XXV.

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******JAMIE******
Já é a quinta vez que chamo o seu número e ela não atende. Mando mensagens e ela não me retribui as mesmas. Fico preocupado e irritado comigo mesmo, como é que expulsei-a da minha casa sabendo que ela não tem para onde ir... e não tem por minha culpa.

- Jamie levanta-te da merda desse chão - Camile ainda está a reclamar do fundo do corredor. Escuto os seus passos a acelerarem na minha direção e suspiro como se, soltar o ar, fosse resolver todos os meus problemas. - Eu vou cuidar de ti para amanhã ajudar-te a procurá-la! - garante-me.

Eu levanto o rosto e olho para a sua expressão para certificar-me que ela não está a brincar. Camile estende o seu braço e abre a sua mão e eu retribuo o gesto, ajudando-me assim, a levantar o meu corpo pesado do chão.

- Prometes-me que vais encontrá-la? - faço-a prometer. Vindo de Camile, acho esse gesto um pouco duvidoso, já que há horas atrás ela estava a tentar fazer com que eu voltasse para ela. Eu recusei e pelo o que eu conheço de Camile, ela é demasiado embirrenta para aguentar um 'não'.

Ela não responde. A única resposta é um assentir com a cabeça e coloca o meu braço em torno do seu ombro e carrega-me até ao meu quarto.

- Vira-te de lado - com ambas as mãos, ela ajuda-me a virar o corpo para a ponta da cama - Caso te sintas mal, tens aqui um balde para expulsares as tuas lamentações - brinca. Eu dou-lhe um sorriso como agradecimento mas logo volto à minha cara de sofrimento.

- Camile - chamo num grunhido - Se a Yasmin ligar, diz que eu estou à sua espera... - a minha cabeça começa a andar à roda e tudo o que digo neste momento, parece que faz pouco sentido.

Ela não diz nada, invés disso, ela sorri de forma forçada e sai do meu quarto.

******YASMIN******

Acordo a meio da noite e estranho o ambiente em torno de mim. O cheiro, as paredes, a mobília... tudo parece que me engole num buraco de desespero e a única coisa que me acalma, é o encolher-me em meio dos lençóis. Permaneço fixa e a olhar para o teto e a minha cabeça mal descansada. Ao meu lado, está o meu telemóvel que eu não pego há horas e penso em enviar uma mensagem para Jamie, mas ele provavelmente nunca iria me responder.
Dou voltas ao sofá, até que decido ir ao meu aparelho e distrair-me com algumas apps lá. Para surpresa minha, tenho cinco chamadas não atendidas do Jamie e algumas mensagens desordenadas que eu tento conjugar.
"Eu fui um lixo"

"Eu sei o que sentes por mim e deveria ter me agarrado a isso"

Entre outras. O meu coração salta a ponto de eu senti-lo a sair do meu peito. A minha felicidade invade o meu corpo, todas as minhas veias e percorre pelo meu sangue. Eu decido responder às suas mensagens e certificar-me que ele está acordado.
"Queres que eu vá até aí?"

E desligo o telemóvel com medo da sua resposta. Espero alguns minutos e ele não responde, mas as horas batem as 3 da manhã e sinto que ele já possa estar a descansar e assim, com as suas mensagens, eu descanso a minha cabeça e caio num sono profundo.

...

A casa de Jamie nunca pareceu tão intimidante como está a parecer agora. Eu dou alguns passos para tocar à porta e tento esconder o meu sorriso. Ainda não obtive resposta por parte dele, mas sinto que não preciso. Sinto que ele está pronto para me perdoar e eu perdoo sem qualquer tipo de hesitação.
A porta abre-se e os meus olhos procuram o rosto familiar de Jamie. - Tu...? - Camile olha para mim e revira os olhos.

- Sim, eu! - eu respondo. - Onde está o Jamie? - questiono. Ela está a mexer a sua boca a um ritmo lento enquanto mastiga chiclete e o que me faz irritar ainda mais

- Lá dentro no quarto - ela diz com desdém, apontando para trás de si. Os seus olhos percorrem todo o meu físico e eu simplesmente dou um passo para entrar e ela trava-me com um empurrão - Onde é que pensas que vais?

- Falar como o meu namorado... - respondo com um tom de dúvida na minha voz.
Ouço Jamie atrás de Camile a questionar quem está atrás da porta e Camile ignora-o, fechando a porta na minha cara. Eu bato à porta desta vez e juro que estou prestes ataca-la. Mas desta vez, não é Camile que abre a porta e sim Jamie.
Ele lança-me um sorriso mas logo fica sério...

- Yasmin... não esperava ver-te - ele anuncia. Jamie mexe nos seus cabelos como se estivesse pouco à vontade com algo e eu fecho ligeiramente os olhos em dúvida da situação. Tento perceber a sua reação.

- Não respondes-te às minhas mensagens e pensei que me quisesses ver... - eu lanço um sorriso e os seu rosto ilumina-se mas tal como uma lâmpada, desliga-se após a luz surgir.

- E queria... - ele olha por cima do seu ombro e volta o seu olhar para mim - Mas não acho que seja o certo neste momento.

Eu engulo em seco é uma pontada no meu coração, que há segundos, estava alegre e tento ganhará forças para não as perder e não cair no chão frio da sua porta.

******JAMIE******

Ao cuspir as palavras que mais me custou dizer, observo o seu rosto a perder a cor, o seu corpo a curvar-se e lembro-me que quando acontecia, eu era o único a estar lá para ela. Agora não o posso fazer, sinto que a posso magoar de alguma forma e como eu amo-a tanto, eu deixo-a ir.

- Como assim não é o certo? Faz mais que sentido nós estarmos juntos - eu abano a cabeça dizendo que não e ela cala a sua voz e trinca o seu lábio, talvez como tentativa de travar o seu choro.

Eu levo a minha mão à moldura da porta e Yasmin segue-a com o seu olhar, quando eu vejo a cair uma lágrima.
A minha mão aperta a moldura como forma de colocar a minha frustração para fora. Ela não sabe o quanto eu quero agarra-la neste momento e limpar o seu rosto molhado.
- Eu não confio em ti - eu solto. O seu corpo dá um salto para trás como se as minhas palavras, de alguma forma, tivessem afastado-a e talvez foi exatamente isso que fizeram.

- Tudo bem - ela diz com um tom firme na sua voz. Parece que a sua garganta acabara de se tornar imune à dor e enrijece-se. - Vemo-nos por aí...- ela vira as suas costas para mim e foge para longe de mim.

"Vemo-nos por aí..." nunca mais sairá da minha cabeça. Foi a frase mais amarga que alguma vez ouvi, da pessoa de quem eu menos queria ouvir. A porta é fechada, a mão de Camile está agora no meu campo de visão e empurra a porta com o fim de a trancar. Eu pego no seu pulso e travo-a

- Deixa-me vê-la uma última vez - estremeço e é perceptível na minha voz.

Eu abro de novo a porta e assisto, a cada passo que Yasmin caminha, a ficar minúscula e a abandonar-me. Eu não gosto nada da minha visão, vê-la a sair da minha vida, mas prefiro assisti-la a ir do que não a ver de todo.

- Tinha que ser - garante Camile - Fizeste o que te pedi. Afastaste-a e agora o teu segredo está seguro comigo! - ela deixa-me sozinho naquele enorme corredor, pendurado naquela entrada, enquanto assisto o amor da minha vida a escapar-me pelo meio dos meus dedos... se Yasmin ao menos soubesse que nada do que disse era eu a falar...

- Eu irei trazer-te de volta - faço uma promessa a mim mesmo. - Eu irei trazer-te de volta para mim.

Fecho a porta. E com este fechar de porta, é só mais um pedaço de madeira que nos distancia e que em breve eu acabarei por destruir.

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⏰ Última atualização: Aug 31, 2022 ⏰

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{Maybe the devil wasn't him}Onde histórias criam vida. Descubra agora