XVIII.

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- Ela parece muito agitada - ouço Jamie a falar enquanto ronda a cozinha. Eu ainda estou sentada no chão da cozinha com a minha cabeça enterrada nos meus joelhos e as mãos cobrem a mesma.
Estou desesperada e o meu íntimo lembra-me que o Karma só está apenas a tratar de mim.

- Ela parece apavorada e pediu-me para ligar para ti - ouço silêncio, mas logo é cortado - Estás a pedir-me para que lhe passe o telemóvel? Ela não vai conseguir falar, mas eu tento.

Levanto a minha cabeça e sinto-me mais calma. Estendo a minha mão e alcanço o telemóvel.
- Danielle? - um sussurro sai de mim - Vem me buscar por favor preciso de ti e que me tires desta casa!

Jamie abaixa-se e inclina-se para mim sem entender nada. Eu desligo a chamada e ele continua a encarar-me mas eu não solto nem uma palavra.

- Vais me explicar o que se passa? - ele acaba por se sentar no chão e estuda o meu rosto com uma expressão de curiosidade. - Estás me a preocupar

- Não foi nada, deixa-me! - eu levanto-me rapidamente e corro para o meu quarto, que agora é o mesmo que de Jamie.

Apresso-me a vestir a minha roupa e a mandar a localização da casa do Jamie a Danielle.

Ouço os passos de Jamie apressados e reviro os olhos. Não há nada neste momento que eu precise mais do que paz e sei que Jamie não me vai dar isso.
- Vais me explicar já o que está a acontecer ou não te deixo sair de casa - ele ordena. O seu corpo cola no meu eu o empurro.

- Não me fodas a cabeça já avisei Jamie - grito. Eu tento ao máximo ser desagradável com ele, para que o mesmo se afaste voluntariamente, mas ele não o faz.

- Claro que eu não te vou foder a cabeça, parece que a minha namorada acabou de cometer um crime e eu apenas tenho que ficar sentado e quieto? Fodase - ele passa as suas mãos pelo cabelo e atira o seu corpo para o cadeirão que se encontra no canto do quarto.
- Fala comigo Yasmin... pede-me o que quiseres.

- Não me chames de namorada - peço. Estou de costas para Jamie mas posso imaginar a sua cara destroçada ao ouvir-me falar. - É... é só isso que te peço.

- Eu fiz alguma coisa? - ele questiona. - Porque se eu fiz, peço muita desculpa tu sabes que eu só faço merda e nunca aprendo é só que...

- Não! - grito - Tu és perfeito, tu nunca fazes nada. Já eu? Eu sou a horrível aqui... tu nem imaginas o monstro que eu sou! - eu começo a soluçar e a chorar de novo.

- Eu conheço-te e eu sei exatamente que não és assim - ele ri-se. Ele espera uma reação minha mas eu não ofereço nenhuma.

Recebo uma notificação da Danielle a avisar que chegou. Pego nas minhas coisas e vou a sair do quarto - Se me conhecesses assim tão bem, saberias exatamente do que estou a falar...

E abandono Jamie.

...

- Calma amiga, tudo vai passar - tenta me tranquilizar Danielle. A sua mão passa pela minha perna, esfregando-a e eu encolho-me no banco do carro da mesma. - Eu se pudesse em ajudar-te em algo...

- E podes - sugiro. O meu rosto coberto de lágrimas, a parecer um pimentão, esboça um sorriso vitorioso. - Tu podes entrar no escritório dela e roubar todas as informações que ela tem!

- Achas que eu conseguiria fazer isso? - ela repreende-me. Danielle suspira, levando as suas mãos ao seu rosto e depois encara-me. - Eu vou tentar.

- Danielle eu amo-te! - eu dou um salto dentro do carro dela e atiro-me para o meio dos seus braços, dando o maior abraço que posso. - Se conseguires fazer isso, eu juro que me caso contigo!

- Okay agora vou tentar mesmo - ela finge concentrar-se mais na sua "missão" após a minha proposta - E depois fugimos para onde? Para as Maldivas ou Hawai? Eu quero fugir daquele homem carrancudo com quem eu durmo...

- Nós escapamos para as Maldivas, sim... - eu rio-me junto com Danielle e por segundos paro. Reparo na amizade que nunca tive por medo de confiar em alguém e pondero: como será baixar a minha guarda pela primeira vez e confiar nas pessoas? Com Jamie e com Danielle sendo as únicas pessoas que me restam...

- E se tudo der errado? - eu temo. As minhas palavras saem com medo e envolvem a Danielle também, pelo receio instalado no seu rosto - A minha vida ficará arruinada. A minha lista de o que pode dar certo tem menos itens do que o lado que pode dar errado.

- Nem tudo vai dar, nessa lista do errado e certo, aposto que o Jamie não está no lado errado... - ela sorri.

- Ele pode muito bem virar-se contra mim - eu desabafo.

- Mas tens-me a mim! Alguém que sabe dos teus podres e mesmo assim ainda está aqui - alívio-me com a sua promessa. - Eu sempre vou estar aqui.

{Maybe the devil wasn't him}Onde histórias criam vida. Descubra agora