Ágata mordia seu lábio inferior com tanta força, que ele perdeu sua cor e ficou dormente. O esforço para manter-se em silêncio enquanto os caçadores decidiam o destino do jovem feérico acima delas, era maior do que a nobre antecipara. Ao seu lado, Veldra permanecia imóvel, e ela temia olhar para a mercenária e ver em seu rosto uma expressão acusatória.
Ágata havia mentido para a mulher ao seu lado, clamando que os montadores forasteiros queriam extorqui-la. Agora haviam provas de que eles estavam apenas caçando pelas redondezas como normalmente faziam no dia a dia. Avaliando desta maneira, as duas estariam a salvo se aparecessem perante os caçadores e pedissem para serem levadas à tropa a quem eles servem. Porém, havia o perigo real de que Veldra estivesse na mira dos soldados do império Kateriano. Ágata queria achar uma desculpa para não se revelar aos caçadores, então pelo menos tal risco poderia ser uma justificativa boa o suficiente.
Elas estavam perto de serem salvas por uma tropa e serem poupadas de enfrentarem os charcos sozinhas, porém, sua paranoia sacrificou o jovem feérico que lhe ajudou. Agora, Ágata teria que continuar o caminho pelos charcos sendo guiada por alguém que ela não confiava totalmente – apenas para preservar a possibilidade de "talvez" vencer na competição.
Depois que as conversas cessaram, e os sons dos passos pesados e abafados dos javalis se distanciaram o suficiente para perderem-se ao longe, Veldra soltou um suspiro.
"Essa realmente passou por perto."
Exclamou a mulher, relaxando a sua postura. Ágata sentiu-se confusa perante a sua reação displicente.
Eu menti na cara dura, e ela age assim?
"Eles estavam caçando por aqui, mas tinham outros interesses também. Devem estar realmente atrás de alguém se insistiram tanto em perguntar para o "nanico" sobre quem estava com ele. Você entende a língua das fadas?"
Ágata permaneceu incrédula. Arranjando coragem para olhar de volta à mulher ao seu lado, Ágata reparou que Veldra tinha uma expressão tranquila e relaxada – sua mão procurando o seu velho cachimbo nos bolsos internos de sua camisa semiaberta. A nobre balançou a cabeça negativamente e a mercenária soltou um risinho.
"Ainda bem! Você provavelmente faria uma cara de desgosto se entendesse. Aquele cara tem dicção e vocabulário péssimos. Quase não conseguiu se comunicar. Mas ficou claro que eles queriam tirar informações da fada, pois queriam saber quem mais estava com ele. O carinha é acostumado a guardar segredos e mentir quando convém, então ele cobriu essa por nós. É uma pena que eles não o liberaram. Fazer o quê, né?"
Veldra conseguiu encontrar o seu cachimbo e, após socar um pouco de fumo na boca do instrumento, pegou um fósforo e acendeu-o. Ágata não sabia se sentia alivio pela mercenária não suspeitar da sua mentira, ou desconforto pela frieza com que ela lidava com o sequestro do seu colega.
"Você não se sente culpada?"
Indagou Ágata, observando a mulher colocar uma pequena pedrinha no final de um intricado mecanismo acoplado à rocha que despontava no subsolo. As engrenagens do mecanismo giraram imediatamente, abrindo a escotilha acima delas. Veldra tragou o seu cachimbo e em seguida soltou o ar fumacento pelas narinas, observando a abertura da passagem à frente.
"Sobre o quê?"
Perguntou a patrulheira, os olhos se acostumando com a claridade acima. Ela se virou para descansar suas costas enquanto Ágata a observava – um pouco desconfortável sobre sua displicência.
"O seu sócio foi sequestrado e não fizemos nada para impedir. Não se sente culpada por deixar isso acontecer?"
Veldra ajustou suas costas contra a porta da escotilha ainda abaixada. Ela tomou o seu tempo dando uma longa tragada no seu velho cachimbo. O cheiro ocre daquela fumaça inundava a área ao redor e subia aos céus, para além da sua linha de visão. No dia anterior, os ocorridos fizeram com que a nobre pensasse que nunca mais sentiria aquele cheiro novamente. Agora que voltou a sentir o cheiro do fumo, não sabia se sentia-se irritadiça, ou aliviada a respeito.
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Entre as cinzas (GL)
FantasíaO Charco das dríades, uma das regiões selvagens mais perigosas do mundo, será palco de uma grandiosa competição. A caçada que ocorrerá nos charcos contará com a presença de diversas famílias nobres de todo o império. O objetivo é a captura de uma c...