VII.

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Enquanto assisto tv, as minhas risadas espalham se por toda a casa.
- Eu já vou - ouço a sua voz a aproximar se quando ele entra na sala de estar - o que vês?

- The office - respondo. Ele põe se a meu lado, mas de pé, enquanto ajeita parte da sua manga, fixado na série e eu apenas o admiro.
Eu cada vez mais começo a sentir algo de diferente, muito diferente do que alguma vez senti, por este homem.

A maneira que ele está vestido e o quão bem o cabelo cai sobre o seu rosto, perfeitamente definido, cria algo em mim inexplicável.
Os seus olhos viram-se para mim e eu dou um sobressalto - Tens a certeza que não queres vir?

- Tenho, não te preocupes. - eu sorrio para ele e ele sorri para mim de volta. Ele passa perto de mim e faz me uma festinha nos meus cabelos. Ele faz o seu caminho até à porta, a ponto de eu parar de ouvir os seus pés baterem fortemente no chão e a porta fechar-se por completo, assim como algo dentro de mim que se fecha, quando ele caminha para longe da minha pessoa.

Ligo para o Daniel e ele no primeiro toque atende.

- Olha quem decidiu dar sinal de vida - ouço a sua voz que parece extremamente irónica

- Daniel, estás bem? - eu certifico-me. Eu não quero que o Daniel pense que eu lhe abandonei no hospital ou algo parecido, então tento ao máximo mostrar a minha preocupação.

- Porque queres saber? - começa o outro lado da linha - Soube que foste ao hospital anunciar ao Brad que te ias embora daqui e mesmo tu sabendo que eu estava mal, tu apenas sacudiste os ombros e fugiste com o teu namoradinho ou lá o que isso é! Tens alguma consideração por mim sequer? - a sua voz está trémula, o que faz estremecer o meu coração e o meu corpo também.

- Não é nada disso - aviso - O Brad distorceu completamente a realidade! Ele empurrou-me e disse coisas muito feias a meu respeito... eu-

- Não! - o Daniel fala com um tom autoritário - Chega das tuas mentirinhas! Desde que conheces esse gajo só pensas nele e em ti, e nele e em ti, quando é que pensas nos outros?

- Mas tu sabes que isso é mentira! Eu sempre me preocupei contigo e sempre prestei atenção em tudo o que se relacionava contigo - ouço um suspiro da parte do Daniel...

- Se tu prestasses mesmo atenção a mim, sabias que eu estou completamente apaixonado por ti desde o dia que nos conhecemos. - mal aquelas palavras caem da boca do Daniel, parece mm bombas de guerra atiradas a mim. Mas acho que nem as bombas têm um impacto tão grande quando atiradas, em comparação com o impacto causado em mim neste momento. - Sabias Yasmin ?

- E-eu não fazia a menor ideia - eu gaguejo.

- Mas estava sempre lá o Brad... e sabes que mais? - AINDA HÁ MAIS?? - Eu parti a perna porque estava a tentar fazer-te um surpresa, sei que fazes anos daqui a duas semanas... mas vais valorizar isso? Claro que não, tu só valorizas tudo o que não te valoriza de volta não é?

As suas frases espetam ainda mais o meu coração. Ele é meu amigo mas nem os amigos que estão feridos, ferem de volta. Pelo menos, não eu.
- Tu nunca mais voltas a falar comigo dessa maneira - eu reclamo - O bom de eu ter saído de vossa casa, é que já não tenho que ver as vossas caras de novo - estou prestes a desligar mas decido acrescentar - Nunca te ocorreu que as vezes nós temos aquilo que merecemos? Espero que melhores da perna.

E desligo.
Como é que por vezes, a pessoa que mais confiamos, pode ser aquela que mais nos magoa?

Com toda esta situação, esqueci me que o clima entre mim e o Jamie estava um pouco tenso. Tudo porque reforcei que nos conhecíamos a 2 dias e talvez ele tenha interpretado mal o que eu realmente quis dizer.

"Apesar dos dias que te conheço serem poucos, sinto que te conheço uma vida inteira :)"

Eu mando uma mensagem deste estilo. Exagerei um pouco, não consigo demonstrar muito os meus sentimentos, então tentei fazer com que ele se sinta bem após aquela discussão, se é que se pode chamar disso.
De facto, é que eu não sou uma pessoa dada a romances. A minha vida sempre foi estudos e mais estudos e agora, estou a colocar o meu trabalho acima de tudo... espero não me perder no meio disto tudo. O Jamie está a despertar um lado meu que eu não conhecia, um lado de querer estar ao lado de alguém... e temo, se o conheço só a dois dias e já sinto este turbilhão de sentimentos, o que acontecerá daqui a 1 mês? Talvez já não esteja mais com ele...

Recebo uma notificação:
" também és bastante especial para mim e só o meu irmão conseguiu esse feito" uau. Que estranho. Conhecer alguém nem há uma semana e já ter esta proximidade... pensei que era impossível mas aqui estamos.

...

Quando dou por mim, levanto-me com um estrondo vindo da porta principal da casa. Logo fico com medo, mas tento me esconder.
Ouço grunhidos estranhos e pego na primeira coisa que me vem à mão: uma garrafa de vinho que estava pousada sob um armário preto.

- Jamie, és tu? - ouço a pessoa do outro lado a grunhir, mas não responde. O meu sangue corre pelas minhas veias e sinto todo o meu corpo a queimar... é agora Yasmin, estás morta! Eu vou morrer...

Quando decido finalmente encarar o intruso, vejo o Jamie encostado à porta, sentado no chão.
- Não me mates - diz ele enquanto bufa e com os olhos semicerramos.

- Fodase caralho - solto - Tu é que me ias matar a mim de susto - eu pouso rapidamente a garrafa de vidro e vou até ele - Anda matulão - digo enquanto os meus braços estão debaixo das suas axilas, tentando levantá-lo.

- senta-te aqui comigo - diz ele no meio de soluços - Quero falar contigo.

- Falas comigo no teu quarto - ele então desiste e levanta se do chão. Ainda meio tonto, ele apoia todo o seu peso em mim, agarrando me por cima dos ombros.

- No meu quarto? Agora interessa me mais - ele fala a sorrir e meio que adormece em espaços curtos de tempo enquanto caminha para a sua cama.

Chegando ao seu quarto eu sento-o na cama. Começo por tirar os seus sapatos, depois as suas calças e a sua tshirt, deixando-o só com os boxers. Eu tento não olhar, mas as vezes, parece mais difícil do que pensava.

Ele olha para mim com um sorriso embriagado e depois olha para o seu corpo e volta a mirar-me:
- Queres? - diz apontando para ele mesmo - Eu quero te a ti - ele agarra nas minhas mãos e puxa me para ele, o que faz o meu corpo cair sobre ele.
Ele afasta as minhas pernas, ficando as mesmas em cada lado da sua cintura, e aperta-as com força.

- Auch - solto.

- Aleijei-te? - ele diz preocupado - Peço desculpa

- Está tudo bem. - eu fico a poucos centímetros da sua boca e sinto que estou prestes a beija-lo. - Eu não posso, estás nesse estado... e podes te arrepender

- Não há nada que eu queria fazer agora que não quisesse fazer sóbrio - Jamie diz perto da minha boca. Tão perto, que sinto o seu bafo quente de álcool a tocar nos meus lábios e a pedir para que o beijasse. - Beija-me Yasmin!

{Maybe the devil wasn't him}Onde histórias criam vida. Descubra agora