Vol 1 - Capítulo 14 - Perguntas

3 0 0
                                    

Era cedo, ou pelo menos era isso que Ágata sabia que seria quando ela acordou. Independente do quão tarde da noite ela fosse dormir na noite anterior ou o quão difícil e perturbado fosse o seu sono, ela sempre acordava, sem falha, às 6 da manhã todos os dias.

Ciclos de treinamento rigoroso culminou em tal disciplina. Antes de seu irmão e de seu pai morrerem, sua rigidez e diligência em continuar treinando e ter tal nível de autodisciplina era vista como um exagero pelo seu pai, e uma necessidade pela sua mãe. Seu irmão sempre encontrava brechas para fazer ela se divertir entre obrigações diárias. Ele tentava ser uma "má influência" para a irmã mais nova, com as melhores das intenções. No entanto, independente das festas para as quais Ônix a levava – e o quão tarde ela fosse dormir por causa disso – seu despertador biológico nunca falhava.

Às 6 da manhã, Ágata despertou de um sono desconfortável e tenso que não repôs totalmente as suas forças. Pelo menos ela não estava mais ferida. Seja o que for que Ágata tenha bebido no dia anterior, curou magicamente seu corpo. E a pessoa responsável por lhe entregar a substância ainda estava desacordada no chão. Uma grande mancha escura se destacava na capa de viagem que cobria Veldra, e cinzas se espalharam pelo chão.

A respiração da mercenária estava controlada e profunda, e a febre de seu corpo havia diminuído consideravelmente. Pela primeira vez em vários dias, a nobre sentiu alívio o suficiente para respirar fundo e perceber um forte ronco do seu estômago vazio.

"Uhhgg... Não acredito que acordei por causa de um ronco." Resmungou o recém-despertado Trinco que, na tentativa de voltar a dormir, cobriu o seu rosto com o lençol ainda meio sujo.

Ágata sentiu vergonha, mas não havia nada a ser feito exceto lidar com o problema na sua raiz. Durante aqueles dias em que ela foi auxiliada pela mercenária, Veldra sempre caçava alguma criatura mágica menor, e a carne serviria de alimento pelo dia. Elas misturavam a carne com mantimentos básicos de suas mochilas, além de água tratada, pequenas frutas seguras para comer, fora raízes e legumes encontrados. A alimentação era bastante limitada, mas conseguiu mantê-las saudáveis por vários dias.

Porém, desde que Veldra ficou gravemente ferida, Ágata não teve oportunidade de caçar o seu próximo jantar nem preparar nada que lhe desse energia substancial para o dia a dia naquela floresta.

Seu estômago roncava alto enquanto ela tentava disfarçar a vermelhidão do seu rosto e convencia o feérico – no momento de péssimo humor – a sair e caçar com ela.

Veldra era quem melhor sabia identificar as criaturas, raízes, frutas e legumes que seriam seguras para ingestão, mas com ela desmaiada, Ágata não ousava clamar que sua caça seria frutífera sem que um guia a ajudasse. Trinco não era muito favorável à ideia de ajudá-la a caçar, clamando que ele mesmo pegaria algo para ele comer. Mas depois que a nobre usou o argumento de uma bela recompensa monetária, ele aceitou ajudá-la.

Acho que, a partir de então, devo ter cuidado com as promessas que faço. Desse jeito, vou torrar as economias da casa Nadran só para pagar mercenários.

E assim, com armas e armadilhas em mãos – e estômagos vazios – Ágata e Trinco deixaram Veldra dormindo no esconderijo subterrâneo e saíram para a superfície, afim de aproveitar aquelas primeiras horas do dia para caçar.

Assim que saíram pela escotilha, o odor desagradável do sangue e entranhas de aberrações mortas invadiu suas narinas. A aberração que Ágata lutou contra na noite anterior jazia morta a alguns metros, provavelmente sucumbida pelos golpes da terceira aberração concorrente. Uma outra estava morta, enrolada nos fios de contenção com sinalizadores. Os nódulos sinalizadores estavam apagados há várias horas, mas os fios de prata perfuraram a pele da fera, imobilizando-a e a deixando vulnerável para qualquer tipo de ataque. Das três aberrações que atacaram na noite passada, duas sucumbiram e a terceira desapareceu.

Entre as cinzas (GL)Onde histórias criam vida. Descubra agora