duda.

— Uuuhh — ela reclama quando é atacada por um perverso balão cor-de-rosa, como algodão doce.

Agarro o emaranhado de cordões e puxo os balões para mim, então os seguro no alto, sobre a minha cabeça.

— E se a gente simplesmente soltasse? Deixasse que voe por São Paulo parecendo um ovo de Páscoa extravagante?

Ela balança a cabeça numa negativa.

— Não dá. Balões acabam perdendo gás hélio e caindo. Daí vão parar nas árvores ou no chão e os animais podem comê-los e adoecer. Isso não é nada legal.

Duda é muito especial. Ela adora os animais.

— Tem toda razão — respondo. — Bem, então vamos direto ao ponto. Você suportaria testemunhar o massacre de três dúzias de balões estúpidos bem aqui?

Ela responde que sim, balançando a cabeça com determinação.

— Talvez eu fique traumatizada e chore, mais vou acabar superando...

— Tape os ouvidos — eu digo, então pego minhas chaves com a mão livre e começo a golpear os balões. Um a um, eles estouram fazendo um grande barulho — incluindo aquele com formato de traseiro. No final, tudo o que resta em minha mão é um buquê de borracha amolecido.

Mais ou menos parecido com o Fred.

Eu vou contar, de modo resumido, como o Fred foi agraciado com o título de rei dos babacas.

Morando no mesmo prédio, ele e Duda se conheceram há dois anos. Começaram a namorar, deram-se bem e o relacionamento se fortaleceu. Passaram a conversar sobre a possibilidade de irem morar juntos. Decidiram comprar um apartamento maior no décimo andar e ficar noivos. Tudo estava indo às mil maravilhas, até o dia que faltava apenas assinar a papelada e fechar o negócio. Então Fred foi mais cedo ao imóvel para — vejam só isso — "checar o encanamento". Sim, foi essa a desculpa dele.

Quando a Duda chegou, com a caneta na mão, Fred estava traindo ela com a corretora de imóveis no balcão da cozinha.

— Vai me dizer que estão só testando a resistência da bancada de aço, não é mesmo? — Duda disparou e eu me senti muito orgulhosa porque ela teve presença de espírito suficiente para fazer um comentário sarcástico numa situação tão constrangedora.

Claro que, na verdade, isso a deixou devastada. Ela amava o cara. Ela chorou em meu ombro enquanto me contava a história, o comentário ácido e tudo o mais. Isso aconteceu dez meses atrás, e quando Fred finalmente se cansou da corretora, ele embarcou em uma campanha para reconquistar a Duda. Com presentes.

Presentes abomináveis.

Enfio os balões flácidos em uma lata de lixo na esquina.

— Pronto. Agora os animais estão livres desse flagelo.

— Obrigada — ela diz aliviada, tirando um elástico do pulso e o usando para prender o cabelo em um rabo-de-cavalo. — Como essas porcarias fazem barulho quando explodem. Mas quando você acaba com elas, elas ficam pateticamente frouxas.

— Igual ao Fred? — pergunto, arqueando as sobrancelhas.

Os lábios dela se curvam em um leve sorriso. Ela está se esforçando para não rir e cobre a boca. Duda não é o tipo de pessoa que compartilha segredos íntimos. Ela jamais me contou detalhes de sua vida sexual — não que eu tivesse curiosidade em saber. De qualquer forma, ela era um túmulo. É por isso que eu fico surpresa ao vê-la agora, fazendo um gesto com o polegar e o indicador e sussurrando: "só um pouquinho". É quase uma façanha para ela.

— Vamos tomar aquele café que você queria e eu conto por que estava agindo como uma boba apaixonada.

Para Sempre Minha Melhor Amiga - DuancaOnde histórias criam vida. Descubra agora