Anseio

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Thor fechou os olhos e respirou fundo, soltando devagar o ar contido em seus pulmões, arrumou melhor as cobertas sobre seu corpo e apoiou as mãos grandes sobre a barriga. A perfeita representação de conforto. E então ele esperou que o sono lhe agraciasse àquela noite, algo que não aconteceu. O herdeiro do trono asgardiano resolveu contar para distrair a mente, afinal essa brincadeira o deixava sonolento quando ele era pequeno, por que não funcionaria agora?

Ele contou de um a cem todos os tipos de animais que conhecia; cabras, coelhos, cães e até mesmo as moscas, e quando já estava farto de contar carneirinhos e o colchão sob seu corpo parecia afundar como areia movediça, o Deus do trovão mudou de posição, jogando as cobertas de lado e sentando-se na beirada da cama.

Como já era de se supor, estava frio no Reino dos Aesir, mas Thor sentiu-se quente ao ponto de suar, o quarto parecia abafado e carregado de uma atmosfera desagradável, e o loiro esfregou o rosto com ambas as mãos, irritado.

Há muitos dias que Thor não dormia bem, mais precisamente desde seu casamento com Loki, a quem Thor infelizmente não podia culpar por sua falta de sono, já que só o via quando era estritamente necessário. Não, sua insônia era culpa de uma única pessoa: Edda.

Aquela mulher.

Pois, nos quase dois meses em que aquela mulher e seu marido estiveram hospedados no Palácio, Thor sentiu sua vida virar um inferno, afinal Edda não lhe deixava em paz um único segundo do dia. Onde quer que Thor estivesse, ela também estaria. Parecia que o príncipe loiro estava sendo vigiado por ela, e Thor tinha quase certeza de que ela sabia sobre a farsa que era seu casamento, por isso sempre o observava de perto. No início, Thor imaginou que a mulher fosse apenas intrometida demais, porém quando Edda começou a questionar em todo o jantar o porquê de Jane estar ali, Thor se deu conta de que a mulher não era tão tola quanto ele esperava, e que talvez ela soubesse mais do que aparentava. Então aconteceu aquele fatídico dia em que a pequena rainha o flagrou deixando o quarto de Jane Foster pela manhã, e quando Edda o questionou sobre o que fazia ali, Thor não soube o que dizer a ela.

Aparentemente os anões valorizavam muito a união proporcionada pelo casamento monogâmico, e acreditavam que este deve ser um laço para vida toda, tolos românticos.

A poligamia era abominada pelo povo dos anões, de modo que quando Edda finalmente juntou os pontos do que acontecia entre Thor e Jane, ela passou a antagonizar a mortal de maneira quase explícita e sempre que podia despejava inúmeros comentários ácidos sobre Jane Foster. Edda nunca disse abertamente saber de algo, mas Thor era bom em ler as entrelinhas.

Sempre que surgia a oportunidade, Edda e Ivaldi exigiam algum gesto romântico entre os príncipes asgardianos, como alguns beijos trocados ou darem os braços durante as poucas caminhadas ao redor do castelo em que Loki tinha permissão para ir, e até mesmo compartilhar as refeições, o casal de anões sempre fazia questão de ter Jane assistindo a todo esse "amor" compartilhado.

Há algumas semanas que Jane Foster não se juntava mais à realeza para o desjejum ou jantar, e Thor já não aguentava mais fingir que estava apaixonado. E por mais incrível que pareça, Loki era o mais centrado durante as refeições, abstendo-se de qualquer comentário ou brincadeira, e falando apenas quando lhe era solicitado.

Ele parecia apático, sempre parecia apático. Conforme o clima ia esfriando, Loki empalidecia mais, quase como uma flor murcha que sentia saudades do sol quente. Frigga preocupava-se, Odin demonstrava indulgência com relação à quietude do filho adotivo, e Thor fingia não notar absolutamente nada.

"É melhor assim", Edda disse certa vez quando Thor comunicou que Jane não se sentia bem e que não poderia comer com eles por alguns dias, e Loki deu um pequeno sorriso debochado para o marido, pois apesar de a expressão facial de Thor demonstrar o quão descontente ele estava em ouvir aquilo, ele não poderia rebater, afinal Nidavellir foi um dos poucos reinos que apoiou seu casamento e engoliu a repentina mudança de Loki, Thor não gostaria de contrariá-los.

Acima de tudo, as aparências.

Desde então, todas as noites, por volta das onze, Thor se esgueirava até os aposentos de Jane Foster. E todas as madrugadas, antes que o dia clareasse, Thor retornava sorrateiro para os aposentos de Loki, onde esperava sentado até a manhã surgir, e com ela o desjejum. Ele não dormia bem, com receio de ser pego por algum dos anões. A adrenalina não o permitia ter descanso suficiente, e Thor, exaurido e envolto na neblina densa do cansaço, começou a achar que estava sendo punido pelos céus.

Pelo menos a realeza de Nidavellir e seu séquito partiriam finalmente, (finalmente!) partiriam em alguns dias. Então Thor poderia descansar e viver ao lado de Jane a vida tranquila que desejava tanto ultimamente.

Com essas ideias em mente, Thor foi trazido de volta à realidade quando braços delicados o agarraram por trás e um corpo esbelto grudou-se em suas costas. Thor não podia enxergar bem o rosto, pois a luz no cômodo era escassa, mas ele era capaz de reconhecer a voz que lhe sussurrava ao pé do ouvido.

– Ainda acordado a esta hora, marido? – Jane perguntou enquanto escorregava as mãos pelos músculos do loiro, e mesmo estando vestido, Thor podia sentir a frieza das mãos dela através do tecido. Ouvi-la chamá-lo de "marido" não lhe causou nenhuma estranheza, afinal que tipo de relação eles tinham senão a de homem e mulher casados, mesmo que Thor anoitecesse no quarto de Jane e amanhecesse no quarto de Loki, de certa forma, a mortal e ele eram casados.

– Eu não posso dormir – o príncipe murmurou exausto.

– Você precisa relaxar um pouco. Venha, eu ajudarei.

E com isso Thor foi conduzido de volta à cama. Suas costas foram apoiadas em montes de travesseiros, de modo que ficasse quase sentado, enquanto Jane colocava-se entre as pernas do loiro. A mulher inclinou-se sobre ele, engatinhando até alcançar os lábios do príncipe, e Thor cedeu imediatamente, pois jamais negaria um beijo a Jane. Entretanto algo estava errado; os lábios, antes fartos, agora pareciam mais finos, e Thor já tinha beijado Jane muitas vezes para saber a diferença. O loiro encerrou o beijo e encarou Jane na penumbra do quarto, era ela, ele tinha a certeza.

– Algum problema, marido? – Jane perguntou num sussurro, penteando os fios loiros da cabeça de Thor com a ponta dos dedos.

– Nenhum.

Suas mãos eram frias, mas seus lábios eram quentes e convidativos, e Thor recomeçou o beijo, deixando as dúvidas de lado enquanto degustava daqueles lábios viciantes, sugando e mordendo o inferior exatamente como Jane gostava. Jane sorriu em meio à carícia, e Thor achou que sua risada era estranha aos seus ouvidos. Ele abriu os olhos assim que ela terminou o beijo, mas voltou a fechá-los quando ela começou a se balançar em seu colo. Sentada sobre a intimidade coberta de Thor, Jane Foster rebolava devagar, em uma cadência quase hipnótica. Thor abriu os olhos bem a tempo de vê-la sorrir de maneira tão erótica quando ele agarrou seus quadris e começou a ditar os movimentos, mas algo estava diferente, ele só não sabia dizer o que.

Pouco a pouco, Thor sentia-se endurecer dentro das calças, e em poucos instantes seu pênis já estava a meio mastro, o contôrno libidinoso expunha bem seus desejos mais íntimos, e logo os movimentos dos dois tornaram-se mais frenéticos.

E então, Jane parou.

Lentamente, a mulher escorregou de volta ao espaço entre as pernas do loiro, separando as coxas musculosas e começando a desamarrar as calças de Thor.

– Deixe-me ajudá-lo, marido – ela sussurrou sensual, no silêncio do quarto, e Thor sentiu todo o seu corpo arrepiar-se.

Havia algo na palavra "marido" que o excitava, talvez fosse o tom obsceno que impregnava cada letra da palavra quando Jane a pronunciava, ou talvez fosse por que era Ela a dizer tal coisa, naquele momento, Thor não tinha certeza de nada.

O loiro levou a mão até os cabelos sedosos de sua amada, eles pareciam estar mais longos do que se lembrava, mas novamente o loiro deixou as dúvidas de lado para dedicar atenção exclusiva às ações de Jane depois que ela puxou sua calça para baixo, apenas o suficiente para o membro rijo saltar diante dos olhos da mortal. Jane sorriu outra vez, e Thor pensou ter um vislumbre de dentes muito brancos e olhos esmeraldas antes que ela se inclinasse para frente e seu longo cabelo criasse uma cortina tornado suas ações ocultas, enquanto lambia uma longa faixa desde a raiz dourada até a ponta já úmida, então ela agarrou firme as coxas do deus do trovão, raspando as unhas sobre a pele arrepiada, e lambeu a fenda de onde gotas peroladas saiam, depois o engoliu inteiro.

Thor arfou surpreso, e o som baixo que deixou sua garganta lembrava os trovões que antecedem a uma tempestade forte. Jane afastou-se para recuperar o fôlego e repetiu o ato, Thor podia sentir-se tocando a garganta dá mortal e precisou morder o lábio para manter os sons prazerosos que saiam de sua boca discretos, os sons molhados que ecoavam pelo quarto, misturados aos gemidos prazerosos de Jane, já eram eróticos e altos o suficiente.

Jane não gostava que fazer sexo oral, as poucas vezes em que fizeram foram excelentes, mas, sem sombra de dúvida, essa parecia ser a melhor.

Thor começou a mover-se devagar, mas à medida que Jane aumentava as sucções em seu pênis, suas investidas na boca da mulher tornaram-se mais brutas. Jane soltou uma das coxas do loiro e levou a mão até as próprias nádegas, erguendo a camisola e depositando a mão ali. Thor não conseguia ver na escuridão do quarto, mas sabia que ela se tocava apenas pelos sons que a mesma emitia, sons que corriam todo o seu corpo e faziam seus dedos do pé dobrar.

Por fim, Jane desistiu de chupa-lo, masturbando-o com uma mão enquanto fodia-se nos próprios dedos, gemendo audível, um sorriso estampado nos lábios levemente mais finos.

Desta vez, Thor teve a certeza de ter visto outro sorriso, um que não era de Jane. Sua mão ainda estava no cabelo de Jane, e ele a escorregou até que pudesse tocar a mandíbula dela; era mais ossuda nas bordas. Então Thor deixou sua mão cair até o pescoço da mulher, e por fim suas dúvidas foram sanadas quando percebeu quem realmente era a pessoa tocando o seu pênis com tanto fervor.

– Loki… – Thor sussurrou, mas soou mais como um gemido gutural quando Loki massageou a ponta rosada e molhada com os dedos, enquanto apertava sem muito cuidado.

– Sim, marido – Loki respondeu, e naquele instante Thor conseguia enxergar com mais clareza, como se o sol tivesse nascido dentro do quarto, ele via tudo; do colar metálico firmemente preso a seu pescoço, como uma coleira, a camisola branca que na verdade era o próprio vestido de noiva que Loki usou no dia do casamento, meses atrás. Ele também visualizava bem como seu membro estava rijo entre os dedos do marido.

Ele via tudo. E era absolutamente excitante.

Loki cessou os movimentos de ambas as mãos, e Thor, hipnotizado, não fez absolutamente nada para impedi-lo quando o moreno esguio de olhos verdes segurou a barra do vestido com uma mão, levantando-o na parte de trás, e a nádega esquerda com a outra, sentando-se completamente sobre a dureza do Deus do trovão.

O loiro arfou, extasiado ao sentir o calor úmido e tão apertado do marido, a sensação de estar dentro do Deus da travessura era quase divina, e não se comparava a nada que já tivesse sentido.

Loki gemeu alto quando foi completamente empalado, o sorriso ainda estampava sua face, e então ele iniciou os movimentos. Aquilo foi quase demais para Thor, as mãos grandes agarravam com força a cintura magra, provavelmente machucado a pele, e o loiro fechou os olhos, acalmando-se, do contrário gozaria ali mesmo.

Quando abriu os olhos, Loki havia sumido, e em seu campo de visão estava o teto do quarto. Thor estava em sua cama, porém ainda usava calça, e o quarto estava bem claro, provavelmente já tinha amanhecido. Olhando para a esquerda, ele viu Jane, ainda profundamente adormecida, e a camisola que ela usava era preta; o loiro não precisou olhar debaixo dos cobertores para ter noção do tamanho da ereção vazando em sua calça. Atordoado, Thor jogou as cobertas de lado e sentou-se, puxando levemente os cabelos.

O que, em nome de Hella, acabou de acontecer? Por que ele teve tal sonho?

Thor sentiu muitas coisas naquele momento, vergonha foi uma delas. Tudo pareceu tão real… Thor ainda podia sentir o doce aperto fantasmagórico ao redor de seu pênis, e apenas a lembrança excitante do sonho o deixava ruborizado.

Deixando de lado os desejos da carne, Thor tratou de vestir sua capa e botas e sair dali, afinal era dia e ele já deveria estar em outro lugar. Inclinando-se sobre Jane Foster, o loiro deu um beijo de despedida na bochecha rosada e saiu o mais silenciosamente possível do quarto, para não acordá-la.

Andou o mais depressa que conseguiu, tentando não ser notado por ninguém indesejável, entretanto assim que virou uma curva brusca, não muito distante do lugar em que estava, deu de cara com Edda, por pouco não passando por cima dela. A mulher apenas sorriu e lhe desejou um ótimo dia.

– Aonde vai com tanta pressa, vossa alteza? – questionou aquela que lhe causou insônia.

– A nenhum lugar, esta é minha casa, ando por onde achar melhor.

– Certo, certo – Edda respondeu, levantando as mãos pequenas. Thor, percebendo o quão rude havia soado tentou retratar-se com outra pergunta, desta vez mais brando.

– E vossa majestade, onde está indo a essa hora da manhã? Em poucos dias a senhora retorna para Nidavellir e deve descansar bem para a viagem.

– Estou dizendo adeus para este imenso Palácio. Tão grande é que estou me despedindo aos poucos. Sabe, se este terrível inverno não tivesse acometido também meu amado reino, meu marido e eu ficaríamos aqui por mais um ou dois meses – ela comentou sorrindo expectante, e foi necessário muito esforço de Thor para sorrir de volta e responder.

– Nossos aliados serão sempre bem vindos aqui no Palácio dourado – por fim respondeu Thor, curvando-se e seguindo seu caminho.

– Digo o mesmo, alteza. A propósito, vossa alteza deveria trazer o príncipe Loki para essas suas caminhadas matinais, fará bem a apatia dele. Tenho a sensação de que o senhor passa muito mais tempo deste lado do Palácio do que ao lado dele… – Edda falou um pouco mais alto.

Entretanto, quando Thor virou-se para respondê-la, ela já havia desapontado no corredor.

Aborrecido, frustrado e com uma ereção pulsante entre as pernas, Thor marchou até os aposentos de Loki, do outro lado do Palácio. Sorrateiramente, ele entrou no cômodo, a claridade já invadia o quarto, e, aliviado Thor percebeu que Loki ainda dormia. Felizmente, já que depois daquele sonho, Thor não gostaria de encarar a face desperta do marido tão cedo. Retirando a capa e pendurando-a no encosto da poltrona ao lado da cama, a mesma em que Thor sentava-se todas as manhãs depois de escapar da cama de Jane, o loiro andou até as janelas para fechar as cortinas, pois sabia que a claridade excessiva da manhã incomodava seu marido, e foi quando o Deus do trovão percebeu que, de fato, começara a nevar em Asgard.

O inverno havia chegado.

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