Capítulo 10

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Pov Bianca

Na Tarde Seguinte, eu observo a trajetória de uma pequena bola branca que sobe a uma grande altura no ar e então cai e aterrissa pesadamente sobre a grama artificial, a mais ou menos cinco metros de distância do seu alvo.

— Cara, você é ruim demais — eu digo ao Arthur.

— Como se eu não soubesse disso.

Ele apanha outra bola, coloca-a sobre o suporte e balança seu taco. Quando bate na bola, ela voa bem alto, quase atinge o topo de uma rede preta, e então acaba caindo sobre a longa faixa de gramado verde que se estende mais abaixo como uma doca sobre o rio Hudson.

— Odeio ter que te dizer isso, mas eu duvido que o seu novo chefe vá ficar impressionado com o seu talento nesse jogo. Talvez você consiga convencê-lo a jogar softbol com a gente em vez de golfe.

Ele bufa, fazendo pouco da minha sugestão.

— Provavelmente não. O velho é obcecado por golfe. Dizem que ele joga com os favoritos e reserva os melhores horários da grade de programação aos produtores que conseguem jogar com ele de igual pra igual.

— Isso é loucura. Mas se for verdade, você precisa mexer menos os ombros. E o movimento dos seus quadris não está bom — eu digo a ele, valendo-me da experiência que tive com golfe no ensino médio. Não costumo falar muito sobre isso. Faz com que eu pareça arrogante demais. Ou velha demais. Mas se for para ajudar o meu amigo, vale a pena desenterrar alguns dos meus velhos truques de golfe.

Arthur ergue o rosto e olha para mim por detrás dos seus óculos modernos de aro preto, com o cabelo castanho sempre bem ajustado.

Ele se sai melhor desta vez e a bola descreve uma trajetória suave e eficiente sobre o gramado.

— Que beleza! — eu comemoro.

Arthur é uma celebridade da internet.

No ensino médio, ele era o tipo de cara calado e viciado em computadores, sempre grudado em seu notebook, desenhando histórias em quadrinhos obscenas para postar on-line.

Agora, a arte imita a vida e vice-versa. Arthur ainda é um pouco calado, mas as mulheres o notam. Ele malha desde a nossa adolescência, tatuou os braços com desenhos que ele mesmo criou e finalmente reuniu coragem para começar a falar com as mulheres. O resultado disso? Pura mágica. Digamos que ele não tem mais motivos para reclamar de sua vida sexual. O homem é um pegador e eu suspeito que os óculos e o despretensioso ar de "já fui um geek, mas hoje sou uma celebridade" o ajuda a cair nas graças das mulheres.

Então conto a ele a respeito do meu novo relacionamento temporário.

Depois de quase morrer de rir da minha situação, Arthur pergunta:

— Você pretende me convidar para ser seu padrinho? Vai ter casamento de mentira também?

Eu dou risada e balanço a cabeça numa negativa.

— Não vai ter casamento nenhum. Nunca. Vou dizer o que preciso que você faça. Meu pai vai estar com o comprador dele no nosso jogo de softbol do próximo fim de semana. Tudo o que eu quero é que você aja como se soubesse que eu e Duda estamos juntas. Quando chegar a hora, você não pode parecer surpreso nem desconfiado.

Meu pai mantém um time de softbol patrocinado pela Katharine's e eu e Arthur fomos recrutados por ele para integrar o time neste ano. Arthur joga softbol mil vezes melhor do que golfe.

Ele balança a cabeça para cima e para baixo várias vezes, como se estivesse entendendo as minhas instruções.

— Certo, Bianca, vamos ver se eu consegui acompanhar direito. — Ele passa a mão pelo queixo. — Você está dizendo que eu devo ser perfeitamente capaz de dar respaldo a essa merda toda que vocês inventaram. Tá bom. Acho que posso fazer isso.

— Muito engraçado. Mas é por isso que eu confio em você. Você é uma fonte inesgotável de sarcasmo.

— Combina com você, é por isso que nos damos bem — ele retruca com um sorriso matreiro.

— Bom, agora eu preciso me mandar, porque tenho aquele compromisso hoje à noite. O jantar.

Eu começo a me afastar para ir embora, mas Arthur me chama.

— Isso significa que não posso investir na Duda agora?

Meus ombros ficam tensos por um momento e o meu sentimento de posse retorna ainda mais feroz, como uma águia descendo subitamente do céu e brandindo as garras mortais. Eu respiro fundo e me lembro de que Arthur está brincando. É o que ele faz de melhor. Além do mais, eu não sou nem um pouco ciumenta, nem possessiva. A águia acaba se transformando em um pombo.

— Só enquanto durar o nosso teatro, Arthur. Não deve levar mais de uma semana — eu digo. — Depois ela é toda sua.

Mas essas palavras que acabam de sair da minha boca não me agradam nada. Duda pode não ser minha, mas não significa que ela precise ser dele por isso. E eu não sou nenhuma porcaria de símbolo da paz.

— Eu sempre achei que vocês formavam um casal muito gracinha — ele dispara com voz melosa.

Enquanto bato em retirada, ele zomba de mim até não poder mais, imitando sons de beijos e cantando músicas infantis sobre namoradinhos. Essa é a minha deixa para entrar no carro e largá-lo para trás.

Afinal, preciso me preparar para encarnar um personagem esta noite. Porque isso tudo não passa de encenação.

É só encenação e nada mais!

Para Sempre Minha Melhor Amiga - DuancaOnde histórias criam vida. Descubra agora