XXII.

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Estou deitada na cama e passeio pelo ecrã do meu aparelho para entreter-me, ensaiando o meu namorado não se junta a mim para dormir.

Eu fico a ponderar nas várias maneiras que ela pode ser destruída. Camile não deverá vencer nesta luta, eu sim, deveria sair ilesa... mas na verdade, ela está apenas a fazer o seu trabalho como eu em tempos estava a fazer.
Se ela tem que ser punida eu também deveria.

Os meus pensamentos atormentam-me e entretanto, nada de Jamie no quarto.
Eu levanto-me e saio à procura da minha cara-metade, quando ouço vozes a saírem de um quarto... do quarto de Camile.
Eu aproximo-me para tentar perceber do que eles estão a falar.

- E lembraste daquela vez que estávamos em Paris e pediste-me para casar contigo - ouço a risada da Camile e de Jamie. Mal ouço a frase a sair daquela boca, o meu estômago enoja-se e sinto a minha barriga a dar voltas. - Éramos uns miúdos idiotas e apaixonados...

- Sim, nós éramos - Jamie completa. Ouço um silêncio e o meu receio que eles possam estar a beijarem-se ou a fazer algo pior, mata-me.

- Agoras as coisas mudaram, já não somos idiotas... - acrescenta Camile. O quê que ela quer dizer? Que ainda estão apaixonados? - Nós... podíamos reacender a chama... - ouço a sua voz cada vez mais a transformar-se num tom mais sedutor e lágrimas estão prestes a cair dos meus olhos. Como é que Jamie ainda está a ouvir o que ela está a dizer? Ele devia ter saído daqui há muito tempo.

Eu não ouço Jamie a responder e parte-me o coração. Era suposto ele dizer que não. Ele não diz nada. Porque que ele não está a dizer nada?

Eu abandono a porta e sigo para o meu quarto e arrumo o resto das minhas coisas para ir-me embora da minha casa. Junto à minha mala, as lágrimas desesperadas que caem do meu rosto e a sua quantidade cai de forma absurda a ponto de já não caber qualquer outra peça de roupa naquele pequeno espaço.

Ouço o ranger da porta e os olhos de Jamie de desespero e medo tomam conta.
- O que estás a fazer? - questiona ele.

- O que deveria ter feito há algum tempo - respondo. Jamie acelera o passo e coloca as suas mãos nas minhas coisas embrulhadas dentro da mala e tira-as de dentro. - Para! Deixa-me em paz!

- Não, não deixo-te em paz! - ele grita comigo - Tu não estás a pensar ir embora outra vez! Não podes fazer isso comigo, é injusto!

- Mas tu dizeres a outras mulheres que ainda estás apaixonado por elas já é justo? - eu vocifero de volta. Eu sinto que o meu coração vai explodir em breve e começo a ficar com falta de ar.

- Yasmin do que estás a falar? Não faz qualquer sentido isso que acabaste de dizer - ele para. Jamie decide apenas me encarar e cruza os braços como maneira de me pedir uma explicação.

- Eu ouvi agora mesmo a tua conversa com a Camile! Porquê que não me disseste nada sobre teres tido um relacionamento com ela?

Observo-o a revirar os olhos - Porque já sabia que irias reagir assim - garante.

- Azar, quero-a fora desta casa! Ela ou eu. Escolhe! - ordeno. Os seus olhos arregalam-se e espero pela sua resposta, com receio, mas espero.

- Não posso fazer isso.

- Eu também não posso continuar a fazer isto - informo. - Da mesma maneira que não querias que eu vivesse com o Brad é a mesma situação que eu estou em relação à Camile! Tens de compreender e escolher!

- Não me faças isso, ela é uma amiga - solta.

- E eu sou a tua namorada! E tu nunca me pediste em casamento a ela já!

- Tu entendeste tudo errado... - ele ri-se.

- Adeus Jamie - levanto a mala e logo a sua cara endireita-se e a sua expressão fica escura. Parece que o seu lado sombrio sobrepõe-se e eu estranho-o.

- Tu não te vais embora - ele agarra na minha mala e tira-a da minha mão!

- Pensas que a roupa é mais importante que a minha paz? Fica com as roupas então e dá ao amor da tua vida - saio disparada pela porta.

Os passos de Jamie correm atrás de mim e consigo ouvir ele a aproximar-se
- Eu quero-te a ti - ele agarra no meu pulso e vira o meu corpo para ele. Ele está a confrontar-me com o seu olhar e eu perco as minhas forças quando ele o faz. - Tu és a única que eu quero, o amor da minha vida!

- Então porquê que eu não acredito em palavra nenhuma que tu dizes? - pergunto de forma retórica.

- Porque não fazes nem ideia que tudo o que senti por ela não chega nem ao que sinto por ti - ele diz - Eu amo-te.

"Eu amo-te" circula na minha cabeça e eu deixo-me ir pelo o que ele diz.

- Se tu ficasses tempo suficiente atrás da porta - ele ri-se - Ouvirias-me a negar o que ela tinha dito. Eu já não tenho qualquer sentimento por aquela mulher, eu prometo!

- Eu... eu acredito - afirmo. Eu acredito totalmente nele, apesar de ter medo, mas eu acredito.

{Maybe the devil wasn't him}Onde histórias criam vida. Descubra agora