Capítulo 21

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Pov Bianca

Este Foi Um Dia Proveitoso Para Mim. 

Em primeiro lugar, chequei o calendário e instituí o Dia do Martírio da Bimbim. Má-sorte desse tipo vem em dose tripla. Como já passa da meia-noite agora, acho que posso acreditar que o nível de ameaça tenha diminuído e já não seja tão preocupante. 

Mas nunca se sabe. 

Em segundo lugar, o inchaço resultante da pancada que levei é o maior galo que a humanidade já testemunhou; contudo, três horas de tratamento contínuo com gelo não apenas congelaram a minha têmpora, mas também reduziram o inchaço a quase nada. Só que a grande mancha roxa na lateral do meu rosto ainda vai me acompanhar por muito tempo. 

Quando fui comprar ibuprofeno, o cara da farmácia me disse: "nossa, que belo roxo você conseguiu!". 

E em terceiro lugar é justamente o ibuprofeno que está fazendo maravilhas por mim. 

Mas o verdadeiro teste vem agora. O interfone está chamando perto da porta; sei que é a Duda, porque ela me enviou uma mensagem de texto dizendo que estava a caminho com algumas compras. 

Eu me volto para o Frajola. Ele está dormindo profundamente na almofada do sofá, com a ponta da língua para fora da boca. 

— Você pode atender? 

Ele não responde, então eu me arrasto do sofá e vou até a porta. 

Aperto o botão do interfone. 

— Alô? É a enfermeira mais gostosa do mundo, a que eu pedi na agência de enfermeiras temporárias? 

O som da risada dela chega a mim através do interfone. 

— Sim, isso mesmo e estou aqui para lhe dar um banho de esponja - ela responde. 

Aperto o botão do interfone que destrava o portão do prédio, então abro a porta do meu apartamento e espero Duda subir pelo barulhento elevador. 

— Você é uma visão e tanto para estes pobres olhos feridos — eu digo quando ela sai do elevador e caminha até mim. 

— Não me diga que machucou os olhos também — ela provoca. 

— Não, só aqui — digo, esfregando de leve a têmpora. 

Duda entra carregando várias sacolas, eu fecho a porta e volto para o sofá. Ela coloca as sacolas na mesa de centro e me observa.

Então ela levanta a mão e aproxima os dedos do meu ferimento, mas não o toca. 

— Isso dói? 

Faço que sim com a cabeça. 

Ela se inclina e me dá um beijo na testa. 

— Demais. Dói demais — eu choramingo na esperança de ganhar mais carinho. 

Duda balança a cabeça e se afasta para olhar para mim. 

— Fale sério. Como está se sentindo? 

Abro a boca para falar, mas hesito: respondo a verdade — que estou bem — ou respondo para ganhar atenção? É a decisão mais rápida que já tomei na vida. 

— Eu me sinto horrível — murmuro, e isso me garante mais um beijo. Duda se senta no sofá e une as palmas das mãos. 

— Muito bem — ela diz.

— Eu trouxe a sua bebida favorita. — Duda retira da sacola uma garrafinha de uísque. Levanto as sobrancelhas em sinal de apreciação. — E também macarrão frio com gergelim, do seu restaurante chinês favorito. — ela apanha uma caixa de papelão branca e a segura no alto, exibindo-a com orgulho. Eu arregalo os olhos e esfrego as mãos. Mas ainda não terminou. Duda enfia a mão em outra sacola e retira dela algo embrulhado num papel branco grosso. 

— Também temos sanduíches tostados, daqueles que você adora, da mercearia da esquina. Frango e provolone, sem maionese. Porque você odeia maionese.  Esqueça tudo o que eu disse. O que eu quero é isto: ela aqui comigo, sabendo de todas essas coisas. 

Seguro o rosto dela com as duas mãos. 

— Eu quero tudo isso — digo a ela. 

Ela me beija, mas seus beijos são vacilantes, há tensão em seus lábios.

— Ei, eu não vou quebrar — reclamo, separando-me dela. 

— É que me sinto mal por tudo isso. Foi minha culpa. Eu te ataquei com a porta do armário. 

— Ora, não foi intencional. — Faço silêncio por um instante. — Ou foi? 

— De jeito nenhum — ela responde, balançando a cabeça numa negativa. 

— Será que eu estou tão horrível agora que você nem suporta olhar pra mim? 

— Ah, Bianca, tenha dó. Você está incrível, como sempre. 

— O que é então? 

— Eu estou me sentindo péssima por tê-la machucado. Quero que se sinta melhor. Foi por isso que comprei esse monte de delícias.

— Ela aponta as compras. 

— E eu gostei disso. 

— Acho melhor colocar um pouco mais de gelo aí — ela diz, e se dirige à cozinha para pegar uma bolsa fria no freezer. Quando volta, ela a encosta no local ferido e pressiona. Porém, eu afasto com gentileza a mão dela. 

— Maria Eduarda, faz horas estou colocando gelo nisso. Se você colocar mais gelo aí, o galo vai acabar afundando cérebro adentro. Se isso acontecer, a minha vida estará realmente em perigo. 

Ela faz uma expressão de desagrado, mas acaba cedendo e desiste de aplicar o gelo. Então, aponta o frasco de ibuprofeno. 

— Precisa de mais? 

— Não, agora não. Tomei dois às dez da noite e me fizeram sentir grogue até agora. 

— Eu sinto muito, Bianca — Duda murmura constrangida, juntando as mãos e entrelaçando os dedos. 

Eu volto a encostar a cabeça na almofada. 

— Duda, o que faz você pensar que eu estou zangada porque você me deu uma pancada? Eu não me importo. Contanto que essa mancha pavorosa não faça você perder o interesse em mim, eu não estou nem aí — digo em voz alta e clara. 

Ela apenas balança a cabeça para cima e para baixo. 

Acaricio o pescoço dela com um dedo e volto a falar, dessa vez num tom de voz mais baixo: 

— Então pare de ficar me mimando e me enchendo de cuidados. Eu não quero ibuprofeno, não quero gelo, não quero nem mesmo o macarrão com gergelim, que, aliás, é o meu segundo prato favorito. O primeiro são os sanduíches que você comprou. 

— O que você quer? 

Eu seguro a nuca dela e a puxo para mim. Seus lábios param a milímetros dos meus.

— Você — eu sussurro ao seu ouvido.

                                           ********

— É tão bom! — eu repito, embora esse adjetivo pareça insuficiente para definir a experiência que estamos vivendo. 

— Tudo é bom quando você está comigo — Duda declara, e quando eu a envolvo num abraço apertado, ela se aninha a mim. 

— Absolutamente tudo — eu digo. 

Eu adoro cada detalhe da porcaria do universo, cada coisa, por mais insignificante que seja! E sou a canalha mais feliz do mundo, aqui e agora, nesta sala, com a mulher que eu amo! 

Mas é isso! Sim, é esse o significado contido na sopa de letras. Eu quebrei a principal regra básica, a maior de todas! 

Estou apaixonada pela minha melhor amiga.

Para Sempre Minha Melhor Amiga - DuancaOnde histórias criam vida. Descubra agora