cap:07 - Aqueles momentos

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       As coisas que vimos na água, elas que fizeram isso com a cidade? Como assim escavações no subsolo? Quem é esse tal de "F" ?!

      Sentimos que aquele local não era tão deserto assim, então resolvemos sair de lá de dentro da mansão o quanto antes. Saímos do quarto, e fomos em direção as escadas, mas quando coloquei meu pé sob o primeiro degrau, silenciosamente travei minha posição e comecei a me mover de volta pra trás ao fitar um enorme ser diferente de todos os pálidos que vimos até agora. Nos esforçamos para fugirmos despercebidos, mas já era tarde. Com um movimento completamente distorcido de sua cintura e pescoço, balançava seu manto negro. Com a cabeça virada em nossa direção, estalando seus deprimentes e quase fechados olhos, fitava nos com um olhar demoníaco. Seu rosto era derretido e causava angústia, uma angústia tão grande que não conseguíamos nos mover.  Estendeu suas enormes garras cobertas de sangue em nossa direção, deixando a mostra as suas flácidas e gosmentas sobras de gordura de seu braço que tinham um formato que davam a impressão de escorrer para baixo. Sua cabeça tinha um ralo cabelo que balançava lentamente com a brisa que emanava do portão aberto. Tinha deformidades perto de um dos olhos e o formato de seu corpo deixava evidente sua extrema obesidade.

Aquela coisa começou a berrar soltando um grunhido assombroso e agúdo. Ouvimos o som de muitos pálidos se aproximando da mansão e também grunhindo. Assim que recuperamos o movimento,corremos para o quarto do rei o mais rápido que conseguíamos ainda ouvindo os estrondosos passos dos seres cada vez mais perto. Trancamos a porta e desesperados, num branco, em choque, simplesmente não sabíamos o que fazer! Talvez ir pra dentro do armário? Muito óbvio! Pular a janela ? É muito alto, morreremos! Debaixo da cama talvez?! Enquanto eu pensava , Shin já havia posto em prática. Os passos martelavam meu coração e soavam cada vez mais altos e mais próximos de nós. Meu corpo paralisou, meu peito apertou e não consegui pensar em mais nada.

- Kiyoko, vem cá rápido! Achei algo! - Ele gritou querendo que eu visse algo debaixo da cama.

Despertei da paralisia com a frase de Shin, e rapidamente tomei consciência da situação. Segui o que disse, me agachei e vi que havia uma espécie de passagem secreta lá embaixo. Ouvimos passos muito mais próximos à porta, e algo começou a empurra-la com muita força, então notamos que logo ela cederia.

- Me ajuda! - disse Shin , enquanto tentava tirar a cama do lugar.

Empurramos juntos, quando para nossa surpresa a porta se abriu.

- Kiyoko, cuidado! - Shin, atravessou- se em frente do ataque de garras do ser e acabou se ferindo gravemente no meu lugar.

- Shin, que droga ! Vem logo! - Guiada pelo impulso da adrenalina, empurrei-o contra a abertura no chão fazendo com que caísse seja lá onde for que essa passagem desse.

- AAHH! KIYOKO! - gritou enquanto caia.

A cratera obesa de aproximava,me sentia tonta a cada vez que ela dava um passo, minha visão ficou escura e de repente senti-me fortemente agarrada pelo pescoço,abri meus olhos e dei de cara com enormes dentes podres com pedaços de carne deteriorados pendurados e exalando um fedor grotesco de carniça. A criatura começou a grunhir, grunhir tão alto que meus ouvidos doíam intensamente.

- Paraaa! Para com isso, paraaaa! - um ódio repentino tomou-me lentamente.

Estendi meus braços na direção dos olhos daquele monstro nojento. Meus dedos curvaram-se, e então, os senti rasgando sua carne e chegando até seu crânio...

  ***

- Kiyoko!

- Kiyoko, tá tudo bem?! O que aconteceu?!

- Kiyoko, acorda?!

Com os olhos completamente fechados e pesados,me sentia encharcada e o cheiro de carniça ainda estava no meu rosto. Passei as mãos no nariz, na intenção de remover o cheiro, mas só ficava pior. Foi então que notei, que o odor vinha do meu próprio corpo.

Comecei a abrir os olhos e me vi pintada de vermelho assim como Shin, que tentava dizer algo. Percebi que o corte de Shin, era tão profundo quanto pensava, Shin já havia feito amarras para impedir o sangue de continuar a jorrar. Mas, o sangue no meu corpo não era de nenhum de nós. Piscava e tudo parecia em câmera lenta, e a cada piscada visualizava algo:

Pisquei, e estávamos em uma espécie de sala isolada...

Pisquei para a esquerda e vi uma escrivaninha e uma cadeira...

Pisquei para a direita, e haviam diversos quadros com fotos de pessoas e da cidade de Goldhair pendurados...

Pisquei novamente e tudo lentamente voltou ao normal. Olhei para Shin, e comecei a respirar fundo e bem devagar, até voltar totalmente a si.

Minha mente começou a parar no lugar, e então pude ouvi-lo:

- Me diz, o que aconteceu lá encima?! O que é todo esse sangue?!

- Shin... - Levantei tomando cuidado pra não resvalar no sangue. Sentia-me extremamente cansada, com fome e sem energia nenhuma- Eu não sei, mas eu tô com medo! - Não segurei a intensidade da situação e acabei por chorar incontrolavelmente abraçada nele. - Por quê é tão difícil?! Só quero saber o que houve com o mundo! Só quero saber porquê a Sayu morreu! - acabei por soltar essas palavras malditas em uma momento de fraqueza.

-Kiyoko... Do que você tá falando? -Shin, começou a esboçar tristeza, e logo seus olhos encharcam seu rosto avermelhado.

- Shin... Me desculpa esconder de você, mas encontrei as roupas da Sayu naquela caverna maldita! - disse, tentando conter os córregos salgados que se criaram em meus olhos com as mangas de meu casaco.

- I-isso não pode ser sério! Por que você não me contou?! - permaneci chorando em silêncio - Por favor, me conta! - apertava os ferimentos no peito e no abdômen dos quais havia estancado.

- É porquê eu não queria que você desistisse! Você veio até aqui comigo ,por ela! Se acreditasse que ela morreu, você desistiria! - Não suportei a situação e comecei a chorar mais baixo.

- Kiyoko, eu não vim até aqui pra desistir! E mesmo que eu quisesse, não dá mais! Tudo que sei me condena, nem tenho pra onde voltar?! Não tenho pra onde ir! E mesmo que tivesse, eu sei que... Sayu, não tá morta! Eu sei disso, tá me entendendo?! Ela não morreu ! Suas roupas não provam nada!

- Eu acredito em você, Shin...

- Fico feliz que acredite... você é a única pessoa da qual preciso da confiança agora... estamos juntos nessa de vez. - enxugamos as lágrimas, e voltamos a si -Agora, vamos descobrir que lugar é esse, e dar o fora. Mas antes... Você realmente não tem ideia do que aconteceu lá encima?

- Eu não sei o que aconteceu - disse, sem revelar as assustadoras e rasas recordações que tenho daqueles momentos.

                                       ***

Aqueles momentos em que... Meu corpo inteiro se deforma...

Aqueles momentos em que uma ameaça grande ou um ódio incontrolável falam por mim

Aqueles momentos em que não me sinto humana...

Igual aquele momento em que...  dei um fim nos malditos dos meus pais.

 


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